Você sabe que nosso corpo não é constituído apenas por células humanas?! Existem diversos estudos tentando chegar a uma proporção entre o número de células humanas e células bacterianas que compõem nosso corpo. Enquanto o “senso comum” científico defende que há uma proporção de 1:10 de células microbianas, outros apontam que a proporção é de 1:1,3! Essas células são responsáveis por compor o que é chamado de microbioma humano.
O microbioma humano é o conjunto de bactérias, vírus, fungos e protozoários que compõem nosso organismo. Esse conjunto complexo de microrganismos é variável: nas regiões mais úmidas do corpo há uma maior concentração do que em regiões menos úmidas. Alguns dos gêneros que predominam no microbioma são Neisseria sp. (oral) e Lactobacillus sp. e Enterobacteriaceae sp. (intestino). Esses organismos possuem vital importância para a saúde humana, visto que desempenham papéis biológicos.
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Existem microrganismos em diversas mucosas, como a nasal, oral e vaginal. Também estão amplamente distribuídos na pele e em órgãos, como o intestino. O microbioma intestinal, até agora, se mostra o mais importante em relação ao funcionamento do organismo, já que influenciam no processo de absorção dos alimentos, e ao desenvolvimento de doenças, pois também é considerado o “segundo cérebro”. Tendo isso em vista, diversos estudos vêm relacionando o microbioma intestinal com câncer e desordens neurológicas.
Microbioma intestinal e o câncer, o que têm a ver?
Na última década, diversos trabalhos têm mostrado a ligação entre a perturbação da homeostase do microbioma (chamada de disbiose), principalmente intestinal, com algumas patologias. O câncer é uma dessas patologias, visto que além da presença de certos microrganismos comensais, o microbioma intestinal também é capaz de modular a resposta à imunoterapia do câncer.
Alguns vírus e bactérias já possuem o seu envolvimento no desenvolvimento de câncer confirmado. Por exemplo, Salmonella typhi e Helicobacter spp. estão envolvidas em câncer biliar, enquanto que Helicobacter pylori está relacionada com o câncer gástrico, como adenocarcinoma gástrico e linfoma de MALT (tecido linfóide associado à mucosa). Muitos mecanismos têm sido relacionados à presença desses microrganismos e o desenvolvimento de câncer.
Entretanto, nem todos os estudos apresentam resultados negativos. Muitos trabalhos estão mostrando que o microbioma intestinal pode ser um alvo terapêutico no tratamento do câncer. Algumas metodologias utilizadas são: o transplante de microbiota fecal, a administração de probióticos, regulação da dieta e uso de prebióticos e posbióticos.
Desordens neurológicas e microbioma intestinal
Além do envolvimento no aparecimento e progressão do câncer, o microbioma intestinal também está envolvido em desordens cerebrais. Ansiedade, depressão, epilepsia e desordens do espectro autista já são relacionadas com alterações no microbioma intestinal, como visto em modelos pré-clínicos. Essas alterações são resultado de combinações de fatores, como ambiente pré-natal, dieta e a genética do indivíduo.
Mas como sinais presentes no intestino são capazes de alcançar o cérebro? Através do eixo microbioma intestinal – cérebro há a transdução de sinais a partir de células pertencentes ao sistema nervoso autônomo e sistema nervoso entérico (SNE). O último é constituído por uma intrincada rede de neurônios e células da glia, localizado no trato gastrointestinal. Além de funções como microcirculação, motilidade da musculatura lisa e secreção de células enteroendócrinas, o SNE serve como um portal direto para os sinais microbianos, e também mantém a homeostase dos mesmos.
Dentre os fatores do microbioma intestinal que influenciam nas desordens neuropsiquiátricas, encontra-se a disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). Nessa, há a liberação exacerbada de cortisol após exposição ao estresse. Na doença de Parkinson (PD) também há influências do microbioma intestinal, por exemplo, uma redução da bactéria do gênero Prevotella é encontrada nesses pacientes antes dos sintomas de PD.
Já em relação aos transtornos do espectro autista (TEA), o envolvimento do microbioma intestinal se dá na fase de desenvolvimento após o nascimento. Em pacientes com depressão, há uma redução da diversidade de microrganismos colonizando o intestino quando comparados aos indivíduos saudáveis. Essa relação é tão bem associada que dois modelos animais de indução de depressão são pela administração sistêmica de lipopolissacarídeo bacteriano e altas doses de antibióticos.
Assim como no câncer, a manipulação do microbioma intestinal também auxilia no tratamento das desordens neuropsiquiátricas, como o TEA. Entretanto, nosso microbioma ainda precisa de mais elucidações, por meiode pesquisas, para ser possível a realização de abordagens mais efetivas. Gostou do tema? Leia nossas matérias já publicadas e siga nos acompanhando para mais informações sobre esse tema.