Na série Perfil de Pesquisadores Brasileiros, o Profissão Biotec entrevista renomados cientistas brasileiras. Neste post, conheça o Dr. Vanderlei Bagnato, cuja pesquisa utiliza física para resolver problemas biológicos.

Os brasileiros, de um modo geral, confiam na ciência e nos cientistas, de acordo com  pesquisas de 2015 e de 2019 sobre percepção da sociedade em relação à ciência. Mas são poucos os brasileiros que sabem dizer o nome de um cientista brasileiro e de um instituto de pesquisa tupiniquim. Pensando em ajudar a mudar essa situação, o Profissão Biotec criou o projeto Perfil de Pesquisadores Brasileiros para apresentar pesquisadores que fazem ciência de ponta (e em biotecnologia) em nosso país! Conheça no perfil de hoje o pesquisador Dr. Vanderlei Salvador Bagnato.

Dr. Vanderlei Bagnato – utilizando física para resolver problemas biológicos! Fonte: IFSC/USP

Dr. Vanderlei Bagnato – utilizando física para resolver problemas biológicos!

O Dr. Vanderlei Bagnato é, atualmente, pesquisador e diretor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), além de docente dessa universidade. Sua trajetória científica começou ainda no início de sua educação superior, inspirada em renomados cientistas que fizeram a diferença para o progresso da humanidade. Uma das experiências marcantes de sua vida que o aproximou da ciência foi um trabalho realizado com o próprio pai em um laboratório “a céu aberto”.

Sua pesquisa é voltada para duas áreas, a Física Atômica Molecular, mais ligada à Ciência Básica, e a Biofotônica, já uma ciência mais aplicada, na qual desenvolveu técnicas para tratamento de câncer e controle microbiológico utilizando ação fotodinâmica. É membro da Academia Brasileira de Ciências. O Dr. Vanderlei recebeu em 2019 o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, um reconhecimento a pesquisadores e cientistas brasileiros que venham prestando relevante contribuição à ciência e à tecnologia do país. Além disso, ele ainda realiza atividades de divulgação científica, por ver nesta grande relevância não só para a comunidade científica, como para os cidadãos comuns. 

Confira abaixo a entrevista completa com o Dr. Vanderlei para conhecer a trajetória de sucesso desse pesquisador brasileiro!

Profissão Biotec: Qual é a sua formação acadêmica (graduação, pós-graduação e pós-doc) e cargo atual?

Vanderlei Bagnato: Sou formado em Física pela USPEngenheiro de Materiais pela UFSCar, realizei meu Doutorado nos Estados Unidos (MIT) em 1987. Sempre fui docente da USP, tendo preenchido todos os cargos de uma unidade e atualmente exerço a função de Diretor do IFSC/USP.

PB: Em que profissional se inspirou para seguir essa carreira?

VB: Desde o início da minha educação sempre tive interesse pela carreira científica inspirada na relevância que renomados cientistas tiverem para o progresso da humanidade. Em especial, alguns cientistas que trabalhavam no desenvolvimento de instrumentais matemáticos para lidar com ciências Físicas e Químicas me chamava atenção. Também, devo destacar que no período da educação básica (grupo escolar) e do fundamental (ginásio) sempre recebi estímulos dos professores de um modo em geral.

PB: Qual é seu livro de cabeceira ou filme favorito?

VB: Não tenho um livro específico, mas circulo constantemente antes de dormir com livros que contem a história da ciência, do pensamento humano e de temas históricos em geral. Gosto de filmes que retratam a antiguidade e idade média.

PB: Quais eventos aconteceram na sua vida (mas não aparecem no Lattes) que te levaram aonde está agora?

VB: O fato marcante em minha vida foi participação dos eventos Jovens Cientistas, na década de 1970, inclusive saí numa edição da Revista VEJA desta época. O evento era organizado pelo antigo FUNBEC. Tive ainda, a chance de trabalhar na cromeação do meu pai, que, como todos sabem é um laboratório “a céu aberto”, por se tratar da manipulação de produtos químicos e, fenômenos que estão apenas nos livros textos. Além disso, pude contar com excelentes professores de Matemática, Física e Química. 

PB: Qual é a sua principal área de pesquisa ?

VB: Trabalho investigando a intimidade dos átomos e moléculas. O que acontece no mundo dos átomos tem sido o objeto principal dos meus trabalhos científicos. Não apenas investigo átomos e moléculas isolados, como também, seu comportamento como parte dos tecidos vivos. Ao entender como é essa dinâmica somos inclusive capazes de alterar o rumo de células, como no caso de provocar a morte de células cancerígenas.

No mundo acadêmico eu diria que trabalho com Física Atômica Molecular e com a chamada Biofotônica. Enquanto, a primeira permite adquirir conhecimentos básicos, a segunda permite aplicá-los em benefício do homem.

PB: Por que você escolheu esse tema de pesquisa?

VB: É uma pergunta difícil, mas acredito ter sido pelo fato de ter o desejo de entender os “tijolinhos” fundamentais da natureza (átomos) e, como eles se comportam para promover a vida que observamos. A capacidade interpretar o mundo microscópico a partir de observações do mundo macroscópico tem sempre sido o grande desafio da ciência.

PB: Onde você vê sua pesquisa nos próximos 5 anos?

VB: Nos próximos 5 anos estarei focando e colocando todos os esforços necessários  na área de Física Atômica para o entendimento da chamada Turbulência no Mundo Quântico. É incrível que mesmo num nível onde tudo deveria ser organizado, há grandes desordens que determinam mudanças consideradas nas concepções atuais existentes.

Já nas aplicações da área de Biofotônica, o controle de infecções de todo tipo resistente a antibióticos está sendo o foco principal do meu trabalho.

PB: Como você se sente em relação à ciência brasileira?

VB: Como cientista, não me sinto prejudicado por estar no Brasil, mas lamento que ainda temos um descasamento entre a adoção de políticas e o real valor das conquistas científicas. Como Brasileiro, me incomoda a morosidade com que o sistema lida com feitos científicos e tecnológicos para diminuir as desigualdades e alavancar o desenvolvimento do país. Não sou frustrado e tenho procurado atingir um equilíbrio de realidade pra deixar a minha melhor contribui a sociedade brasileira

PB: Quais dicas você daria a biotecnologistas ainda na graduação?

VB: Em qualquer carreira, e principalmente na Biotecnologia, é necessário estar atento para os problemas que de fato farão a diferença para o avanço na área e, consequentemente, o avanço do país e benefícios à humanidade. Trabalhar em problemas que apenas justifiquem o uso do tempo é na verdade um desperdício de recursos, talentos e ações científicas. Ser treinado para enfrentar desafios, mesmo com riscos de insucesso, é a principal força motriz da ciência. O medo do fracasso é o primeiro passo pra insucesso permanente – “Aprender a administrar o fracasso é a principal receita para o sucesso”.

PB: Quais as dificuldades de fazer pesquisa no Brasil?

VB: Na verdade, fazer pesquisa no Brasil é mais desafiador que em países com sistemas de ciência e Tecnologia mais estabelecidos. Aqui, temos que enfrentar a confiabilidade de quem nos financia, convencer a sociedade da sua relevância e demonstrar ao mundo a sua importância. Na verdade, para um verdadeiro cientista é ainda mais motivador trabalhar nessas condições do que em situações de máximo conforto.  Em alguns momentos, ficamos irritados com tal situação, mas no final da jornada haverá um gosto especial. 

PB: Você realiza atividades de extensão ou divulgação científica? Quais?

VB: Realizo muita divulgação de ciência por acreditar que a sociedade julgará aquilo que conhece. Para o cidadão comum, receber notícias dos feitos científicos e da sua relevância o torna mais apto a compartilhar a necessidade de se investir em ciência para criar uma sociedade melhor, e não vice-versa. Além disso, acredito que uma pessoa que saiba, entenda a ciência e fenômenos básicos que ocorrem ao seu redor, terá uma mente preparada para os desafios que a sociedade moderna apresenta. O conhecimento é o maior tesouro do homem e o único elemento que limito ser manipulado por terceiros. “Ciência é um bem que deve ser de direto a todos”.


Para conhecer mais sobre a nossa ciência, continue acompanhando o quadro “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” do Profissão Biotec! Confira também os infográficos desse quadro e mande para seus amigos! Ah, acompanhe nossas redes sociais para não perder nenhuma entrevista! Facebook / LinkedIn / Instagram.

Entrevista realizada por:

Projeto “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” realizado por Bruna Lopes e Priscila Esteves de Faria e coordenado por Natália Bernardi Videira

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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