Nesta entrevista da série Perfil de Pesquisadores Brasileiros: Dr. Alex de Almeida, professor da UFT. A importância da tecnologia enzimática: buscando novas moléculas biológicas para diferentes aplicações.

Os brasileiros, de um modo geral, confiam na ciência e nos cientistas, de acordo com  pesquisas de 2015 e de 2019 sobre percepção da sociedade em relação à ciência. Mas são poucos os brasileiros que sabem dizer o nome de um cientista brasileiro e de um instituto de pesquisa tupiniquim. Pensando em ajudar a mudar essa situação, o Profissão Biotec criou o projeto Perfil de Pesquisadores Brasileiros para apresentar pesquisadores que fazem ciência de ponta (e em biotecnologia) em nosso país! Conheça no perfil de hoje  o pesquisador Dr. Alex Fernando de Almeida.

Imagem cedida pelo entrevistado.

Dr. Alex Fernando de Almeida – A importância da tecnologia enzimática: buscando novas moléculas biológicas para diferentes aplicações

 Dr. Alex Fernando de Almeida é graduado em Ciências Biológicas (Uniararas), com mestrado e doutorado em Microbiologia Aplicada (UNESP). Atualmente é docente do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Suas pesquisas, na área de tecnologia enzimática, buscam isolar microrganismos (fungos, leveduras e bactérias) para encontrar moléculas biológicas que possam ser úteis para indústria de cosméticos, farmacêutica e alimentos, entre outras. É Coordenador Executivo da Habite – Incubadora de Empresas de Biotecnologia da UFT e também participa do projeto de divulgação científica  “Letramento Científico”, voltado para crianças.

Confira abaixo a entrevista completa com o Dr. Alex  para conhecer a trajetória de sucesso desse pesquisador brasileiro!

PROFISSÃO BIOTEC: QUAL É A SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA (GRADUAÇÃO, PÓS-GRADUAÇÃO E PÓS-DOC) E CARGO ATUAL?

Alex Fernando de Almeida: Graduação em Ciências Biológicas. Mestrado e Doutorado em Microbiologia Aplicada. Atualmente coordeno o Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos e a Habite – Incubadora de Empresas de Biotecnologia da UFT. 

Informação retirada do currículo Lattes: 
Coordenador do Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos (início 11/2016)
Membro do comitê interno do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC-CNPq/UFT (início 05/2014).
Membro do Núcleo Docente Estruturante do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia (início 05/2015). 
Membro do Projeto de Ação, Desenvolvimento e Inovação INOVAGURUPI (início 2015). Membro do Conselho Municipal de Ciências, Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo de Gurupi-TO (início 11/2018). 
Coordenador Executivo da Habite – Incubadora de Empresas de Biotecnologia da UFT (início 11/2018). 
Coordenador do Laboratório de Biotecnologia, Análise de Alimentos e Produtos – LABAP – divisão Análises Microbiológicas (início 11/2018).

PB: EM QUE PROFISSIONAL SE INSPIROU PARA SEGUIR ESSA CARREIRA?

AFA: Minha inspiração para seguir a carreira se baseou nos meus orientadores na graduação, que me mostraram a beleza da pesquisa científica e do ensinar e transmitir o conhecimento. Na pós-graduação tive a grata satisfação de ter orientadoras que me direcionaram para o mercado de trabalho e para a carreira docente.

PB: QUAL É SEU LIVRO DE CABECEIRA OU SÉRIE FAVORITa?

AFA: Meu livro de cabeceira é a Bíblia. As leituras noturnas são para mim uma fonte de relaxamento, entendimento e discernimento da carga de trabalho. Não tenho uma série preferida, mas gosto muito das séries de investigação científica ou criminal.

PB: QUAIS EVENTOS ACONTECERAM NA SUA VIDA (MAS NÃO APARECEM NO LATTES) QUE TE LEVARAM AONDE ESTÁ AGORA?

AFA: Após a formatura me deparei com o desemprego no primeiro ano. Nesse período uma diretora da escola pública onde havia estudado na cidade dos meus pais (Conchal-SP) me encorajou e abriu a oportunidade para começar a lecionar no ensino fundamental e médio como professor substituto. Foi um período de muito desafio devido à timidez. Três anos depois ingressei no mestrado e, após ter concluído o doutorado, me deparei novamente com o desemprego. Nesse momento, a mesma diretora me acolheu novamente para ministrar aulas no ensino médio. Durante vários questionamentos e incertezas na carreira, um amigo deixou uma mensagem muito importante: deixe a torneira pingar para que ela possa jorrar. Cinco meses depois estava tomando posse na Universidade Federal do Tocantins como docente do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia. Com isso minha noiva, numa atitude muito corajosa, pediu demissão do trabalho para organizar nosso casamento e mudar de Campinas para o interior do Tocantins.

PB: QUAL É A SUA PRINCIPAL ÁREA DE PESQUISA ?

AFA: Trabalhamos com o isolamento de micro-organismos (fungos, leveduras e bactérias) de diversos ambientes naturais e industriais, com o objetivo de encontrar potenciais produtores de moléculas biológicas que possuem importância para melhorar processamento de alimentos, tratamentos de efluentes e também para a produção de novas moléculas. Essa área é conhecida como de bioprocessos ou tecnologia microbiana ou tecnologia enzimática. Vários produtos que consumimos e utilizamos diariamente possuem essas moléculas, como detergentes, sabão em pó, pães, cosméticos, medicamentos, e também são utilizadas na produção de bebidas como cervejas, vinhos, sucos, na produção de queijos, entre vários outros produtos.

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Etapas da pesquisa desenvolvida pelo Dr Alex Almeida. Imagem cedida pelo entrevistado.

PB: POR QUE VOCÊ ESCOLHEU ESSE TEMA DE PESQUISA?

AFA: As linhas de pesquisa processos microbiológicos e processos enzimáticos foram entrando progressivamente na minha carreira. Na graduação, trabalhei com o isolamento de bactérias fixadoras de nitrogênio de raízes de plantas do cerrado e fungos micorrízicos. Nesse período, tive o primeiro contato com a microbiologia embora o foco do meu trabalho era analisar o crescimento e sobrevivência de plantas do cerrado em solos de mineração. Durante o mestrado iniciei um trabalho sobre produção de ômega 3 por fungos filamentosos que despertou o interesse pela área de biotecnologia. No doutorado, conduzi o trabalho sobre a produção, purificação e caracterização de lipase microbiana. Durante esse período pude contribuir com vários outros trabalhos relacionados à enzimologia que hoje fazer parte da minha linha de pesquisa. O tema da pesquisa está em constante atualização e hoje estamos introduzindo a temática de explorar o potencial biotecnológico de microrganismos autóctones de frutos da Amazônia com foco em algumas enzimas, potencial antioxidante, vitaminas, atividade antimicrobiana e propriedades probióticas. 

Não-oficial: após a graduação tentei fazer a pós-graduação em Microbiologia do solo, na Esalq-USP, em Piracicaba. O objetivo era continuar o trabalho que estava desenvolvendo na graduação. Porém, devido a formação em Ciências Biológicas tive minha inscrição rejeitada e não foi possível ingressar no Programa que tinha preferência por Engenheiros Agrônomos (informação pessoal da secretaria do PPG). Com isso, meu orientador me perguntou se não me interessaria por tentar o mestrado em Microbiologia Aplicada na Unesp, com a Dra. Sâmia Maria Tauk-Tornisielo.

Em entrevista com a Dra. Sâmia apresentei minha proposta de trabalho na área de fungos micorrízicos e rizóbios, no que aceitou prontamente em me orientar com o projeto apresentado. Após prestar a seleção e ingressar no mestrado, minha orientadora informou que não iria desenvolver o projeto que havia apresentado, mas que tinha um projeto sobre a produção de ácidos graxos insaturados por fungos filamentosos. Como não tive muita opção de escolha abracei o projeto e comecei a me aprofundar no tema. As leituras de artigos científicos e aplicações cotidianas dos ômegas 3 e 6 me despertaram o interesse pela biotecnologia. As leituras me direcionaram para a enzimologia,o que levou ao desenvolvimento do doutorado na temática com lipases microbianas.

Quando ingressei na UFT, o potencial do Estado para o uso de biomassa da agroindústria me despertou o interesse em continuar com a aplicação dos processos microbiológicos e enzimáticos como forma de aproveitamento e transformação dos resíduos agroindustriais em commodities microbianas.

PB: ONDE VOCÊ VÊ SUA PESQUISA NOS PRÓXIMOS 5 ANOS?

AFA: Nos próximos 5 anos esperamos que a pesquisa e o laboratório estejam aptos para a prestação de serviços para a comunidade. O laboratório que coordeno (Laboratório de Biotecnologia, Análise de Alimentos e Produtos) tem como objetivo desenvolver pesquisas para o aproveitamento de resíduos agroindustriais, mas também realizar análises microbiológicas e físico-químicas de alimentos de origem vegetal e animal e de matérias primas. A publicação de artigos científicos desenvolvidos pelos discentes credenciados no laboratório tende cada vez mais à internacionalização.

PB: COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO À CIÊNCIA BRASILEIRA?

AFA: As políticas públicas não têm incentivado a continuidade das pesquisas de base que são de extrema importância para as instituições, como a UFT, que se encontra na Amazônia Legal. A diversidade microbiana nesse ambiente ainda é pouco explorada no que se diz respeito às populações de micro-organismos presentes nas plantas, nos frutos e entre vários outros locais ainda inexplorados. Com isso, a tendência é voltar para as parcerias com o setor privado para o desenvolvimento de pesquisas que atendam as necessidades de indústrias por meio de projetos de acordos bilaterais entre universidades e empresas. 

PB: QUAIS DICAS VOCÊ DARIA A BIOTECNOLOGISTAS AINDA NA GRADUAÇÃO?

AFA: Aproveite o período da graduação para explorar todas as áreas da biotecnologia, passando por laboratórios de pesquisa da instituição e, nos períodos de férias, buscando estágios em indústrias da área. É muito importante que o aluno tenha o contato com os dois mundos da área de biotecnologia que andam paralelos, mas em ritmos diferentes. A indústria tem pressa em colocar um produto no mercado e ter a exclusividade. Na universidade, as pesquisas são mais demoradas e dependem de recursos para pesquisas e a formação é voltada para a docência. Então, o aluno precisa saber se tem vocação para a academia ou para o setor industrial.

PB: QUAIS AS DIFICULDADES DE FAZER PESQUISA NO BRASIL?

AFA: Entre as principais dificuldades em se fazer pesquisa no Brasil estão a falta de recurso financeiro, a manutenção de equipamentos de alta complexidade, o deslocamento de alunos da região Norte para outras localidades do país. Outro ponto a ser tocado, e de extrema importância: o pesquisador no Brasil é em primeiro lugar docente de cursos de graduação e ocupa cargos administrativos nas universidades. Com isso, a falta de recursos para que os laboratórios tenham técnicos especializados na área de atuação do laboratório para auxiliar nas pesquisas fazem com que os resultados demorem tempo excessivo para serem alcançados. Atualmente, dificilmente encontramos artigos publicados por apenas um líder de laboratório ou por dois autores que trabalharam integralmente para a execução de determinada pesquisa.

PB: VOCÊ REALIZA ATIVIDADES DE EXTENSÃO OU DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA? QUAIS?

AFA: Temos um projeto em conjunto com a Prefeitura Municipal de Gurupi (Inova Gurupi) chamado “Letramento Científico”, que tem como objetivo apresentar para alunos do ensino fundamental (até o quinto ano) a ciência de forma descontraída e mostrar como utilizamos diariamente a ciência. Uma outra extensão do projeto é desenvolver o empreendedorismo nestes alunos por meio de desenvolvimento de produtos simples, como temperos naturais, marketing e gerenciamento.


Para conhecer mais sobre a nossa ciência, continue acompanhando o quadro “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” do Profissão Biotec! Confira também os infográficos desse quadro e mande para seus amigos! Ah, acompanhe nossas redes sociais para não perder nenhuma entrevista! Facebook / LinkedIn / Instagram.

Entrevista realizada por:

Projeto “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” realizado por Bruna Lopes e Priscila Esteves de Faria e coordenado por Natália Bernardi Videira


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Dayana Ferraz Silva
Dayana Ferraz Silva
4 anos atrás

Inspiração principalmente na questão da perseverança depois das quantidades de NÃO

Denise Leticia Martins
Denise Leticia Martins
4 anos atrás

Excelente matéria, sou estudante de graduação do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na UERGS, o campus de Porto Alegre enfrenta um desafio para conseguir uma sede com laboratório. É motivador conhecer esses pesquisadores brasileiros, os seus projetos; e um pouco das suas histórias de vida, parabéns.

Denise Leticia Martins
Denise Leticia Martins
4 anos atrás

Excelente matéria, sou estudante do curso de graduação de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na UERGS, o campus de Porto Alegre enfrenta um desafio para conseguir um laboratório para a sede. É inspirador conhecer os pesquisadores brasileiros, seus projetos; e um pouco das suas histórias de vida. Parabéns!

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