Com a ocorrência da pandemia de COVID-19, fomos bombardeados de informações com as quais não tínhamos muito contato, em alguns casos, de difícil compreensão. No entanto, esse grande volume de conhecimento ajudou a termos mais contato com algumas técnicas frequentemente utilizadas em ambiente laboratorial para diagnóstico e/ou pesquisa. Uma dessas técnicas foi o ensaio de ELISA, sigla do inglês Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ensaio de imunoabsorção enzimática). 

O teste de ELISA

O teste de ELISA foi desenvolvido em 1971 por Eva Engvall e Peter Perlman em lugares distintos, pois os princípios da técnica já existiam. Ele foi criado como uma alternativa ao radioimunoensaio (RIA), pois esse é um teste potencialmente perigoso à saúde dos pesquisadores. No entanto, até o ELISA ser desenvolvido, não havia outro tipo de ensaio com propriedades similares que pudessem substituir o RIA. O RIA é um ensaio que se baseia na interação entre antígeno-anticorpo para quantificar a presença de antígenos no soro (por exemplo hormônios e insulina), com alta fidelidade, utilizando radioisótopos (isótopos emissores de radiação).

O ELISA é um método de análise colorimétrica quantitativa que tem como estratégia base o reconhecimento e a interação antígeno-anticorpo. A quantificação se dá pela geração de cor que varia de acordo com a intensidade da reação. O teste de ELISA é muito utilizado e conhecido por possuir níveis altos de especificidade para antígenos ou anticorpos. No entanto, quando se fala sobre “o método de ELISA” a referência é um teste imunoenzimático baseado na interação entre antígeno e anticorpo e não um único tipo de teste, pois existem diferentes tipos de ELISAs.

Etapas do teste

Os diversos tipos de testes de ELISA possuem algumas etapas em comum, mesmo sendo teste diferentes, são elas: 

(1) a sensibilização na qual é adicionado o antígeno ou anticorpo para que esse seja aderido à placa;

(2) a incubação com a amostra teste;

(3) a incubação com antígeno ou anticorpo complexado à enzima;

(4) a incubação com solução reveladora (o substrato que vai interagir com a enzima);

(5) a adição da solução de parada; e,

(6) a leitura em espectrofotômetro.

Entre as etapas de 1 a 4, ao final de cada uma delas, é realizada a lavagem da placa para que sejam eliminadas moléculas que não se ligaram.

Nos testes de ELISA, uma das etapas mais importantes é a lavagem. Essa é realizada entre as incubações para que sejam removidos os excessos de antígenos ou anticorpos não ligados. Essa etapa é importante e deve-se dar muita atenção, pois caso seja ineficiente, o resultado do teste poderá ser comprometido. A lavagem é realizada ao final de cada incubação.

Para obter-se a quantificação no teste a presença de uma enzima e um substrato são necessárias, pois a interação entre eles será a responsável por gerar a coloração. Quanto maior a presença da enzima, mais intensa será a coloração gerada. Para parar essa reação é necessário adicionar uma solução de parada e seguir imediatamente para avaliação em aparelho específico para avaliação da intensidade da coloração (espectrofotômetro).

Tipos de ELISA

O princípio de técnica de ELISA (interação antígeno-anticorpo) já era conhecido antes da criação do método. Existem 4 tipos principais de ELISA, sendo esses:

Ilustração de cada um dos tipos de ELISA citados
Essa imagem ilustra cada um dos tipos de ELISA citados. Da esquerda para a direita: no ELISA direto é possível observar a presença apenas do antígeno testado e o anticorpo (primário) com enzima. No ELISA indireto, no entanto, estão presentes o antígeno, o anticorpo primário, que reconhece o antígeno, e o  anticorpo secundário complexado à enzima, que se liga ao primeiro anticorpo.  No ELISA sanduíche observamos a presença do antígeno entre dois anticorpos: o de captura, ligado ao poço, e o anticorpo primário, o segundo anticorpo (“topo do sanduíche”) pode conter a enzima ou será necessária a adição um anticorpo secundário com a enzima. No ELISA de competição há a presença de anticorpos com e sem enzima e ambos são capazes de se ligar ao antígeno, sendo que, aquele que se liga mais será o anticorpo mais presente no meio (o que estiver mais concentrado). #ParaTodosVerem Imagem de fundo branco contendo representação dos quatro tipos de ELISA citados anteriormente. Há a presença de esfera azul, indicando o antígeno; a esfera verde representa a enzima; os anticorpos são representados por “Y” invertidos: amarelo é o anticorpo primário, azul é o anticorpo secundário roxo é o anticorpo de captura. Quando o substrato – esfera com espinhos azul clara – interage com a enzima, a coloração da reação é gerada. Fonte: Pensabio

O ELISA pode ser utilizado para testar diferentes tipos de amostras e para escolher o melhor tipo a se usar deve-se levar em consideração fatores como qual molécula se quer avaliar e o que pode ser analisado na amostra. Um exemplo de uso do teste de ELISA é a pesquisa sorológica de anticorpos contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV). O ELISA também é um dos métodos utilizados para detectar a infecção por SARS-CoV-2.

Como se pode notar, os usos do ELISA são diversos e bastante presentes na rotina clínica. Esse método, desenvolvido em 1971, é até hoje muito importante para o diagnóstico. Sendo assim, quando falamos de ELISA não estamos falando de um teste específico, mas uma forma específica de se realizar um teste.

perfil Natalia Lopes
Texto revisado por Darling Lourenço e Ísis V. Ísis V. Biembengut

Cite este artigo:
LOPES, N. R. Quando falamos de ELISA: é um teste específico? Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/quando-falamos-de-elisa-e-um-teste-especifico/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9. ed. [s.l.] Elsevier Editora Ltda., 2019.
AYDIN, S. A short history, principles, and types of ELISA, and our laboratory experience with peptide/protein analyses using ELISA. Peptides, v. 72, p. 4–15, out. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.peptides.2015.04.012.
OLSEN, C. The history of ELISA from creation to COVID-19 research. Molecular devices. 14 dez. 2020. Disponível em: <https://www.moleculardevices.com/lab-notes/microplate-readers/the-history-of-elisa>. Acesso em: Maio 2022.
SWANSON, W.; STAASTAD, F. V.; GRIFFITH, T. S.. ELISA Assays: Indirect, Sandwich, and Competitive. JoVE Science Education, Cambridge, MA, (2022). Disponível em: <https://www.jove.com/v/10496/elisa-assays-indirect-sandwich-and-competitive>. Acesso em: Jun 2022.
Fonte da imagem destacada: Canva.

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