As 10 melhores descobertas ao acaso da história da biotecnologia – Parte II

descobertas

Gostaram da primeira parte do nosso top 10 de descobertas biotecnológicas ao acaso? Confiram abaixo as 5 primeiras na opinião do autor!

5 – Viagra

A milagrosa pílula azul surgiu por acaso, quando a empresa americana Pfizer pesquisava um novo medicamento para tratar a angina, uma doença cardíaca. Durante os testes da droga, em 1994, os pesquisadores Nicholas Terrett e Peter Ellis, funcionários da Pfizer, descobriram que um de seus efeitos colaterais era o aumento da irrigação sangüínea no pênis, a partir da potencialização do óxido nítrico.

Os ingleses Peter Dunn e Albert Wood conseguiram sintetizar o composto numa pílula, aprovada pelo FDA (o órgão que regulamenta fármacos nos EUA), em 1998, como o primeiro remédio contra a impotência.

No mesmo ano, os americanos Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad dividiram o Nobel de medicina por seu trabalho com o óxido nítrico, sem o qual seria impossível a criação do Viagra.(6)

Uma das pílulas mais famosas do mundo. Fonte: Compare ED Pills adaptado

4 – Café

Conhecido por fazer começar bem o dia das pessoas, o café, a bebida mais consumida do planeta, não pode ficar de fora dessa lista.

Não há evidência real sobre a descoberta do café, mas há muitas lendas que relatam sua possível origem.

Uma das mais aceitas e divulgadas é a do pastor Kaldi, que viveu na Absínia, hoje Etiópia, há cerca de mil anos. Ela conta que Kaldi, observando suas cabras, notou que elas ficavam alegres e saltitantes e que esta energia extra se evidenciava sempre que mastigavam os frutos de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos existentes em alguns campos de pastoreio.

O pastor notou que as frutas eram fonte de alegria e motivação, e, somente com a ajuda delas, o rebanho conseguia caminhar por vários quilômetros por subidas infindáveis.

Kaldi comentou sobre o comportamento dos animais a um monge da região, que decidiu experimentar o poder dos frutos. O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério. Ele começou a utilizar os frutos na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto orava ou em suas longas horas de leitura do breviário. Esta descoberta se espalhou rapidamente entre os monastérios, criando uma demanda pela bebida. As evidências mostram que o café foi cultivado pela primeira vez em monastérios islâmicos no Yemen.(7)

A bebida mais famosa do mundo. Fonte: ABIC

3 – Aspirina

Conhecido por ser o medicamento mais famoso e utilizado no mundo, a aspirina tem uma origem bem antiga.

No século V a.C., Hipócrates, médico grego e pai da medicina científica, escreveu que o pó ácido da casca do salgueiro ou chorão (que contém salicilatos mas é potencialmente tóxico) aliviava dores e diminuía a febre. Este remédio também é mencionado em textos das civilizações antigas do Médio Oriente, Suméria, Egito e Assíria.

Os nativos americanos usavam-no também para dores de cabeça, febre, reumatismo e tremores. O reverendo Edmund Stone, de Chipping Norton no condado de Oxford, Reino Unido, redescobriu em 1763 as propriedades antipiréticas da casca do Salgueiro e as descreveu de forma científica.

O princípio ativo da casca, a salicina ou ácido salicílico (do nome latino do salgueiro, Salix alba) foi isolado na sua forma cristalina, em 1828, pelo farmacêutico francês Henri Leroux, e Raffaele Piria, químico italiano.

Em 1897, o laboratório farmacêutico alemão Bayer conjugou quimicamente o ácido salicílico com acetato, criando o ácido acetilsalicílico (Aspirina), que descobriram ser menos tóxico. O ácido acetilsalicílico foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia, ou seja, não ser encontrado na sua forma final na natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica e o primeiro fármaco vendido em tabletes.

Em julho de 1899, a Bayer começou a comercializar a aspirina, obtendo sucesso imediato. A Bayer perdeu a marca registrada Aspirina em muitos países após a Primeira Guerra Mundial, como reparação de guerra aos países Aliados.

John Vane, do Royal College of Surgeons, demonstrou pela primeira vez o mecanismo de ação do ácido acetilsalicílico em Londres em 1971. Ele viria a receber o Prêmio Nobel da Medicina e Fisiologia pela sua descoberta em 1982.(8)

Salgueiro ou chorão, fonte da base química para criação da aspirina. Fonte: Wikipedia adaptado

2 – Insulina

Insulina é o hormônio responsável pela redução da glicemia (taxa de glicose no sangue), ao promover o ingresso de glicose nas células. Esta é também essencial no consumo de carboidratos, na síntese de proteínas e no armazenamento de lipídios (gorduras).

Em 1869, Paul Langerhans, um estudante de medicina em Berlim, estudava a estrutura do pâncreas através de um microscópio quando reparou em células antes desconhecidas espalhadas pelo tecido exócrino. A função da “pequena porção de células”, mais tarde denominada como ilhotas de Langerhans, era desconhecida, mas Edouard Laguesse posteriormente sugeriu que tais células poderiam produzir algum tipo de secreção que participasse no processo de digestão.

Em 1889, o médico polonês Oscar Minkowski, em colaboração com Joseph von Mehring, removeu o pâncreas de um cão saudável para demonstrar o papel do órgão na digestão de alimentos. Vários dias após a remoção do pâncreas, o guarda do cão reparou que existiam muitas moscas a alimentarem-se da urina do animal. Verificou-se, testando a urina do cão, que continha açúcar, o que demonstrou, pela primeira vez, a relação entre o pâncreas e a diabetes.

Em 1901, outro passo importante foi alcançado por Eugene Opie, quando este estabeleceu claramente a ligação entre as ilhotas de Langerhans e a diabetes.(9)

Estrutura molecular da Insulina e vidro da mesma. Fonte: Research Gate

1 – Penicilina

O primeiro lugar fica com a penicilina  por ter salvo milhares de vidas de soldados dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.

A penicilina é um antibiótico natural derivado do bolor produzido pelo fungo Penicillium chrysogenum.

A penicilina foi descoberta por Alexander Fleming em 1928, quando saiu de férias e esqueceu algumas placas com culturas de micro-organismos em seu laboratório no Hospital St. Mary em Londres. Quando voltou, reparou que uma das suas culturas de Staphylococcus tinha sido contaminada por um bolor, e que, em volta das colônias, deste não havia mais bactérias. Então, Fleming e seu colega, Dr. Pryce, descobriram um fungo do gênero Penicillium, e demonstraram que o fungo produzia uma substância responsável pelo efeito bactericida: a penicilina.

Esta foi obtida em forma purificada por Howard Florey, Ernst Chain e Norman Heatley, da Universidade de Oxford, muitos anos depois, em 1940. Eles comprovaram as suas qualidades antibióticas em ratos infectados, assim como a sua não-toxicidade.

Em 1941, os seus efeitos foram demonstrados em humanos. O primeiro homem a ser tratado com penicilina foi um agente da polícia que sofria de septicemia com abcessos disseminados, uma condição geralmente fatal na época. Ele melhorou bastante após a administração do fármaco, mas veio a falecer quando as reservas iniciais de penicilina se esgotaram. Em 1945, Fleming, Florey e Chain receberam o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina por este trabalho.(10)

Alexander Fleming,

Alexander Fleming, o pai da penicilina. Fonte: Temas e Noticias

Portanto, lembre-se: descobertas ao acaso existem e fazem parte da História da Ciência, mas o que nunca muda é o fator curiosidade e observação dos cientistas, principalmente o serendipismo (tradução da palavra do inglês serendipity), quando se está procurando algo e se encontra por surpresa algo mais interessante e valioso, como mostrado na história da penicilina e do champanhe.

E você já descobriu algo ao acaso ?

O acaso só favorece as mentes preparadas” – Louis Pasteur

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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