No momento atual, nosso país passa por um corte de verbas recorrente. E, infelizmente, o orçamento da Ciência e Tecnologia vem diminuindo a cada ano. O que é um problema, já que o dinheiro destinado para essa área não é um gasto, e sim um investimento. Muito dos problemas enfrentados hoje, desde a área médica à agricultura, só poderão ser solucionados com os esforços provenientes da ciência básica.

O biocontrole, ou controle biológico, vem ganhando cada vez mais força por se tratar de uma maneira ecológica de lidar com as eventuais pragas do campo. Neste papel, os micro-organismos apresentam destaque, pois a todo momento enfrentam “batalhas” em busca de alimento, espaço, e principalmente pelo sucesso da espécie. E é nestas interações que podemos observar características interessantes que o ser humano pode aproveitar.

O Brasil é destaque mundial quando falamos em agricultura. Contudo, esta notoriedade também se aplica quando o assunto é o uso de agrotóxicos. Lamentavelmente, o país é líder mundial no uso destas substâncias. E neste contexto, a ciência básica vem ao longo dos anos buscando maneiras de substituir o uso dos químicos na lavoura. Neste cenário, o biocontrole se mostra como uma saída para controlar pragas agrícolas a partir de seus próprios inimigos naturais, como insetos benéficos, predadores, parasitas e micro-organismos (fungos, vírus e bactérias).

Um exemplo de praga recorrente, principalmente nos trópicos, são as formigas cortadeiras de folhas. Estes insetos podem ser considerados, ecologicamente, como grandes herbívoros, dada a grande quantidade de material vegetal consumido, causando importantes danos à agricultura. Na verdade, esse material vegetal é destinado para o fungo que essas formigas cultivam e que serve como suprimento principal da alimentação delas.

Fonte: Flickr

Por se envolverem em  um tipo de simbiose (associação íntima entre espécies) interessante, esses insetos sociais vêm sendo estudados mais profundamente. Descobriu-se que os ninhos das formigas cortadeiras guardam uma diversidade enorme de micro-organismos, incluindo bactérias, leveduras e fungos. E justamente um destes fungos, um parasita específico do ninho dessas formigas, que se mostrou como um potencial agente de biocontrole: Escovopsis.

O parasita, no caso, é o fungo do gênero Escovopsis, que até pouco tempo não era muito estudado. Ensaios in vitro e na colônia já demonstraram o potencial que esse micro-organismo tem de atacar o ninho das formigas cortadeiras de folhas. Neste caso, podemos compreender onde a ciência básica pode chegar! Mesmo ainda não sendo uma alternativa disponível no mercado, o seu potencial de uso futuro é promissor. Porém, o incentivo na ciência tem que continuar, pois o conhecimento sobre o Escovopsis precisa ser mais aprofundado para efetivar o seu uso.

E não é só nesse caso, muitos outros projetos e experimentos promissores estão parados na bancada de laboratórios de universidades por falta de verba! Pesquisadores estão indo embora do país por falta de recursos para pesquisa e a nova geração que está se formando, não vê esperanças e muito menos oportunidades na área, o que provoca a desistência e, consequentemente, o desinteresse da população pela ciência.

Isso, infelizmente, aumenta a cultura que a cada dia acreditará que o dinheiro gasto na ciência, principalmente a básica, não trará retorno para o país. Para minimizar essa falsa  ideia, fizemos um vídeo que tenta mostrar a importância do incentivo à pesquisa no Brasil!

Desta forma, não avançamos cientificamente e continuamos a ter que importar muitos dos recursos científicos que poderiam ser produzidos em território nacional. Felizmente, é só a falta de verba que nos aflige, porque nós, cientistas, continuamos a trabalhar incansavelmente, em situações muitas vezes precárias, sempre em busca do desenvolvimento.

E aí, o que você achou dessa possibilidade de utilizar fungos para combater pragas agrícolas como as formigas que apresentamos? Você acha promissor? Lembre de incentivar a ciência, principalmente a do nosso país, e aí então teremos como dar essa e muitas outras respostas pra você! Que tal começar compartilhando esse texto?

Referências

SCHULTZ, T. R.; BRADY, S. G.. Major evolutionary transitions in ant agriculture. Proceedings Of The National Academy Of Sciences, [s.l.], v. 105, n. 14, p.5435-5440, 24 mar. 2008. Proceedings of the National Academy of Sciences. http://dx.doi.org/10.1073/pnas.0711024105.

RODRIGUES, A.; MUELLER, U. G.; ISHAK, H. D.; BACCI, M. Jr.; PAGNOCCA, F. C. Ecology of microfungal communities in gardens of fungus-growing ants (Hymenoptera: Formicidae): a year-long survey of three species of attine ants in Central Texas. FEMS Microbiology Ecology, Hoboken, p. 244-255, 2011.

LAZZERI, Thais. Brasil libera quantidade até 5.000 vezes maior de agrotóxicos do que Europa. 2017. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2017/11/27/brasil-libera-quantidade-ate-5000-vezes-maior-de-agrotoxicos-do-que-europa.htm>.

Revisado por Elaine Latocheski e Mariana Pereira

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

Recentes

Assine nossa newsletter

Ao clicar no botão, você está aceitando receber nossas comunicações. 

X