Não é só de tacos, tequila e turismo que vive o México: também há muita Biotecnologia por lá. Neste texto você descobre um pouco mais sobre este país.

A nossa série Biotecnologia pelo Mundo não poderia deixar de falar sobre o México!

Embora o México seja conhecido mundialmente por ser a origem dos tacos e da tequila, também é um dos países com maior diversidade biológica, cultural e gastronômica do mundo. Graças à sua localização geográfica, é um dos locais com maior variedade de ecossistemas, estando incluído na lista dos países megadiversos. O México possui mais de 12% das espécies animais e vegetais conhecidas no mundo, ocupa o quinto lugar com maior número de espécies de plantas, o quarto lugar em espécies de anfíbios e o segundo em mamíferos e répteis. Por outro lado, a riqueza cultural do México se reflete em suas 72 línguas indígenas, em suas tradições milenares, em sua gastronomia e na longa lista de artistas e escritores que deixaram um importante legado para o mundo.

O México é o segundo país mais populoso da América Latina, com mais de 120 milhões de habitantes e só é superado pelo Brasil. Da mesma forma, é a segunda maior economia da região e a terceira em área.

A economia mexicana é altamente dependente das indústrias extrativas e do turismo. O México abriga algumas das maiores empresas do mundo, como Grupo Bimbo (Alimentos), Cemex (Cimentos), América Móvil (Telecomunicações) e Grupo Modelo (Cerveja).

Panorama geral da Biotecnologia no México

A biotecnologia é um setor ainda incipiente no México, com um potencial de desenvolvimento interessante e grandes desafios a enfrentar no curto e médio prazo.

O México conta com uma ampla rede de instituições com programas de pesquisa e educação em biotecnologia, além de uma sólida base de talentos humanos formada por pesquisadores e profissionais especializados. Isso, somado à sua grande diversidade biológica e à proximidade com os Estados Unidos, posiciona o México como um país com grande potencial para o desenvolvimento da biotecnologia e das biociências.

No entanto, o país não tem conseguido capitalizar essas oportunidades e continua com uma indústria de biotecnologia incipiente e pouco competitiva em nível global. Na última edição do ranking WorldVIEW (Scientific American, 2016), o México foi considerado um país com capacidade limitada de competir no cenário internacional e foi colocado na posição 43 de 54 países avaliados, devido ao seu limitado apoio ao surgimento de novas empresas, o baixo nível de intensidade da indústria e seu investimento em pesquisa e desenvolvimento inferior a 0,5% do PIB, uma porcentagem inferior aos 1,2% que o Brasil investiu em 2019 e aos 4,81% que destinou a Coreia do Sul em 2018.

Nos últimos quatro anos, as perspectivas não melhoraram, pois o atual governo não considerou a Biotecnologia como área estratégica ou prioritária no Plano de Desenvolvimento Nacional. Além disso, a atual chefe do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CONACyT), Elena Álvarez-Buylla, é uma conhecida ativista anti-OGM e promoveu uma agenda de rejeição à biotecnologia agrícola durante seu governo.

Apesar do limitado apoio e interesse por parte do governo nas administrações atual e anterior, o país possui diversas capacidades de desenvolvimento biotecnológico.

Educação em Biotecnologia

Segundo dados do ProMéxico (2016), no México existem 260 universidades que oferecem 190 programas de graduação em áreas relacionadas à Biotecnologia, além de 90 instituições que possuem programas de pós-graduação na área.

Pesquisa e desenvolvimento tecnológico

A pesquisa em biotecnologia e biociências no México tem uma longa tradição e história. O país possui uma ampla rede de instituições com programas de pesquisa dedicados à biotecnologia em suas diversas áreas de impacto. Alguns centros de pesquisa contam com infraestrutura e equipamentos de primeira linha, como o Instituto de Biotecnologia da UNAM, CINVESTAV, o  Instituto Nacional de Medicina Genómica e a rede de Centros Públicos de Pesquisa.

O ProMéxico estima que no México existam cerca de 9.500 pesquisadores diretamente relacionados à biotecnologia (ProMéxico, 2016). Em seu Sistema Nacional de Pesquisadores (SNI), o México conta com mais de 3.000 pesquisadores registrados na área de Biotecnologia e Ciências Agrárias, a maioria concentrada na Cidade do México e nos estados de Morelos, Nuevo León, Yucatán, Guanajuato e Jalisco. Adicionalmente, um número considerável de investigadores registados nas áreas de Biologia e Química, Medicina e Ciências da Saúde e Engenharia desenvolvem atividades relacionadas com a biotecnologia.

Durante o mês de setembro de 2020, foi publicado o novo regulamento SNI, no qual a palavra ‘biotecnologia’ foi eliminada das áreas para as comissões reguladoras. Isso gerou grande polêmica e o descontentamento da comunidade científica do país, especialmente da Sociedade Mexicana de Biotecnologia e Bioengenharia e da Academia Mexicana de Ciências. A ação faz parte de uma série de decisões que afetam negativamente a capacidade do país de realizar pesquisa e desenvolvimento na área.

Por outro lado, um dos grandes desafios do México está relacionado à transferência de tecnologia, pois embora vários projetos de alto impacto estejam sendo desenvolvidos, poucos conseguem chegar ao mercado.

No México, apenas 4% dos pedidos de patentes são registrados por nacionais e apenas uma parcela mínima é comercializada. Em 2015, foi aprovada uma alteração no regulamento nacional que permite a pesquisadores de instituições públicas serem acionistas de empresas de base tecnológica, o que abriu novas oportunidades de promoção do empreendedorismo e transferência de tecnologia, no entanto, os resultados destas medidas serão refletidas a médio e longo prazo.

Indústria Biotecnológica mexicana

A indústria de biotecnologia moderna é relativamente nova no México, com poucas empresas nacionais totalmente dedicadas à biotecnologia. O ProMéxico estima que existam mais de 400 empresas que desenvolvem ou usam a biotecnologia moderna no México , das quais 75 são dedicadas à agricultura, 82 ao meio ambiente, 54 à saúde humana, 86 à alimentação, 118 à biotecnologia industrial , e o restante em saúde animal, aquicultura e outros setores.

O México apresenta diversas vantagens como país manufatureiro, como o baixo custo de produção e mão de obra e a adesão do país ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC). Graças a isso, a grande maioria das empresas multinacionais de biotecnologia tem uma presença corporativa e produtiva no México. No país, estão presentes empresas como Bayer, Syngenta, Corteva, Pfizer, Roche, Sanofi, Janssen (J&J), Amgen, Biogen, Novo Nordisk e Astra Zeneca.

No entanto, apesar da presença de várias multinacionais e da existência de várias empresas de capital nacional, um dos pontos fracos da biotecnologia no México é o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento por parte do setor privado, o que limita consideravelmente sua desenvolvimento.

Ecossistema de Empreendedorismo em Biotecnologia 

O ecossistema de empreendedorismo no México é altamente desarticulado. No México não existem incubadoras ou aceleradoras especializadas em biotecnologia, o que limita a criação de novas empresas. Diversas universidades e centros de pesquisa possuem incubadoras e escritórios de transferência de tecnologia, porém suas atividades em biociências são limitadas.

Além disso, há poucas oportunidades de apoio e financiamento para empresas baseadas em biotecnologia em estágio inicial. Apenas alguns fundos de investimento, como o Fundo SIPI, têm interesse em empresas de biotecnologia em estágio inicial.

Em comparação com outros países da região, como Chile, Brasil e Argentina, o México não está apenas gerando poucas novas empresas, mas está gerando menos impacto internacional.

Diferenças entre México e Brasil na Indústria Biotecnológica

Conforme mencionado, o México possui numerosas instituições de ensino e pesquisa em biotecnologia, sendo neste aspecto comparável em capacidades com o Brasil. O contraste surge quando se fala em indústria e empreendedorismo: o México é significativamente mais dependente do que o Brasil dos investimentos de empresas multinacionais. Da mesma forma, o ecossistema de empreendedorismo no México não é tão desenvolvido como no Brasil. Em termos regulatórios, o México está atrás do Brasil na facilitação da produção e consumo de produtos biotecnológicos.

Devido às semelhanças nos ecossistemas biotecnológicos do México e do Brasil, ambos compartilham potencial semelhante para seu desenvolvimento a curto e médio prazo. Ambos os países têm grandes oportunidades de cooperação binacional nesta área, com possibilidade de complementar suas capacidades e infraestrutura. Esta oportunidade é especialmente interessante para startups e centros de pesquisa.

Oportunidades para o futuro

O México tem um enorme potencial para o desenvolvimento da biotecnologia e deve apostar fortemente na transferência de tecnologia e no desenvolvimento de novas empresas de base biotecnológica, além de continuar investindo no desenvolvimento de recursos humanos.

Para fortalecer o ecossistema de biotecnologia no país, é necessário coordenar esforços entre os setores público e privado, promover vínculos entre a academia e a indústria e atrair investimentos de fundos de capital semente.

Não deixe de acompanhar a bioeconomia em outros países em nossa série Biotecnologia pelo mundo!

Daniel Domínguez Gómez – É mexicano, Engenheiro de Biotecnologia pelo Instituto Politécnico Nacional (IPN), Co-fundador e Diretor de Alianças Estratégicas do Allbiotech e embaixador para América Latina do iGEM (International Genetically Engineered Machine Competition). Conta com ampla experiência em transferência de tecnologia, docência e desenvolvimento de negócios em Biotecnologia.

*O Profissão Biotec não recebe nada em troca por divulgar as marcas apresentadas neste texto.

 Referências:
Scientific American and Biotechnology Innovation Organization (2016). Scientific American WorldVIEW, a global biotechnology perspective. 

Scientific American Special Edition. 17/07/2016. Disponível em:https://static.scientificamerican.com/wv/assets/2016_SciAmWorldView.pdf Acesso em 12/11/2020

Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (2018). México en Breve. Disponível em: https://www.mx.undp.org/content/mexico/es/home/countryinfo.html Acesso em 18/11/2020

Morales MA., Amaro M. (2010). La Biotecnología en México, una aproximación desde los sistemas sectoriales de innovación.  Em libro: Innovación tecnológica, estrategias competitivas y contexto institucional en el sector biotecnológico mexicano (pp. 1224-1246)Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/333403453_La_Biotecnologia_en_Mexico_una_aproximacion_desde_los_sistemas_sectoriales_de_innovacion. Acesso em 16/11/2020

Wójtowicz M., Dorocki S. (2014). Regional differences in the development of the biotechnology industry in Latin America, with particular emphasis on Brazil and Mexico.Em libro: Environmental and socio-economic transformations in developing areas as the effect of globalization (pp.111–135). 07/01/2014. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/264117704_Regional_differences_in_the_development_of_the_biotechnology_industry_in_Latin_America_with_particular_emphasis_on_Brazil_and_Mexico. Acesso em 23/11/2020

Morales MA., Amaro M. (2020). La biotecnología en México. Innovación tecnológica, estrategias competitivas y contexto institucional. Facultad de Economía, Universidad Nacional Autónoma de México. 13/08/2019. Disponível em: http://www.economia.unam.mx/assets/pdfs/libros/biotecnologia/La%20Biotecnologia%20en%20Mexico.pdf. Acesso em 16/11/2020

ProMéxico (2016). Diagnóstico Sectorial: Biotecnología. ProMéxico. 24/05/2016

ProMéxico (2017). Panorama Actual de la Industria Biotecnológica en México. ProMéxico. 08/08/2017

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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