Oscar Swahn, foi o atleta mais velho a ganhar uma medalha olímpica no ano de 1920. Ele conquistou esse título aos 72 anos quando ajudou sua equipe de tiro ao cervo a ganhar uma medalha de prata nas olimpíadas da Suécia.
Será bem difícil alguém superar esse recorde já que diversos fatores influenciam o rendimento de um atleta: aspectos físicos, fisiológicos, genéticos, nutricionais, psicológicos…e científicos também! Hoje sabemos o quanto a ciência pode contribuir para que o indivíduo possa competir e alcançar bons resultados mesmo acima dos 30,35 anos.
Os limites fisiológicos se alteram com os anos
Do ponto de vista fisiológico, o ápice de performance é alcançado geralmente entre 20 e 30 anos de idade. A partir dos 30 anos, a capacidade máxima de oxigenação (aeróbica) reduz, impactando diretamente a frequência cardíaca máxima e a resistência ao exercício.
Além disso, fatores hormonais, principalmente relacionados aos níveis de testosterona e estrogênio, prejudicam o ganho de massa muscular, e tornam a recuperação muscular (pós-treino) mais lenta. Por tudo isso, é importante conhecer bem o corpo do atleta e direcionar seus treinamentos, priorizando a intensidade e não o tempo de treinamento, a fim de preservar o atleta e evitar lesões.
E como a ciência pode ajudar?
A seguir, vamos conhecer alguns dos avanços científicos que contribuem para a alta performance dos atletas mais velhos, com exemplos reais de atletas (e cientistas!) que demonstram que a idade é só um detalhe para a prática esportiva
1- Estimulação neural e realidade virtual
Atualmente, as tecnologias para estímulo neural utilizam ondas magnéticas que podem alterar a capacidade de aprendizado do cérebro, acelerando o desenvolvimento de habilidades.
Além disso, as tecnologias de realidade virtual para treinamentos melhoram a tomada de decisões e o condicionamento físico. Diversas startups oferecem esse tipo de serviço.
Dentre elas, a startup Sense Arena (República Tcheca) desenvolveu uma plataforma que, por meio de óculos de realidade virtual, permite a prática de exercícios para melhora de suas habilidades, e pode ser usada por atletas de diferentes esportes (hóquei no gelo, futebol, basquete etc). A NeuroEsporte é um exemplo de startup brasileira que desenvolve treinamentos baseados na neurociência voltados para aprimorar a performance e desenvolver habilidades.
2 – Banco de dados para acompanhamento do atleta
Todas as informações sobre o atleta podem ser coletadas e armazenadas em um banco de dados que permite o acompanhamento de parâmetros físicos (força, aceleração), biológicos (pulsação, oxigênio) e mentais (preparo ou despreparo psicológico). Dessa forma é mais fácil organizar os treinos, respeitando os limites, explorando as potencialidades e auxiliando no condicionamento muscular e ganho de força.
Um exemplo desse tipo de ferramenta é o projeto de pesquisa “Inteligência Esportiva”, uma parceria entre o Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade (CEPELS) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Secretaria Especial de Esportes do Ministério da Cidadania. O projeto possui um banco de dados que reúne informações sobre os atletas, auxiliando pesquisadores, gestores, técnicos e os próprios atletas a realizarem atividades específicas.
3 – Eletroestimulação muscular
À medida que o corpo envelhece, perdemos as fibras de velocidade, dificultando o ganho de massa muscular. Para a manutenção dessas fibras é necessário ampliar o treinamento, o que em atletas mais velhos, pode aumentar o risco de lesão. Segundo um estudo da Universidade de Borgonha (França), a eletroestimulação muscular é uma metodologia eficiente para o fortalecimento dos músculos, proporcionando ganho de força e massa muscular, tornando-se uma alternativa para combater a perda natural de massa muscular.
4 – Identificação de marcadores genéticos relacionados à performance esportiva
As análises moleculares permitem a identificação de marcadores genéticos relacionados à performance esportiva. O Laboratório de Biologia Molecular e Diagnóstico Molecular de Doenças Lisossomais, da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) utiliza a tecnologia GWAS (Genome Wide Association Studies) para identificação desses marcadores. Assim, o projeto pretende criar um mapa genético dos atletas de elite (de diferentes modalidades) e utilizar essas informações para orientação dos treinos. Essa orientação reduz ou anula o número de lesões durante os treinamentos ou competições, melhorando a performance do atleta.
5 – Vestimentas inteligentes
A tecnologia empregada na produção de artigos esportivos também tem ajudado a melhorar a performance dos atletas de todas as idades. As roupas inteligentes captam dados corporais e transmitem para banco de dados ou possuem tecidos mais leves, confortáveis, que auxiliam no controle da respiração, transpiração e aumento da velocidade. Os tênis de alta tecnologia, com alto poder de absorção de impactos; materiais, como raquete de tênis e bolas de futebol, que por meio da nanotecnologia estão cada vez mais duráveis, precisos e leves. Todas essas vantagens também contribuem para melhorar o desempenho e quebrar recordes, independente da idade do esportista.
Conheça atletas mais velhos de alta performance
Talvez você esteja achando que esses atletas mais velhos de alta performance são “casos isolados”. Então, preparamos um quadro que demonstra que essas “exceções” estão se tornando cada vez mais presentes no mundo esportivo.
Cientista – atleta: um exemplo da união entre ciência e esporte
Cinquenta, idade em que tem início a decadência do homem”
Essa foi a frase que motivou o médico, cientista e escritor brasileiro Drauzio Varella a provar que a decadência de um homem não começaria aos cinquenta anos quando ele decidiu correr pela primeira vez uma Maratona. “Quem consegue correr 42 quilômetros deve ser capaz de enfrentar o futuro com mais otimismo e sabedoria, pensei”.
No seu livro “Correr”, Drauzio relata as experiências que maratonas nacionais e internacionais trouxeram para ele e, como médico, tenta explicar cientificamente alguns mitos e dilemas enfrentados pelos corredores neste tipo de prova, Neste livro, Drauzio demonstra como a parceria entre ciência e esporte são complementares, e que a vida pode ter um novo sentido a partir da maturidade, adicionando o esporte como estilo de vida.
Inteligência esportiva
É importante destacarmos também que outro fator que contribui para o alto rendimento é a “inteligência esportiva”, ou seja, a própria experiência do atleta mais velho que lhe permite melhor atuação cognitiva, maior atenção, maior agilidade nas respostas, acerto nas decisões e controle da impulsividade. Um estudo, vinculado à Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp), aponta que o pico da “inteligência esportiva” ocorre entre os 30 e 40 anos, ajudando a compreender o grande desempenho esportivo de atletas dessa faixa etária.
Diversos estudos já demonstraram que a atividade física é fundamental para um envelhecimento saudável, e que é preciso aprimorar os treinamentos para melhorar o rendimento e a performance dos atletas mais velhos. E a ciência vem contribuindo significativamente para isso, tornando-se uma aliada para qualquer atleta, profissional ou amador. Agora que você já sabe que a ciência pode ajudar os atletas de qualquer idade, está esperando o que para começar a se exercitar?
Cite este artigo:
LOPES, B.P.; LOPES, I.G. Ciência e esporte: a parceria perfeita para os atletas mais velhos. Revista Blog do Profissão Biotec, v.8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/ciencia-esporte-atletas-mais-velhos/> Acessado em: dd/mm/aaaa