Fomos convidados para realizar a cobertura do 2º Congresso SulBiotec. Vem conferir tudo o que aconteceu no evento com tema: Bioeconomia, inovação sustentável.

Você sabia que o Profissão Biotec é parceiro da rede SulBiotec? E como parceiros fomos convidados para realizar a cobertura do 2º Congresso SulBiotec! Participaram do evento nossas voluntárias Ísis Venturi Biembengut, Letícia Malinoski, Luana Lobo e Priscila Esteves. O congresso em 2020 aconteceu de forma completamente virtual, entre os dias 22 e 25 de novembro, com o tema: Bioeconomia, inovação sustentável.

A rede SulBiotec foi proposta em 2014, com o propósito de consolidar uma rede de pesquisa, desenvolvimento e inovação na área de biotecnologia entre Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Hoje, ela integra diversas universidades, empresas e institutos de pesquisa atrelados à biotecnologia da região sul do país. 

Patrocinadores, parceiros e apoiadores do congresso SulBiotec 2020.

O congresso SulBiotec ocorre de forma bianual (o Profissão Biotec também participou da edição de 2018, confira aqui), e em 2020 o evento seria sediado na cidade de Ponta Grossa, com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) como anfitriã. No entanto, devido à pandemia de COVID-19, o congresso foi modificado para um formato 100% virtual. Vem com a gente conferir o que rolou nos 4 dias desse evento que, com certeza, ficará marcado na história da biotecnologia do Brasil.

Abertura do evento

O primeiro dia começou com diversos mini-cursos, disponibilizados na plataforma do evento. Foram eles: Introdução ao Python e à bioinformática, Patentes verdes, CRISPR, Meta-análise e Toxicologia regulatória. A Priscila Esteves participou do curso de Patentes verdes. Segundo ela, o curso se destacou pelo fato de ter aulas de introdução ao sistema patentário, dando uma base importante para a compreensão das patentes verdes, além de conter uma aula de prática, onde foram mostradas como são as bases de buscas de patentes, os recursos disponíveis nelas, e alguns exemplos de buscas.

No fim do primeiro dia, também tivemos a palestra de abertura oficial do evento: Resposta da Fiocruz à emergência sanitária do SARS COV-2, apresentada pelo Dr. Marco A. Krieger,  Vice-Presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz. Ele contou como foi a participação e o planejamento da Fiocruz para o enfrentamento da pandemia. Além disso, sinalizou todo o trabalho de planejamento e estudo das opções de vacinas internacionais disponíveis, seguindo diversos critérios, para a escolha da vacina da qual a Fiocruz será parceira na produção e distribuição no Brasil – a Covinshield da Universidade Oxford com a empresa Astrazeneca. 

Marco A. Krieger na palestra de abertura do evento falando sobre a Fiocruz. Mediação realizada pelo prof. Mario Steindel.

Palestras

Nos dias seguintes, o evento foi dividido entre palestras e painéis temáticos. As palestras permearam os intervalos entre os painéis e as aberturas de cada dia com muita informação, tornando o evento muito rico. Como seria impossível falar de todas, vamos trazer aqui algumas que achamos muito interessantes:

PROPRIEDADE INTELECTUAL COMO FERRAMENTA DE PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA E AUXÍLIO NO DESENVOLVIMENTO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS – Jatyr Ranzolin Junior

Até aqui, em vários momentos falou-se sobre Propriedade Intelectual e sua importância para colocar em prática a Bioeconomia. A palestra do Dr. Jatyr, por outro lado, enfatizou especificamente a importância de recorrer ao sistema patentário para proteger uma invenção. Além disso, também foram explicados requisitos para o depósito de uma patente, como a necessidade de expor todos os detalhes que permeiam aquela invenção, pois essa forma de proteção visa simultaneamente tornar acessível os conhecimentos por trás das tecnologias. O palestrante também reforçou o quesito novidade da invenção, visto que muitos pesquisadores publicam sua invenção na forma de artigos científicos, o que limita o pedido de depósito da patente para o período de no máximo 12 meses após essa publicação. A palestra trouxe, enfim, dicas muito relevantes e que focam, de fato, na realidade do sistema patentário e dos que têm interesse nele. 

ÊXITO NO CULTIVO COM SHAKER E BIORREATOR – Wilson Murilo Ferrari, representante da Infors HT

Na rotina de laboratório, acabamos fazendo experimentos de forma tão automática que muitas vezes não paramos para refletir o impacto de cada pequena etapa executada. Essa palestra foi excelente para mostrar a grande importância que os agitadores (“shakers”) e biorreatores têm nos experimentos e também nas rotinas de maior escala. O palestrante ilustrou essa relevância com um bioprocesso simples e muito comum para os biotecnologistas: a fermentação. Se já na etapa do pré-inóculo houver um problema na atividade, utilização ou regulação do equipamento, esse erro inicial pode prejudicar todas as etapas seguintes do experimento, levando a perdas materiais. Foram apresentadas também formas corretas de manusear o equipamento, além de tecnologias atuais na área a fim de otimizar as práticas de cultivo.

BIOENERGIA: O COMBUSTÍVEL PARA A BIOECONOMIA – Gonçalo A. G. Pereira, líder do Laboratório de Genômica e Bioenergia – UNICAMP

Prof. Gonçalo A. G. Pereira em sua fala sobre Bioenergia. Mediação da Prof. Luciana Vandenberg.

Nessa palestra, fomos levados a encarar os aspectos mais profundos e menos discutidos das mudanças climáticas, que são um problema global, uma vez que têm a capacidade de mudar toda a homeostase do planeta. A bioenergia entraria, então, como base da Bioeconomia, de forma a melhor aproveitar os recursos escassos. Um exemplo muito relevante nesse sentido é encarar o gás carbônico (CO2) como uma excelente fonte de energia, ao invés de encará-lo como vilão das mudanças climáticas. O palestrante usa a produção de etanol como o exemplo da aplicação desse olhar sobre o carbono, visto que hoje já existem tipos de cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção de etanol, com maior capacidade de absorção de CO2. Nas palavras do Dr. Gonçalo: a bioenergia vem como base da Bioeconomia, pois resolve os problemas da civilização!

Painéis Temáticos

Tivemos seis painéis temáticos ao total, com os temas: Saúde, Agropecuária, Bionegócios, Marcos legais em biotecnologia, Biotecnologia ambiental e marinha e Políticas de financiamento. Em todos eles, pesquisadores, especialistas, representantes de empresas e startups se reuniram para criar um panorama do tema e ainda apresentar suas iniciativas. Vamos comentar alguns deles abaixo:

Painel Temático: SAÚDE

Norberto Prestes Junior da ABIQUIFI em sua fala sobre insumos farmacêuticos no Brasil.

No primeiro painel do evento, a Bioeconomia foi relacionada à Saúde. Participaram representantes da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi ), das empresas Biocelltis e BiomeHub, e do polo de inovação Biopark. Entre os assuntos abordados estavam a logística da produção e do mercado farmacêutico brasileira frente à realidade política e comercial. Por exemplo, o Brasil tem todos os recursos para a produção de um certo medicamento, a Heparina, mas sua produção nacional é inviabilizada pelo alto número de impostos. O mesmo medicamento importado não tem impostos. Janice Koepp da Biocelltis também tratou dos desafios e perspectivas da biofabricação de peles in vitro, que necessitam de vasto conhecimento sobre medicina regenerativa e cultivo celular.

Painel Temático: AGROPECUÁRIA

Nesse painel tivemos a participação de representantes das empresas Agrocete, da GenMate e da Evonik. Os participantes apresentaram suas empresas mostrando diferentes visões da aplicação da biotecnologia no agronegócio (principalmente na pecuária e área de insumos animais). A startup GenMate chamou muito a atenção: um caso de aplicação real da bioinformática no mercado, e como esta pode ser aplicada na melhoria do manejo para os produtores de gado. A proposta da empresa consiste em realizar uma análise genética dos possíveis resultados de acasalamento no rebanho do produtor, com matrizes de bancos (touros, bancos de sêmen de bovinos). Com essa análise, utilizando o algoritmo que eles criaram, é possível orientar o produtor sobre quais seriam os melhores resultados de acasalamento, além de fazer um controle de consanguinidade.

Fernando J. Dijkinga falando do trabalho de gerenciamento genético da GenMate.

Na palestra da Evonik (multinacional Alemã que faz produção de aminoácidos no Brasil), um ponto interessante foi sobre a aprovação de seus produtos com relação às políticas de biossegurança do país. Apesar da utilização de um microrganismo (Corynebacterium glutamicum) transgênico para a produção de L-Lisina na sua fábrica de Castro – PR, o produto final não é considerado transgênico. Claro que inúmeros testes foram necessários na implantação da fábrica para garantir que nenhum microrganismo ativo permanecesse no produto, mas um produto não transgênico possibilitou uma maior agilidade nos trâmites legais de aprovação.

Painel Temático: BIOTECNOLOGIA AMBIENTAL E MARINHA

Já parou para refletir nas várias formas de geração de energia que nossa civilização já utilizou? Começamos o painel falando sobre a transição energética que estamos passando, onde a tendência mundial é a de utilização do gás. No Brasil, o marco de saneamento e resíduos sólidos, o plano nacional de energia e o RenovaBio estimulam o uso de biogás.

Em seguida, tivemos uma palestra surpreendente, relacionando design e Ciência! Vimos um pouco sobre o trabalho da empresa Furf, a qual possui como uma das suas criações uma capa para prótese de perna, capaz de atender a cerca de 70% das pessoas que utilizam esse tipo de prótese e reduzir muito os custos de sua produção e comercialização. A Regenera: moléculas do mar também falou da importância da Amazônia Azul – território marítimo brasileiro – para o desenvolvimento biotecnológico.

Painel Temático: POLÍTICAS DE FINANCIAMENTO

Em meio a tantos cortes de verba que a Ciência vem sofrendo, como direcionar e otimizar os investimentos das agências de financiamento? Nesse painel, conhecemos não só um pouco sobre esse tipo de estratégia, mas também a atuação de fundações como a Fundação Araucária, a Fundação de amparo à pesquisa e inovação de Santa Catarina (FAPESC),  a Fundação de amparo à pesquisa e inovação do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Entre alguns pontos importantes, destacam-se as ações de otimização da logística de pesquisa, atenção a demandas específicas, promoção de incentivo à inovação e apoio ao empreendedorismo e startups.

Palestrantes do painel de Políticas de Financiamento, durante o início da palestra de Fábio Zabot. 

Agora, deu para sentir um pouco do gostinho do que foi esse evento? Você também participou? Por aqui já estamos ansiosos para a edição de 2022 deste congresso que sempre supera nossas expectativas. Para saber mais, acompanhe as redes sociais da Rede SulBiotec.

Texto revisado por Tayná Costa e Natália Videira

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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