Seja você biotecnologista, cientista ou profissional de alguma área mais científica, você deve estar cansado de explicar “o-que-é-biotecnologia” ou o que você faz de trabalho… Você já deve ter percebido que dependendo do público deve mudar um pouquinho a linguagem da explicação, não é mesmo? Não é possível utilizar jargões da área e termos científicos que usamos com os colegas de trabalho, com aquele amigo de infância, aquela tia ou mesmo as amigas da avó! Nesses casos, precisamos explicar de um jeito mais simples, porque não vai adiantar nada dizer “clonei a proteína X para expressão em um sistema heterólogo em Pichia pasteuris”
Agora, você já parou para pensar que ao explicar o que é biotecnologia ou o que você faz, você está fazendo divulgação científica? Pois é! Não precisa participar de um grupo como o Profissão Biotec para poder comunicar ciência de um jeito que todo mundo entenda!
E você já ponderou o quão importante são esses minutinhos que você gasta explicando? Nesse tempo você pode contribuir para mostrar que a ciência é importante e está presente no dia-a-dia das pessoas, pode desmentir uma fake news ou pseudociência, ou pode só deixar a pessoa encantada com as possibilidades que a biotecnologia e a ciência trazem para a sociedade. E não precisa nem dizer o quanto isso é importante em tempos de cortes no orçamento para as pesquisas e multiplicação de fake news sobre o novo coronavírus, não é?
Nessa minha vida de biotecnologista, e depois de aluna de doutorado e funcionária em um instituto de pesquisa, já tive que explicar o que é biotecnologia e qual a minha pesquisa nos lugares mais inusitados, e resolvi escrever esse texto para mostrar que dá para divulgar biotecnologia e ciência em qualquer lugar, e não precisa de curso pra isso!
No táxi ou transporte por aplicativo
Quando a gente pega táxi, uber ou outro desses transportes por aplicativo, o motorista acaba puxando assunto. E por que não aproveitar esse momento para “espalhar a palavra da biotecnologia”?
Na época do começo de faculdade, a pergunta “Que curso você faz?” me trazia bastante ansiedade, porque não conseguia explicar direito de um jeito que qualquer pessoa pudesse entender. Ainda bem que hoje tem o Profissão Biotec e este texto maravilhoso com dicas de como explicar o que é biotecnologia!
DICA: eu sempre começo explicando biotecnologia de um jeito mais simples: “a utilização de seres vivos e microorganismos para produzir coisas, como pão e cerveja”, que são itens do cotidiano de todo mundo. Se você sentir que o interlocutor tem um pouco mais de conhecimento, pode introduzir algumas ideias de produção de insulina para diabéticos, transgênicos, DNA recombinante…
Atualmente, constantemente pego um Uber saindo do meu trabalho. “O que é aqui?” e “Para que serve aquele prédio que parece um estádio de futebol?” são as novas perguntas. Estou trabalhando no Centro Nacional de Pesquisa em Energia em Materiais (CNPEM) em Campinas-SP, um instituto de pesquisa que além dos laboratórios de pesquisa em biociências, biorrenováveis e nanotecnologia, contém o maior acelerador de partículas da América Latina (e o prédio realmente parece um estádio de futebol!).
Nestes momentos, em que os motoristas me questionam, eu encaro quase como um dever cívico explicar que o CNPEM é um instituto de pesquisa público e que dentro dele são desenvolvidas diversas pesquisas importantes para a sociedade como “pesquisamos como as doenças funcionam e desenvolvemos novos tratamentos”, “melhoramos a eficiência da produção de etanol”, “utilizamos o acelerador de partículas para analisar materiais como rochas, fósseis, ligas metálicas, plantas e vírus”.
Nos stories do Instagram
Nem só de influencers de moda e estilo de vida vive o instagram. É cada vez maior o número de perfis divulgando ciência, seja ele um perfil oficial de algum grupo de divulgação científica, ou o seu próprio perfil, alternando fotos de viagens e comidas com experimentos que você faz na faculdade ou no laboratório.
“Ah, mas eu nem tenho tantos seguidores, as pessoas não vão se interessar por isso”. Vão se interessar sim! O mundo dos laboratórios é tão distante das pessoas que não estão cursando biotecnologia ou não fazem pós graduação que eles vão achar o máximo ver as reações coloridas que fazemos no laboratório!
Tá bom, na maioria das vezes não é nada colorido. Mas uma micropipeta, os microtubos, as bancadas dos laboratórios, uma placa de ágar com bactérias, tudo isso desperta curiosidade.
DICA: Poste stories com fotos de experimentos, explique qual a finalidade dele, qual seu tema de pesquisa, e qual a relevância dela. Isso contribui demais para aproximar a sociedade dos laboratórios de ciência. Não trabalha em um lugar que permite divulgação? Não tem problema! Divulgue os conteúdos sobre biotecnologia e ciência do Profissão Biotec!
E logo você vai receber um feedback muito legal dos seus seguidores! Eu e meus colegas que postam sobre suas pesquisas no instagram recebemos mensagens de amigos próximos e até mesmo de pessoas distantes que se interessam pelo assunto e vêm fazer algum comentário ou tirar alguma dúvida científica. Pelo menos para a gente, esse engajamento é extremamente gratificante!
Nos encontros de família
Nas minhas reuniões de família costuma ter o momento de desmascarar fake news e pseudociência. Meus parentes sempre aparecem com algo que receberam no Whatsapp dizendo que vacinas causam autismo, que o coronavírus morre em pH ácido por isso temos que comer abacate, ou viram um shampoo com células-tronco de maçã para vender.
DICA: Seus familiares também acham que se “tá na internet deve ser verdade”? Bom, nós sabemos que nem sempre é o que acontece. Neste link você pode encontrar dicas muito bacanas para desmascarar essa máxima e estimular o pensamento crítico dos seus familiares:
- Primeiramente acalme-se! (Às vezes a gente fica meio assustado com o tamanho do absurdo científico que é falado por aí);
- Com bastante paciência, busque traduzir os termos científicos (e por vezes apocalípticos) encontrados nas mensagens e notícias;
- Estimule o pensamento crítico das pessoas;
- Exponha a pessoa a dados científicos e fontes confiáveis.
Bom, agora com as nossas dicas você já sabe que divulgação científica pode ser feita em qualquer lugar e por qualquer pessoa! Basta ter conhecimento científico e saber passar esse conhecimento com uma linguagem acessível a todas e todos. Se você se animar a seguir por esse caminho, descubra 10 coisas que aprendemos trabalhando com divulgação científica!
Fui inspirada a escrever esse texto ao ver o Instagram de cientista influencer dos meus colegas @michalexandrino e @fabioraya.
Todas as imagens utilizadas neste texto foram retiradas do Pixabay.