Especial Vacinas – o que você precisa saber sobre como agem e como são produzidas

O Profissão Biotec apresenta uma série de textos sobre as vacinas: do seu desenvolvimento ao impacto sobre saúde e economia. No segundo texto da nossa série, o Profissão Biotec vai te explicar como as vacinas funcionam no nosso organismo, e o que significam termos como "imunidade de rebanho" e "memória imunológica".
vacina

Muitos cientistas consideram as vacinas como o maior avanço biotecnológico da história devido ao seu impacto na prevenção, e até erradicação, de inúmeras doenças. Por isso o Profissão Biotec decidiu fazer uma série de textos para contar a história das vacinas, desde o seu desenvolvimento até o seu impacto positivo sobre a economia e a saúde pública. Ficou curioso? Acompanhe nossa série de textos e descubra tudo o que você precisa saber sobre as vacinas!

No texto a seguir conheceremos como as vacinas agem no nosso organismo, porque a eficácia delas pode variar entre a população e porque demoram tanto tempo para serem produzidas.

Como as vacinas agem no nosso organismo?

A vacina é uma forma segura de induzir uma resposta imunológica no nosso organismo, sem causar doenças. A vacina age para que nosso sistema imunológico reconheça o patógeno (como por exemplo vírus e bactérias), produza anticorpos contra ele e adquira uma memória para que esse reconhecimento ocorra meses e anos depois da vacinação.

As vacinas possuem antígenos que podem ser vírus ou bactérias atenuados ou inativados, ou até mesmo fragmentos deles, que são capazes de estimular os plasmócitos (células B diferenciadas) a produzirem os anticorpos, a chamada imunidade humoral. Alguns tipos de vacinas também estimulam a produção de células T, favorecendo a citotoxicidade celular (capacidade de inibir a proliferação celular ou de causar danos e/ou morte nas células infectadas pelos antígenos). 

Os anticorpos (também chamados de imunoglobulinas) são proteínas altamente especializadas, capazes de reconhecer um antígeno específico (aquele presente nas vacinas) e induzir sua destruição por meio de mecanismos como a fagocitose (é um tipo de endocitose, um processo onde a célula é capaz de englobar uma outra célula morta ou antígeno, que posteriormente é degradado).

Produção de anticorpos (imunoglobulinas) após a vacinação. Após a vacinação (seta vermelha) há o aumento da produção de imunoglobulinas do tipo M (IgM) a primeira classe de anticorpos produzida em uma resposta primária, mas que possui meia-vida curta, e ao longo das semanas sua concentração vai reduzindo. Dessa forma, a presença de anticorpo IgM no sangue indica uma vacinação recente (bem como uma infecção atual ou recente); O segundo tipo de imunoglobulina produzida é a imunoglobulina do tipo G (IgG) que possui meia-vida maior e alta afinidade pelo antígeno. Ele é produzido simultaneamente com a IgM mas suas concentrações são mantidas altas ao longo de semanas/meses após a vacinação, caracterizando a imunidade contra o antígeno a longo prazo; A IgA é a segunda imunoglobulina mais abundante no sangue e sua produção depende da via de imunização utilizada: a vacina por via parenteral (intradérmica, intramuscular ou subcutânea) induz produção sistêmica de anticorpo IgA, por exemplo. Suas concentrações são mais variáveis e menos características do que as concentrações de IgM e IgG. Adaptado de Imunologia Geral.

Vacinas geram memória imunológica

Além da produção de anticorpos, as vacinas estimulam também a produção de células de memória. Essas células, ao entrarem em contato novamente com o antígeno, transformam-se rapidamente em células produtoras de anticorpos ou em outras células de memória.

Ao entrarmos em contato com o antígeno por meio da vacinação, o antígeno é processado pelo nosso sistema imunológico e as células de memória são produzidas. São essas células de memória que serão utilizadas caso o indivíduo entre em contato novamente com esse antígeno.

Isso significa que nosso sistema imunológico é capaz de se “lembrar” do antígeno presente na vacina, e por isso consegue eliminar de forma mais rápida esse mesmo antígeno, impedindo o desenvolvimento da doença ou reduzindo a gravidade dos sintomas.

Esquema de como as vacinas funcionam. #pracegover: no primeiro quadro, uma pessoa sendo vacinada; no segundo quadro, o agente causador da doença; no terceiro quadro, os anticorpos; no último quadro anticorpos atacando o agente causador da doença. Fonte:  Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM)

Todas as pessoas respondem da mesma forma às vacinas?

Algumas vacinas geram imunidade por toda a vida (como as vacinas de sarampo, caxumba e hepatite A e B) mas algumas precisam de doses de reforço para garantir que os níveis adequados de anticorpos sejam mantidos por longos períodos (como as vacinas de tétano e coqueluche).

A eficácia da vacina também depende do sistema imunológico de cada indivíduo. Os idosos, de uma forma geral, não possuem um sistema imunológico tão eficiente (processo chamado de imunosenescência) e por isso podem precisar de doses de vacinas diferentes dos indivíduos mais jovens.   

De forma similar, indivíduos com doenças autoimunes ou em tratamento com imunossupressores podem ter restrições e/ou limitações quanto aos tipos de vacinas que podem receber, uma vez que estes indivíduos já possuem um sistema imunológico comprometido que não responderá à vacina da forma esperada. 

Todas essas dúvidas sobre quem pode receber cada vacina são respondidas ao longo dos testes clínicos. Veja mais sobre isso aqui.

A “imunidade de rebanho”

Já sabemos que as vacinas “treinam” nosso sistema imunológico para reconhecer patógenos e responder rapidamente, evitando o desenvolvimento da doença.

Por isso, quando uma pessoa é vacinada, menores são as chances dela contrair e transmitir a doença. E quanto mais  pessoas são vacinadas, menor a circulação do patógeno e mais protegida estará a comunidade e as pessoas que, por alguma razão, não puderam se vacinar (devido a outras condições graves de saúde, por exemplo). Essa é a chamada “imunidade de rebanho”.

A “imunidade de rebanho” só ocorre quando uma grande parcela da população é vacinada, reduzindo o número de pessoas desprotegidas e vulneráveis à doença o que, consequentemente, reduz a circulação do patógeno. Essa imunidade coletiva adquirida por meio da vacinação é a forma mais segura de imunizar uma população.

Alguns grupos anti-vacinas defendem a “imunidade de rebanho” adquirida pela contaminação natural da população (certamente você já ouviu a frase: “Se todo mundo pegar a doença, não precisa vacinar”). Contudo, esses grupos se esquecem de que quando todos pegam a mesma doença, ao mesmo tempo, há uma sobrecarga no sistema de saúde e muitas pessoas morrem sem conseguir o atendimento necessário. Somente por meio da vacinação, o número de doentes reduz e as unidades e profissionais de saúde conseguem atender a todos de forma adequada.

“Imunidade de rebanho” adquirida por meio das vacinas é a forma mais segura de imunização da população. #pracegover: vários perfis coloridos de pessoas. Fonte:Pixabay

Como as vacinas são produzidas?

Além do antígeno as vacinas possuem em sua composição outros ingredientes que garantem a sua segurança e eficácia. Todos esses são testados e monitorados para garantir a qualidade do produto final. Os principais componentes das vacinas são:

  • Antígeno: está na sua forma enfraquecida, atenuada ou apenas um fragmento dele;
  • Adjuvantes: potencializam a resposta imunológica, melhorando a eficácia e/ou prolongando a proteção da vacina;
  • Conservantes: garantem a eficácia da vacina ao longo do tempo;
  • Estabilizadores: protegem a vacina durante o armazenamento e transporte.

As vacinas também podem ter pequenas quantidades de outros produtos químicos ou biológicos (água estéril, soro fisiológico ou fluidos contendo proteína), material empregado para o crescimento do patógeno (como a proteína do ovo de galinha) ou pequenos traços de antibiótico (que evitam o crescimento de microrganismos durante a produção e o armazenamento do produto final).

As etapas para produção da vacina podem ser divididas em ensaios pré-clínicos e clínicos. Nós já conversamos sobre isso e você pode rever aqui.

Avaliando a eficácia e seguranças das vacinas

Todas as vacinas passam por rigorosos testes de segurança e eficácia antes de serem aprovadas. Dessa forma, a maioria das vacinas aprovadas possuem em torno de 90% -100% de eficácia.

Cada país possui seus órgãos regulamentadores que fiscalizam esses testes e emitem a liberação das vacinas. Nos EUA, o Food and Drug Administration (FDA) é o órgão responsável pelo controle e supervisão de produtos como suplementos, medicamentos e  vacinas. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão gerido pelo Ministério da Saúde, é a responsável por analisar os estudos clínicos e liberar somente as vacinas que comprovem ser eficientes e seguras.

Em média,  na ANVISA, o prazo para a primeira resposta sobre o pedido de registro de uma vacina é de 60 dias. Durante esse período, a ANVISA pode solicitar mais informações para análise, conceder o registro ou negar o pedido. Mas, diante da pandemia da COVID-19 e da necessidade urgente de uma vacina, uma nova legislação (Lei 14.006, de 2020) foi aprovada no Brasil garantindo que a ANVISA pode acelerar o processo de aprovação em até 72h, caso a vacina em questão já tenha sido liberada pelos órgãos competentes dos Estados Unidos, Europa ou China.

Agora que você já sabe como as vacinas agem no nosso organismo, que é muito mais seguro se vacinar do que se contaminar naturalmente, e que as vacinas passam por várias etapas para garantir sua segurança e eficácia, podemos concluir que não há motivos para desconfiar das vacinas, em compensação, sobram  argumentos para esclarecer as dúvidas mais comuns da população!

Continue ligado no Profissão Biotec e na nossa série sobre vacinas: no próximo texto vamos te explicar como as vacinas impactam positivamente na saúde pública e na economia (sim, elas também movimentam muito dinheiro e empregam muita gente!).

Texto revisado por Jennifer Medrades e Ísis Biembengut

Cite este artigo:
LOPES, B.P. Especial Vacinas – o que você precisa saber sobre como agem e como são produzidas. Revista Blog do Profissão Biotec. V.8 13/03/2021. Diponível em:<profissaobiotec.com.br/Especial-Vacinas-o-que-voce-precisa-saber-sobre-como-agem-produzidas

Referências:

Abbas & Lichtman. Cellular and Molecular Immunology. Editora Saunders, 5°edição, 2005.
Bruce Albert et al. Molecular Biology of The Cell. Editora Artmed, 5°edição, 2010.
Imunologia Geral. Traduzido por: Edson Alves de Moura Filho. Disponível em:< http://cursos.ufrrj.br/posgraduacao/ppgcv/files/2018/10/Imunologia-geral.pdf > Acesso em 05.12.2020.
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM). Ballalai e Bravo, 2016. Disponível em: <https://sbim.org.br/publicacoes/livros/564-imunizacao-tudo-o-que-voce-sempre-quis-saber> Acesso em 05.12.2020.

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