As músicas de rock questionam e trazem à tona temas importantes da ciência e da biotecnologia.

No dia 13 de julho, é comemorado o Dia Mundial do Rock. O que muita gente não sabe é que esse ritmo musical, amado em todo planeta e que ultrapassa gerações, tem tudo a ver com ciência e biotecnologia. A data oficial de homenagem ao rock n’ roll foi escolhida em 1985, no evento Live Aid, realizado simultaneamente em Londres, no Reino Unido, e na Filadélfia, nos Estados Unidos. O objetivo do evento era arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia. Esse evento teve a participação de diversas bandas de rock, e foi transmitido para milhares de pessoas em TV aberta. Inclusive, o filme Bohemian Rhapsody conta um pouco da trajetória de Freddy Mercury, vocalista da banda Queen, e mostra cenas de arrepiar da banda que teve uma das apresentações mais lendárias do Live Aid. Vale a pena conferir! 

A ciência e a biotecnologia são temas de muitas canções de rock, que sempre foi, e ainda é, um dos gêneros musicais que mais apresenta reflexões críticas à sociedade. Conceitos sociológicos, crises sociais e políticas, problemas crônicos e desigualdades com as minorias são relatadas em muitas canções. A biotecnologia, muitas vezes ambígua, não poderia ficar de fora dessa. 

Biotecnologia é mesmo um Godzilla?

Em 1993, a banda de rock Sepultura lançava a música chamada Biotech is Godzilla. Assim como muitas canções, esta traz uma crítica, desta vez à biotecnologia. A letra da música cita muitos temas que já eram polêmicos nos anos 1990 e que continuam gerando discussões atualmente.

Trechos da música “Biotech is Godzilla” da banda de rock Sepultura. #ParaTodosVerem: Trechos da música traduzidos em português são destacados em negrito, e logo abaixo estão no idioma original (inglês). Fonte: elaborado pela autora

A letra da música retrata a biotecnologia como um monstro. “De células da própria vida” faz referência à utilização de células tronco embrionárias, processo que sofreu duras críticas da mídia. Os debates sobre esse tema não tiveram uma resolução, mas muito se avançou no assunto e regulamentações foram criadas. No Brasil, a Lei Federal 11.105, de 24 de março de 2005, permite o uso de células-tronco embrionárias para pesquisa e terapia, desde que siga algumas regras, tais como:

(i) As células devem ser obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro, que não foram utilizados no procedimento de fertilização e que foram mantidos congelados por mais de três anos.

(ii) Os genitores devem consentir o uso das células.

(iii) É proibida a comercialização de material biológico para esse uso. 

Nessa mesma lei, a clonagem humana foi proibida.

Voltando à música do Sepultura, “Cubatão… a cidade mais poluída do mundo”. Para quem não conhece essa história, Cubatão é uma cidade de São Paulo, que recebeu esse título pois em 1960 tinha 18 grandes indústrias, sendo uma refinaria, uma siderúrgica, sete de fertilizantes e nove de produtos químicos. As indústrias trabalhavam intensamente e liberavam enormes quantidades de poluentes no ar e nos rios, o que levou ao desaparecimento de peixes e pássaros e graves consequências à saúde da população, como bebês com mortes prematuras ou que nasciam com problemas respiratórios e neurológicos. 

A cidade começou a se reerguer após alerta da ONU (Organização das Nações Unidas) que fez o governo do Estado de São Paulo tomar medidas para controlar os poluentes liberados no ar e recuperar os rios. Em 2011, a cidade de Cubatão conseguiu controlar 100% da poluição, tornando-se exemplo mundial de recuperação ambiental.

No fim da música, o Sepultura canta que a “biotecnologia não é o que é tão ruim”, mas o problema está em quem a utiliza, “está nas mãos erradas”. Por isso, devemos continuar difundindo a biotecnologia e lutando para que seja usada para o bem da sociedade. 

Rockeiros que também são cientistas

Não só as canções, mas os astros que dão vida e voz a elas também estão ligados à ciência. O guitarrista do Queen, Brian May, que estava ao lado de Freddy Mercury no Live Aid, é também astrofísico. Em 2007, May voltou aos estudos para concluir o doutorado que havia iniciado nos anos 1970, mas que precisou abandonar em função do sucesso da banda. Ainda hoje, May publica os resultados de suas pesquisas e também realiza colaborações com a NASA, contribuindo para a missão New Horizons, rumo à Plutão. May compôs a música New Horizons em homenagem à chegada da sonda homônima no astro mais distante do nosso planeta já explorado.

Dexter Holland, um dos fundadores da banda Offspring, formou-se em Biologia pela Universidade do Sul da Califórnia, com mestrado em Biologia Molecular. O vocalista e guitarrista chegou a começar um doutorado na área, mas assim como o guitarrista do Queen, abandonou os estudos para se dedicar à banda. Em 2013, Holland voltou para o doutorado no Laboratório de Oncologia Viral e Pesquisa Proteômica, na Universidade do Sul da Califórnia, onde estuda o material genético do HIV (sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana) e formas de combater o vírus. Inclusive, esse foi o vírus, cantado por Rita Lee como o “Vírus do amor”, que levou à morte muitos dos maiores artistas de rock da história, como Freddie Mercury, Cazuza e Renato Russo.

A iraniana Pardis Sabeti é a geneticista que responsável pelo desenvolvimento de ferramentas (como método estatístico e algoritmos) capazes de identificar seções do genoma sujeitas à seleção natural e explicar a influência da genética na evolução de doenças. Sabeti é vocalista e compositora da banda de rock Thousand Days, professora da Universidade de Harvard e chefe do laboratório que leva seu nome. Durante a epidemia do vírus Ebola, foi selecionada como uma das pessoas mais influentes do ano, pela revista norte-americana TIME. 

Dias de luta, dias de glória

A biotecnologia é cheia de dúvidas. Já discutimos muito sobre células troncos, clonagem, alimentos transgênicos.  Alguns são contra, outros a favor. O fato é que muita gente não conhece a biotecnologia, não sabe da quantidade de estudos que existem por trás de tudo o que chega ao mercado e à mídia ou não tem contato com os profissionais sérios que dedicam suas vidas a essas descobertas. 

Como em qualquer outra área, existem riscos. O fato é que, por meio da biotecnologia, ocorreram muitos avanços na medicina, agricultura, indústria farmacêutica, alimentícia e diversas outras áreas. Nas mãos corretas, podemos colher bons frutos dessa ciência. O mais importante é difundir as informações corretas sobre a biotecnologia e continuar curtindo um bom e velho rock n’ roll! 

Referências 

MARASCIÚLO, Marília. Rock e ciência: conheça os roqueiros que também são cientistas. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Cultura/Musica/noticia/2019/07/rock-e-ciencia-conheca-os-roqueiros-que-tambem-sao-cientistas.html. Acesso em: 14 jun. 2023.
ROCK com Ciência: Biotecnologia não é um monstro (S01E02). Entrevistado: Dr. Luciano Bueno. 12 set. 2010. Podcast. Disponível em: https://rockcomciencia.crp.ufv.br/?p=106. Acesso em: 14 jun. 2023.
SITE Pensamento Verde. 2014. A história da poluição em Cubatão e como a cidade deixou de ser o “Vale da Morte”. Disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/sustentabilidade/historia-poluicao-cubatao-cidade-deixou-vale-morte/#:~:text=Na%20d%C3%A9cada%20de%201960%2C%20Cubat%C3%A3o,e%20invasiva%20ao%20meio%20ambiente. Acesso em: 14 jun. 2023.
TAKEUCHI, Carlos Augusto, UENIS, Tannuri. A polêmica da utilização de células-tronco embrionárias com fins terapêuticos. Revista da Associação Médica Brasileira, 52 (2006): 63-63.
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