Estamos há quase dois anos na pandemia da COVID-19, e infelizmente os noticiários ainda expõem números alarmantes. A cada dia ouvimos falar do surgimento de uma nova variante e nos perguntamos: quando iremos superar o vírus? Quando todos estarão imunizados? Neste contexto, muito se discute sobre uma imunidade de rebanho, na qual o vírus tem sua contaminação desacelerada por uma imunização coletiva. Contudo, a COVID-19 é muito similar ao vírus da gripe, ou seja, a imunização dura pouco e a velocidade de transmissão é alta. Desta forma é imprescindível acelerar a vacinação para podermos superar esta doença.

  A pandemia da desinformação        

 A COVID-19, causada pelo vírus da síndrome respiratória aguda do coronavírus (SARS-CoV-2),  é considerada a maior catástrofe de doença infecciosa do século 21. 

Uma doença como esta, com propagação global e impacto político sem precedentes, resultou em um excesso de opinião não-técnica sobre conceitos de  infectologia e imunologia, ocasionando pânico geral e excesso de desinformação.

 E é neste cenário, que são propagadas notícias de “shots de imunidade”, remédios caseiros, ou até simplesmente escolher deixar o vírus se propagar na esperança que este desacelere sozinho. No entanto, apesar de não agradável, a verdade é uma só: não existe uma solução mágica e devemos nos embasar na ciência para enfrentarmos o vírus. 

O que é imunidade de rebanho?

      Em termos simples, a imunidade de rebanho é dada a partir da obtenção de um limiar de imunidade, geralmente de 60 a 67% da população, que reduz a probabilidade de o vírus infectar indivíduos susceptíveis. Essa imunidade coletiva pode ser induzida de forma natural, por disseminação da doença na população, ou por imunização pela vacinação em massa.  As figuras abaixo indicam como funciona a imunidade coletiva sem e com a imunização por vacinas.

Esquema de propagação da COVID-19 sem a imunização por vacinas.
Propagação da COVID-19 sem a imunização por vacinas. Fonte: Próprio autor.  #Paratodosverem: A ilustração dispõe de dois diagramas unidos por uma seta para a direita. Os grupos apresentam dois tipos de ícones, em vermelho ícone indicando pessoa contaminada e em preto ícone indicando pessoa suscetível. O diagrama da esquerda apresenta um grupo de 16 ícones, no qual 3 são ícones vermelhos e 13 são ícones pretos.  O diagrama da direita apresenta um grupo de 16 ícones, no qual 9 são ícones vermelhos e 7 são ícones pretos, indicando a fácil disseminação do vírus.  A ilustração apresenta o texto: “Fácil disseminação do vírus”.
Esquema de propagação da COVID-19 após a imunização
Propagação da COVID-19 após a imunização. Fonte: próprio autor. #Paratodosverem: A ilustração dispõe de dois diagramas unidos por uma seta para a direita. Os grupos apresentam três tipos de ícones: em vermelho ícones de pessoas contaminadas, em preto ícones de pessoas suscetíveis e em azul ícones de pessoas imunizadas. O diagrama da esquerda apresenta um grupo de 16 ícones, no qual 3 são ícones vermelhos, 7 são ícones vermelhos e 9 são azuis.  O diagrama da direita apresenta um grupo de 16 ícones, no qual 4 são ícones vermelhos, 4 são ícones pretos e 8 são ícones azuis. A ilustração apresenta o texto: “Baixa disseminação do vírus”.

Frente aos desafios da pandemia, sobretudo em países em desenvolvimento, com baixos recursos de auto subsistência e sistemas de saúde precários, inicialmente alguns países pareciam colocar sua fé na imunidade de rebanho adquirida naturalmente. 

 No entanto, segundo Michael Ryan, epidemiologista da Organização Mundial da Saúde (OMS), que alertou em julho de 2020: “Não estamos nem perto dos níveis de imunidade exigidos para impedir a transmissão desta doença. Precisamos nos concentrar no que podemos realmente fazer agora para suprimir a transmissão e não viver na esperança de que a imunidade do rebanho seja nossa salvação”. 

É importante frisar, que a imunidade coletiva nunca deve ser planejada permitindo que as pessoas fiquem doentes. Não há sistema de saúde no mundo que sustente um número tão alto de doentes, e cedo ou tarde teríamos que escolher quem tratar devido a sobrecarga dos leitos. Deste modo, a principal solução é “achatar a curva de contágio”, que pode ser visualizada na ilustração abaixo:

Gráfico das curvas comparativas da progressão estimada do número de casos de COVID-19 em relação à capacidade do sistema de saúde.
Curvas comparativas sobre a progressão estimada do número de casos de COVID-19 em relação à capacidade do sistema de saúde, em um cenário com medidas protetivas e sem medidas protetivas. Fonte: Próprio autor. #Paratodosverem: No eixo x, o tempo; e no eixo y, o número de casos de COVID-19. A figura apresenta duas curvas de dispersão, uma menor e uma maior: A curva maior, em cinza escuro, apresenta o texto “ sem medidas protetivas” e a curva menor, em cinza claro, apresenta o texto “com medidas protetivas”. No gráfico há  um limiar determinado: “Capacidade do sistema de saúde”; A curva cinza escuro ultrapassa o limiar e a curva cinza claro não ultrapassa o limiar.

Mas o que é a tal curva? A curva de contaminação mostra o número de pessoas contaminadas pelo tempo. A ideia é minimizar o número de contágios, através da limitação do fluxo de pessoas de uma forma que não haja sobrecarga nos hospitais e redes de saúde. Para isso é de vital importância respeitar as políticas de “lockdown”, restringir aglomerações, usar máscaras de proteção, manter a higienização das mãos e superfícies e, sobretudo, se vacinar quando chegar a sua vez.

A vacinação é a forma mais eficaz, e cientificamente comprovada, de frear a contaminação e o surgimento de novas variantes do coronavírus. Por isso, é importante que todos os cidadãos se vacinem. É importante frisar também que: as vacinas contra COVID-19 são completamente seguras. Todas são licenciadas e rigorosamente testadas. Além disso, o acesso às doses é gratuito, com distribuição pelo Sistema Único de Saúde – SUS. 

Uma preocupação: o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2

 O surgimento de variantes é um processo natural no ciclo viral de qualquer vírus e quanto mais tempo o vírus SARS-CoV-2 estiver circulando, maior a chance de surgirem novas variantes, como a GAMA (P.1), ALPHA (B.1.1.7), BETA (B.1.351), e DELTA (B.1.617). Todas estas estão sendo classificadas como variantes de preocupação pela OMS  pois apresentam um maior risco para a saúde pública, sobretudo em relação a transmissão do vírus. Estas novas cepas têm se apresentado mais infecciosas, o que pode significar que causem  doenças mais graves ou permitam que o vírus resista às vacinas em uma proporção maior dos casos. As variantes, ALPHA, BETA e GAMA compartilham uma mutação chamada de N501Y, que pode torná-las mais contagiosas. As variantes BETA e GAMA compartilham a mutação E484K, que tem o potencial de reduzir a imunidade adquirida por uma infecção passada, aumentando a chance de reinfecção, o que põe novamente em dúvida a viabilidade de uma imunização coletiva a partir de infecção em massa.

Imunidade coletiva é com a vacinação em massa!

Atualmente mais de 194 milhões de pessoas já contraíram o vírus (dados de julho de 2021, Worldometer), e a vacinação é a principal arma frente ao vírus. Estudos indicam que a vacina Astrazeneca é eficaz contra outras variantes do vírus. Os resultados já podem ser vistos na Inglaterra, que possui mais da metade da população vacinada. Em abril de 2021, cerca de 31 milhões de ingleses já haviam tomado ao menos uma das doses da vacina, com o número de mortos caindo para 10.  

No Brasil, já conseguimos ver resultados animadores da vacinação. O Projeto S, estudo clínico conduzido pelo Instituto Butantan em Serrana (SP),  comprovou a eficácia da CoronaVac, vacina desenvolvida em conjunto com a Sinovac (China).  A imunização de toda a população (maior de 18 anos) reduziu  os casos sintomáticos (80%), as internações (86%), e as mortes (95%) após a segunda dose. Ocorreu também a  redução de casos em pessoas que não receberam a vacina (menores de 18 anos). Isso demonstra o  poder da vacinação em  frear a circulação do vírus, reforçando que a vacinação é uma medida de saúde coletiva, e não somente individual. Estes resultados demonstram cada vez mais como a vacinação é a principal ferramenta no enfrentamento da COVID-19.

 Em meio a pandemia toda ação influencia o coletivo, e por isso é importante divulgar informação qualificada para aqueles que não tem acesso. Afinal, somente com informação de qualidade, medidas de prevenção da doença  e vacinação em massa iremos superar a COVID-19. Em um período tão nebuloso da nossa história, precisamos priorizar informações verificadas e comprovadas cientificamente. Por isso, continue ligado nos conteúdos do Profissão Biotec sobre COVID-19, vacinação e dicas de como identificar Fake news

Texto revisado por Natália Videira e Bruna Lopes

Cite este artigo:
LEAL, G. C. Imunidade de rebanho – o que é e como atingi-la contra a COVID-19? Revista Blog do Profissão Biotec, v. 8, 2021. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/imunidade-de-rebanho-contra-covid-19/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências:
FONTANET, Arnaud; CAUCHEMEZ, Simon. COVID-19 herd immunity: where are we?. Nature Reviews Immunology, v. 20, n. 10, p. 583-584, 2020.
KADKHODA, Kamran. Herd Immunity to COVID-19: Alluring and Elusive. (2021): 471-472.
RANDOLPH, Haley E.; BARREIRO, Luis B. Herd immunity: understanding COVID-19. Immunity, v. 52, n. 5, p. 737-741, 2020.

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