Você sabia que a pele é o maior órgão do corpo humano? É a primeira barreira física entre o nosso organismo e o ambiente externo, responsável por cerca de 15% do nosso peso corporal. Assim como o intestino, a pele também é colonizada por microrganismos, que formam a microbiota da pele, uma comunidade formada por diversas espécies diferentes e que ainda precisa ser muito explorada!
Esses microrganismos variam entre bactérias, fungos e até vírus, embora a esmagadora maioria seja de bactérias. A composição das espécies também varia de acordo com o microambiente da pele onde crescem: oleoso (rosto e costas); hidratado (curva interna do cotovelo e joelho) e seco (antebraços).
Microrganismos que residem na pele em geral estabelecem uma relação comensal ou mutualista. O comensal é aquele que se beneficia de um ser vivo – no caso, a gente – mas sem lhe causar danos. O mutualismo significa que ambos se beneficiam na relação.
A microbiota da pele é importante pois ajuda a prevenir a exposição a patógenos que competem pelo espaço na pele, além de atuar no fortalecimento do sistema imune. Porém, em alguns casos ela também pode estar relacionada com o desenvolvimento de doenças ou condições cutâneas indesejadas.
Veja a seguir 4 exemplos de microrganismos que fazem parte da sua pele e o que sabemos sobre eles!
1- Staphylococcus aureus
Um membro comum da microbiota da pele, também muitas vezes presente no trato respiratório. Geralmente vive como um microrganismo comensal. Contudo, Staphylococcus aureus também pode agir como um patógeno oportunista (isto é, pode causar doença se houver baixas no sistema imune), sendo responsável por algumas infecções de pele e sistêmica graves.
A ação dessa bactéria tem sido relacionada com eczema (dermatite atópica), uma inflamação cutânea que causa coceiras, vermelhidão e outros sintomas em algumas partes do corpo. S. aureus também é um problema de saúde pública, pois a variante resistente a antibióticos (Staphylococcus aureus-meticilina resistente) é muito comum e cada vez mais frequente em infecções hospitalares.
2- Propionibacterium acnes
Esse é o microrganismo mais abundante na pele de adultos saudáveis. Como o próprio nome sugere, é a principal bactéria causadora da acne, mas que no entanto não é uma bactéria necessariamente ruim. A maioria das pessoas possuem essa bactéria na pele, mas apenas uma parte delas desenvolve acne, o que demonstra que a condição está principalmente relacionada com o estado da pele, especialmente excesso de oleosidade.
Embora a substância sebosa que produzimos atue geralmente como uma camada antimicrobiana, Propionibacterium acnes consegue utilizar isso em seu favor. A bactéria hidrolisa os lipídios do sebo em moléculas de ácidos graxos livres, que ajudam a promover a aderência da bactéria na glândula sebácea/pele.
Além disso, P. acnes é um anaeróbio facultativo. Quando a glândula sebácea fica obstruída, devido o excesso de oleosidade da pele, a bactéria consegue sobreviver sem oxigênio e colonizar o interior do poro, levando ao processo inflamatório.
3- Staphylococcus epidermidis
Staphylococcus epidermidis é uma bactéria da microbiota da pele, formadora de biofilme e geralmente não patogênica, embora possa causar infecções ocasionalmente. Um grande problema relacionado a essa espécie são as infecções por biofilmes que ela causa em implantes cirúrgicos, como cateteres e próteses.
Algumas pesquisas têm relatado o potencial de S. epidermidis na produção de compostos antimicrobianos, sendo capaz de inibir o crescimento de S. aureus, por exemplo. Essas evidências ainda estão em estudo mas indicam que existem várias relações de equilíbrio entre os microrganismos da pele – o que pode ser usado a nosso favor futuramente.
4- Malassezia spp
Nem só de bactéria vive a microbiota da nossa pele. Embora pesquisas mostrem uma dominância de bactérias, alguns gêneros de fungos também fazem parte dessa comunidade, sendo o gênero Malassezia o mais comum.
Espécies do gênero Malassezia utilizam os lipídios presentes no sebo da pele para sua sobrevivência, uma vez que são incapazes de produzir seus próprios lipídios. Por esse motivo, esse tipo de fungo está mais presente nas zonas oleosas. O papel desse grupo na saúde da pele ainda não é bem elucidado.
Perspectivas biotecnológicas para a microbiota da pele
Ao contrário do intestino, a comunidade microbiana da pele ainda não é tão bem conhecida. A caracterização dos microrganismos da pele pode exercer um papel muito importante para o entendimento de doenças e condições cutâneas. Além disso, entender melhor a nossa interação com essas bactérias e a interação entre elas pode ajudar a descobrir possíveis aplicações biotecnológicas e outros benefícios.
É com esse pensamento que nasceram algumas startups de Biotecnologia com a proposta de oferecer soluções para problemas de pele focando na microbiota. Duas dessas startups receberam altos investimentos recentemente para progredirem nas suas linhas de pesquisa que exploram a comunidade microbiana da pele.
Uma das abordagens são os probióticos de uso tópico. Probióticos são produtos contendo microrganismos vivos que podem ser administrados ou consumidos com a intenção de trazer algum benefício para a saúde, que é o exemplo dos leites fermentados. A ideia ao utilizá-los na pele é restaurar o equilíbrio entre as bactérias, favorecendo as que são inofensivas em detrimentos das oportunistas/patogênicas, o que poderia ser usado como um tratamento probiótico para acne, por exemplo.
Outras ideias também estão sendo desenvolvidas, inclusive em empresas que já oferecem produtos para pele. As abordagens de estudo existentes podem ser divididas em:
- Probióticos – uso de microrganismos vivos (inofensivos e/ou benéficos) na pele;
- Prebióticos – aplicação de nutrientes para estimular o crescimento das bactérias “do bem” (não causadoras de doença);
- Pós-bióticos – utilização de subprodutos benéficos, provenientes de extratos de bactérias;
- Remoção de microrganismos da pele especialmente relacionados a condições indesejadas/doenças.
Muitas aplicações ainda estão em fase de testes pré-clínicos e mais estudos precisam ser feitos nessa área. Outras pesquisas buscam entender melhor como a microbiota interage com produtos para pele que utilizamos e como pode influenciar na ação desses produtos. Ainda assim, essas empresas já mostram uma possível tendência nesse mercado: tratamentos para pele baseados na microbiota.
Bactérias da pele frequentemente apresentam mecanismos de adaptação para resistir às condições desfavoráveis do ambiente – como escassez de água e falta de nutrientes -, e são muitas vezes difíceis de cultivar. Por esse motivo, sequenciamento de material genético tem sido amplamente utilizado para estimar a diversidade de espécies e cepas residentes na pele. Todas essas descobertas podem levar a novos usos na biotecnologia!
Gostou de conhecer alguns microrganismos que vivem na sua pele? Talvez você também goste desse texto: Depois de um banho de mar, o microbioma da sua pele não é mais o mesmo.
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Referências:
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