Novas abordagens no combate ao Câncer: Nanofármacos e a Imuno-oncologia

nanofármacos

O Câncer é atualmente um dos grandes desafios da Ciência e um grande problema de saúde pública. Para 2017, projeta-se que que apenas nos Estados Unidos serão descobertos 1,68 milhões de novos casos e que 600 mil mortes ocorrerão devido a esta doença, sendo a segunda maior causa de morte no país. O câncer têm potencial de iniciar em praticamente qualquer lugar do corpo, referindo-se como um grupo de doenças onde as células se dividem de maneira descontrolada e que podem invadir outros tecidos. Esta divisão descontrolada ocorre devido à um acúmulo de mutações no genoma das células, alterando o funcionamento de genes importantes e levando a desregulação de processos como divisão celular, apoptose, senescência, entre outros essenciais para o controle do crescimento celular.

Em 2000, foi publicado um artigo propondo as famosas Hall marks do câncer, no qual foram indicadas seis características importantes durante o processo de desenvolvimento do câncer (Figura 1). Estas seis características são: Manutenção da sinalização proliferativa, evasão dos supressores de crescimento, ativação da invasão e metástases, indução de angiogênese,imortalidade replicativa e resistência a morte celular.

Figura 1 – As seis Hall marks do Câncer proposto em artigo publicado pela revista Cell em 2000. (Fonte: Hanahan, 2000)

Uma década após, com o avanço dos conhecimentos sobre estas doenças, estas Hall marks foram atualizados com outras quatro características: Desregulação energética celular, instabilidade e mutações no genoma, indução da inflamação e evasão do sistema imune (Figura 2).

Figura 2 – As Hall marks do Câncer atualizadas em 2011 com quatro novas características. (Fonte:  Hanahan e Weinberg, 2011)

 

Este último fator, tem sido amplamente estudado na área de Imuno-oncologia que busca compreender os componentes do sistema imunológico que são importantes para a imunossupressão e rejeição tumoral, e para entender como, quando e por que falham. Além disso, a imunoterapia pode ser uma ótima alternativa quando comparada aos quimioterápicos convencionais, que apesar da sua importância clínica atualmente, frequentemente causam toxicidades severas nos pacientes, diminuindo a eficácia da droga.

A imunoterapia busca o fortalecimento do sistema imunológico do paciente, melhorando sua capacidade de reconhecer o tumor. Devido a estas características, essa  abordagem de tratamento promete uma cura para toda a vida, já que o sistema imune teria grande capacidade de destruição do tumor sem causar toxicidade aos tecidos saudáveis e a memória imunológica iria diminuir as possibilidades de recorrência. E entre todos, os nanofármacos (nanopartículas conjugadas com fármacos) se mostram bons candidatos para a utilização neste tipo de terapia.

As nanopartículas têm sido amplamente utilizadas em diversos produtos e processos como: cosméticos, protetor solar, catálise industrial, tratamento de efluentes e drug delivery (abordagens, formulações, tecnologias e sistemas para transportar fármacos no corpo conforme necessário para conseguir com segurança o seu efeito terapêutico desejado). Estas partículas têm sido utilizadas para a função de drug delivery porque suas características físico-químicas são interessantes para a modificação do perfil farmacocinético dos agentes quimioterápicos convencionais, fazendo com que sejam distribuídas de maneira seletiva em maiores concentrações do agente no tumor, diminuindo os efeitos colaterais e aumentando sua eficácia. Contudo, apesar de um maior acúmulo nas regiões tumorais, os testes realizados utilizando as nanofármacos não se mostraram tão eficientes quanto o esperado.  Apenas 0,7% das nanopartículas chegam ao tumor. Isso porque existem barreiras fisiológicas que impedem a sua efetividade (eliminação pelo sistema renal, barreiras especializadas [barreira hematoencefálica], interação com moléculas não-alvo, etc) e ainda há um acúmulo considerável em outros tecidos (Figura 3).

Figura 3 – Locais por onde os nanofármacos devem passar antes de chegar a região tumoral, se acumulando nesses locais e sendo eliminados da corrente sanguínea. (Fonte: Jiang et al., 2017)

No entanto, estudos demonstram que as nanopartículas podem ser direcionadas a atuar muito longe do tumor, ao contrário do que majoritariamente tem se realizado até agora, induzindo a imunidade anti-tumoral, de modo que as células imunológicas ativadas possam então atacar o tumor e exercer os efeitos terapêuticos. Cada vez mais as nanopartículas têm sido exploradas com o intuito de carrear os agentes imunoestimulatórios ou modular vias específicas do sistema imune para aumentar a imunidade antitumoral. Esta abordagem estimula tanto o sistema inato quanto o adaptativo.  

Com isso alguns problemas são resolvidos. Estes imunoestimulatórios não causam toxicidade aos tecidos comuns, como acontece com agentes altamentes citotóxicos utilizados em nanofármacos que tenta atacar diretamente o tumor, e as células imune possuem grande capacidade de atravessar as barreiras presentes no nosso corpo para atingir o tumor. E esta estimulação pode ser feita através de diversas formas (Figura 4)

Figura 4 – As diversas moléculas que podem ser utilizadas conjugadas com nanopartículas para ativar várias vias da cascata de sinalização do sistema imune. (Fonte: Jiang et al., 2017)

Ainda há muito a ser feito e estudado para que isso seja realmente levado até os pacientes que necessitam, mas este é um dos campos mais promissores na busca pela cura dessas doenças que têm desafiado os pesquisadores e destruído tantas famílias.

 

Referências bibliográficas:

Douglas Hanahan, Robert A. Weinberg. Hallmarks of Cancer: The Next Generation. Cell, v. 144, p. 646-674, 2011.

  1. J. Finn. Immuno-oncology: understanding the function and dysfunction of the immune system in cancer. Annals of Oncology. v. 23, 2012.

Rebecca L. Siegel , Kimberly D. Miller , Ahmedin Jemal. Cancer statistics 2017. A Cancer Journal for clinicians, v. 67, p. 7–30, 2017.

Wen Jiang, Christina A. von Roemeling, Yuanxin Chen, Yaqing Qie, Xiujie Liu, Jianzhu Chen, Betty Y. S. Kim. Designing nanomedicine for immuno-oncology. Nature (Biomedical Engeneering), v.1, 2017.

Bibliografia consultada:

http://www.azonano.com/article.aspx?ArticleID=3607

https://www.cancer.gov/about-cancer/understanding/what-is-cancer

http://www.infoescola.com/biologia/sistema-imunologico/

 

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