Conheça o ODS 11 e entenda como a biotecnologia pode impactar a gestão de resíduos, as construções e a economia de cidades sustentáveis.

As cidades estão ficando pequenas para tanta gente. A população mundial já passa dos 7,8 bilhões e mais de 56% dessas pessoas vivem em áreas urbanas. Com o aumento dos assentamentos urbanos, o desafio é manter a sustentabilidade social, econômica e ambiental das cidades.

Por conta disso, a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que reúne 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável, determinou as metas para o Objetivo 11 para Cidades e Comunidades Sustentáveis.

Essas metas pedem ações complexas e multidisciplinares. E a biotecnologia não está de fora! Entenda em quais metas a biotecnologia  pode contribuir e exemplos de como ela pode ajudar o objetivo de desenvolvimento sustentável 11!

O que é o ODS 11?

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11 tem como objetivo tornar cidades e comunidades sustentáveis, ou seja, mais inclusivas, seguras e resilientes.

A ONU estima que até 2030 existirão 41 megalópoles no mundo, cada uma delas com mais de 10 milhões de habitantes. Considerando que a pobreza extrema e as desigualdades sociais são mais acentuadas em grandes cidades, é preciso construir e gerir estes espaços urbanos de maneira correta.

Para isso, as metas do ODS 11 abordam temas relacionados à urbanização, como mobilidade, gestão de resíduos e moradia.

Quais as metas do ODS 11?

O ODS 11 tem um total de 10 metas a serem cumpridas até 2030 que contribuem para atingir o objetivo. Dentre as metas envolvidas no ODS 11, estão:

  • Reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades (…);
  • Aumentar a urbanização inclusiva e sustentável (…);
  • Garantir o acesso de todos a habitação segura, adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos, além de urbanizar as favelas.

A urbanização no Brasil

A fim de entender a dimensão dos problemas urbanos no Brasil, é preciso entender o processo de urbanização do país. 

Em 1950, a população brasileira vivia essencialmente na área rural e somente 36,1% vivia nas cidades. Em apenas 70 anos, a população total do país quase quadruplicou, e a quantidade de pessoas vivendo em áreas urbanas subiu para 87,1%.

A industrialização dos centros urbanos e a mecanização da agropecuária provocaram o êxodo rural, ou seja, a migração das populações da área rural para a área urbana em um curto período de tempo. Por consequência, surgiram grupos marginalizados nas cidades e o processo de favelização, além de outros problemas de infraestrutura urbana.

3 contribuições da biotecnologia para cidades e comunidades sustentáveis

Analisando o cenário da urbanização no Brasil, e no mundo, e algumas das metas do ODS 11 começam a surgir soluções para combater os problemas das comunidades e cidades.

Confira 3 contribuições da biotecnologia para atingir essas metas e tornar as áreas urbanas mais sustentáveis.

1- Construção civil

Colher de pedreiro
#pracegover: Colher de cimento de metal com cabo de madeira, usada e apoiada sobre azulejos. Fonte: Imagem por Haneen Krimly em Unsplash.

O acesso à habitação segura e adequada é um dos desafios da Agenda 2030. Na contramão dos materiais de construção que agridem o meio ambiente, a biotecnologia emprega organismos vivos e seus derivados para criar materiais mais sustentáveis, resistentes e baratos.

A produção de cimento tradicional emite 8% das emissões globais de dióxido de carbono por conta do combustível utilizado para a queima no forno. Empresas como a BioMason estão produzindo o que se chama biocimento, que utiliza bactérias para converterem areia e outros nutrientes em carbonato de cálcio dentro de alguns dias. O material final é semelhante à estrutura dos corais e resistente o suficiente para a construção civil.

O mesmo conceito foi aplicado para a invenção do bioconcreto, que mistura concreto tradicional com colônias da bactéria Bacillus pseudofirmus e lactato de cálcio na sua estrutura. Esses microrganismos são extremamente resistentes a ambientes inóspitos e podem sobreviver por até 200 anos dentro do concreto. Sua finalidade é restaurar rachaduras que surgem no concreto, economizando na manutenção de casas e edifícios.

Um outro material biológico que pode ser agregado ao cimento tradicional e que reduz seu uso são as fibras vegetais. Engenheiros da Universidade de Lancaster usaram partículas de cenoura e beterraba para aumentar a performance do concreto e diminuir o número de fissuras no material.

Já para o isolamento de habitações, a resposta pode estar nos micélios de fungos! Alguns fungos possuem a habilidade de produzirem emaranhados de células conhecidas como micélios para a captação de nutrientes. Esses micélios podem constituir formas diferentes quando se fixam no substrato que servirá de base para seu desenvolvimento, composto normalmente de resíduos agrícolas.

Após o crescimento, é possível inativar o fungo e transformar a estrutura em uma forma desejada. A Ecovative Design é uma empresa americana pioneira nesse ramo, utilizando os micélios para produção de embalagens que vem ganhando destaque e parcerias com empresas como a Dell.

No Brasil, a startup Mush (fundada em 2019) também busca trabalhar com os micélios para geração de novos produtos sustentáveis, com o desenvolvimento de materiais para construção civil e arquitetura. Além do apelo sustentável e design, possibilita a criação de ambientes com isolamento acústico e térmico, baixa densidade, resistência mecânica e resistência a chamas. 

2- Gestão de resíduos e economia colaborativa

Com o aumento dos assentamentos urbanos, cresce a demanda por gestão adequada de resíduos. No tratamento de efluentes urbanos, são usadas bactérias e outros microrganismos para degradar a alta carga de materiais orgânicos presentes no esgoto. Isso pode ser feito com processos aeróbicos ou anaeróbicos, ou seja, na presença ou ausência de oxigênio, respectivamente. No segundo caso, o tratamento gera um subproduto bastante valioso, o biogás.

O biogás é uma fonte de energia que pode ser convertida em combustível para veículos, gás de uso doméstico ou energia elétrica. Ele é uma mistura de gases gerados durante a decomposição anaeróbica de material orgânico, e seu principal componente é o gás metano. Mas não é só nas estações de tratamento de efluentes que ele pode ser capturado.

Os biodigestores, nome dado para os equipamentos dentro dos quais o biogás é gerado e armazenado, podem ter diferentes formatos e tamanhos. É possível inclusive ter um biodigestor na sua casa ou comunidade, para gestão de resíduos orgânicos e geração de biometano que pode ser aproveitado nos domicílios como gás de cozinha ou até como energia elétrica, dependendo da tecnologia envolvida.

O conceito de gestão de resíduos comunitária para benefício comum está inserido na ideia de economia colaborativa, na qual bens e serviços são compartilhados. Além de produzir biogás com os resíduos orgânicos da sua comunidade, outra aplicação biotecnológica é a compostagem. Os subprodutos desse processo são o húmus e o chorume, que podem ser utilizados como fertilizantes para uma horta em comum ou outra finalidade.

3- Empresas biotecnológicas

Foto de uma cientista
#pracegover: Biotecnologista vestindo jaleco, luvas e óculos de segurança, manuseando equipamento de sequenciamento genético. Fonte: National Cancer Institute em Unsplash.

A bioeconomia está relacionada com a geração de valor a partir de produtos baseados em recursos biológicos renováveis, sendo uma das grandes apostas para a inovação e sustentabilidade no mundo todo.

Por isso, a presença de empresas biotecnológicas em centros urbanos é fundamental, pois cria empregos, movimenta a economia local, fortalece a pesquisa científica e fornece produtos e serviços sustentáveis para o ecossistema no qual estão inseridas. Empresas como as citadas ao longo do texto são exemplos de contribuição para melhorar a infraestrutura e a sustentabilidade, além de impulsionar a economia das cidades.

No Brasil, as empresas de biotecnologia estão concentradas nos grandes centros urbanos das regiões sudeste e sul, como mostra o Mapa do Profissão Biotec, com foco nas áreas de saúde humana, saúde animal, agricultura e insumos. Vale a pena conferir quais empresas estão perto de onde você mora!

Em busca de cidades e comunidades mais biotecnológicas

As contribuições da biotecnologia para o ODS 11 de cidades e comunidades sustentáveis são apenas algumas das alternativas e incentivos que essa área traz para os centros urbanos. 

As inovações biotecnológicas tem um potencial enorme de tornar produtos e processos mais econômicos para as cidades e comunidades, além de reduzirem o impacto ambiental. Soluções como essas podem dar uma vida acessível, segura e adequada para mais pessoas.

Sofia
Texto revisado por Darling Lourenço e Bruna Lopes

Cite este artigo:
HOHMANN, S. ODS 11: a biotecnologia em cidades e comunidades sustentáveis. Revista Blog do Profissão Biotec, v.8, 2021. Disponível:<https://profissaobiotec.com.br/ods-11-a-biotecnologia-em-cidades-comunidades-sustentaveis/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

ECYCLE. O que é compostagem e como fazer. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/compostagem/>. Acesso em: 3 de junho de 2021.
NÓBREGA, H. R. O que é biogás? CIBiogás. Disponível em: <https://cibiogas.org/blog-post/o-que-e-biogas/>. Acesso em: 3 de junho de 2021.
PLATAFORMA AGENDA 2030. Objetivo 11: Cidades e comunidades sustentáveis. Disponível em: <http://www.agenda2030.com.br/ods/11/>. Acesso em: 3 de junho de 2021.
PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA. O que é tratamento biológico de efluentes? Disponível em: <https://tratamentodeagua.com.br/tratamento-biologico-efluentes/>. Acesso em: 3 de junho de 2021.
SILVA, J. Dia Mundial das Cidades e a urgência da sustentabilidade urbana. EcoDebate. Disponível em: <https://www.ecodebate.com.br/2020/11/02/dia-mundial-das-cidades-e-a-urgencia-da-sustentabilidade-urbana/>. Acesso em: 3 de junho de 2021.
Fonte da imagem destacada: Produzida pela autora.

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