Saiba como a biotecnologia agrícola e de alimentos pode ajudar o ODS 2 a atingir as metas de fome zero e agricultura sustentável.

Em 2019, quase 690 milhões de pessoas passaram fome no mundo. A insegurança alimentar e a subnutrição por falta de dietas saudáveis são um problema global que acomete principalmente a Ásia, África e a América Latina.

Ações concretas que reduzam a fome e produzam alimentos mais nutritivos são urgentes. Por isso, a temática foi incluída na Agenda 2030 da ONU, que pretende até essa data atingir 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

Diferentes áreas de conhecimento são capazes de contribuir com cada um desses objetivos, e a biotecnologia tem um papel imprescindível para a obtenção do ODS 2, do qual falaremos neste texto, e de muitos outros ODS da ONU que pedem soluções biológicas.

O que é o ODS 2?

O segundo objetivo de desenvolvimento sustentável da ONU não poderia abordar outro tema que não a fome. O ODS quer acabar com a insegurança alimentar e a má-nutrição, principalmente em crianças, para que todos tenham acesso a alimentos saudáveis.

E isso só poderá ser feito por uma agricultura sustentável e fomentada por tecnologia e acesso equitativo à terra.

Quais as metas do ODS 2?

O ODS 2 tem um total de 8 metas que contribuem para atingir esse objetivo. As metas envolvidas no ODS 2 e que tem relação com a biotecnologia são:

  • Até 2030, acabar com todas as formas de desnutrição (…).
  • Até 2030, garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas robustas (…).
  • Até 2020, manter a diversidade genética de sementes, plantas cultivadas, animais de criação e domesticados e suas respectivas espécies selvagens (…). No Brasil, essa meta está sendo mantida conforme indicador de número de recursos genéticos para alimentação protegidos, com um aumento de 119% entre 2016 e 2020;

Fome e agricultura no Brasil

Conforme o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, cerca de 19 milhões de brasileiros passaram fome no final de 2020 e 55,2% dos lares tiveram algum grau de insegurança alimentar. Esses números, influenciados pela pandemia de COVID-19, são equivalentes aos números de 2004.

No âmbito da agricultura, infelizmente o país vem batendo recordes de desmatamento e usando agrotóxicos que favorecem o agronegócio de maneira insustentável. Em contrapartida a isso, existe o Programa ABC de agricultura de baixa emissão de carbono que financia projetos de recuperação, novas tecnologias e sistema de produção sustentável para produtores.

Dois maquinários fazendo o processo de colheita
#pracegover: Cultivo agrícola com dois maquinários fazendo o processo de colheita. Fonte: Pexels.

6 formas da biotecnologia contribuir para a segurança alimentar e agricultura sustentável

A biotecnologia alimentar e agrícola são capazes de reduzir o cenário da fome que presenciamos no Brasil e no mundo, e colaborar com programas que incentivam o uso de tecnologia para uma agricultura mais sustentável.

Vamos conhecer algumas das aplicações biotecnológicas para o ODS 2?

Conservação de alimentos

A fermentação é uma forma ancestral de conservação de alimentos, que utiliza microrganismos que não prejudicam a saúde humana para metabolizar açúcares e outras moléculas presentes nos alimentos. Isso deixa o pH mais ácido e gera produtos que inibem o crescimento de microrganismos decompositores ou patogênicos.

Existem três formas de fermentação: lática, alcoólica e acética. Todas elas resultam na maior durabilidade do alimento e segurança alimentar, como é o caso do picles, do vinho e do vinagre, respectivamente.

Sem falar que além de durarem mais, são ótimas fontes de nutrientes, como vamos ver a seguir.

Alimentos probióticos e suplementos alimentares

Continuando a temática da fermentação, a ação de microrganismos não ajuda só na conservação, e sim no incremento do seu valor nutritivo. Isso ocorre pela disponibilidade de moléculas menores para absorção de nutrientes, como é o caso das proteínas que se tornam peptídeos; e pela presença de probióticos, que são microrganismos benéficos para nossa saúde.

Os probióticos estão presentes no iogurte, kefir, kombucha, kimchi, tempeh e outros produtos fermentados. Produzir em casa (com todos os cuidados higiênicos para não contaminar!) ou comprar esses alimentos são uma maneira de enriquecer a microbiota intestinal e ajudar o corpo a aproveitar melhor os nutrientes.

Outra forma de melhorar a nutrição do organismo é com os suplementos alimentares. E muitos deles dependem da biotecnologia para sua produção, como é o caso da vitamina C, vitamina B12, aminoácidos e nutrientes de microalgas.

Engenharia genética

O melhoramento genético na agricultura já acontece há muito tempo, mas se restringia à espécies correlacionadas. Com a chegada da engenharia genética, foi possível inserir genes que tornam os vegetais mais resistentes aos estresses bióticos. Além disso, as alterações genéticas podem aumentar a produtividade e o potencial nutritivo do vegetal (biofortificação), duas importantes estratégias para locais com escassez de alimentos e subnutrição.

Laboratório de cultivo vegetal
#pracegover: Laboratório de cultivo vegetal com prateleiras cheias de bandejas com plantas. Profissional de jaleco e óculos de proteção analisando uma prancheta. Fonte: Pexels.

Agricultura Celular

Um estudo concluiu que se todos nos tornássemos veganos, 100% dos objetivos para erradicação da fome e agricultura sustentável poderiam ser atingidos, enquanto que seguindo uma dieta carnívora essa porcentagem cai para 15%.Além dos gases do efeito estufa emitidos pelos animais, eles necessitam de grandes volumes de água e áreas de pastoreio e cultivo. Mas, e se fôssemos além de deixar de comer proteína animal?

É o que propõem a agricultura celular, que usa a engenharia genética para inserir genes de animais e plantas em microrganismos para que eles produzam diferentes tipos de alimentos. É o caso da Perfect Day, que utiliza leveduras para produzir leite sem ordenhar uma única vaca. Ou a Clara Foods, que produz clara de ovo sem galinhas.

Bioimpressão de alimentos

E se fosse possível produzir carne sem o abate animal e sem engenharia genética? É o que a Aleph Farms  e a Faculdade de Engenharia Biomédica do Technion de Israel propõe, por meio da bioimpressão 3D de células tronco bovinas e sem uso de soro fetal bovino ou adição de antibióticos.

As células são retiradas do animal uma única vez e depois são cultivadas em laboratório para se diferenciar em células musculares e de gordura. Depois, elas são inseridas na bioimpressora para formarem o bife perfeito.

Bioinseticidas e biofertilizantes

Uma questão alimentar que afeta diretamente nossa saúde é o uso de inseticidas e fertilizantes químicos durante o cultivo para evitar a contaminação por pragas e aumentar a produtividade. O contato a longo prazo com esses produtos tóxicos pode causar problemas neurológicos, câncer e desregulação hormonal.

Como alternativa temos bioinseticidas e biofertilizantes. Entre os produtos biológicos que combatem pragas, os mais conhecidos e comercializados são aqueles à base da bactéria Bacillus thuringiensis que produz substâncias que inibem fungos nos cultivos agrícolas. A Bacillus thuringiensis  pode ser aplicada no solo e raízes das plantas ou ter genes seus inseridos no genoma vegetal.

No caso dos biofertilizantes, os mais comuns são os subprodutos da compostagem, o húmus e o chorume, e da produção de biogás, o digestato. Eles podem ser aplicados tanto nas folhas e caules da planta, como adicionadas ao solo. Além de serem fonte de nutrientes para o vegetal, também regulam o pH do solo.

Biotecnologia alimentar e agrícola pelo ODS 2

Agora que você sabe mais sobre o objetivo de desenvolvimento sustentável 2 da ONU, é possível compreender o importante papel da biotecnologia alimentar e agrícola para alcançar suas metas. Garantir fome zero e uma agricultura com menor impacto ambiental e social é complexo e exige a contribuição dos biotecnologistas para a pesquisa e desenvolvimento de soluções.

Sofia
Texto revisado por Jennifer Medrades e Bruna Lopes

Cite este artigo:
HOHMANN, S. ODS 2: Fome zero e agricultura sustentável por meio da biotecnologia. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/ods-fome-zero-agricultura-sustentavel/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências
BARROS, T. D. Biofertilizantes. Ageitec. Disponível em: <https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agroenergia/arvore/CONT000fj1gh4ku02wyiv802hvm3jd85f37c.html>. Acesso em: 1 de maio de 2021.
GRANDA, A. Pesquisa revela que 19 milhões passaram fome no Brasil no fim de 2020. Agência Brasil. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-04/pesquisa-revela-que-19-milhoes-passaram-fome-no-brasil-no-fim-de-2020>. Acesso em: 1 de maio de 2021.
GRAZIANO, X. Agricultura de baixo carbono é lição do Brasil ao mundo sustentável, escreve Xico Graziano. Poder 360. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/opiniao/economia/agricultura-de-baixo-carbono-e-licao-do-brasil-ao-mundo-sustentavel-escreve-xico-graziano/>. Acesso em: 1 de maio de 2021.
MARKETING AGRÍCOLA. Biotecnologia alimentar – a alimentação do futuro?. Disponível em: <https://marketingagricola.pt/biotecnologia-alimentar-a-alimentacao-do-futuro/>. Acesso em: 1 de maio de 2021.
PLATAFORMA AGENDA 2030. Objetivo 2 Fome Zero e Agricultura Sustentável. Disponível em: <http://www.agenda2030.org.br/ods/2/>. Acesso em: 1 de maio de 2021.
UNICEF. À medida que mais pessoas não têm o suficiente para comer e a desnutrição persiste, acabar com a fome até 2030 é uma incerteza, alerta relatório da ONU. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/acabar-com-fome-ate-2030-e-incerteza-alerta-relatorio-onu>. Acesso em: 1 de maio de 2021.

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