Há mais ou menos 20 anos, os primeiros cursos de graduação ligados à Biotecnologia foram criados no Brasil. Considerados cursos inovadores e com uma característica multidisciplinar, eles têm permitido que os profissionais de Biotecnologia atuem em diversos setores. Atualmente, nosso país conta com mais de 60 cursos de Bacharelado em Biotecnologia, Engenharia de Bioprocessos/Biotecnologia e Tecnólogo em Biotecnologia.
Um dos questionamentos mais comuns dos graduandos que estão cursando esses cursos é: onde os profissionais da Biotecnologia trabalham, quanto ganham e qual a sua contribuição para o desenvolvimento cientìfico, tecnológico e bioeconômico do país?
Pensando nisso, a equipe do Profissão Biotec criou em 2017 o projeto “ Profissionais da Biotecnologia: cenário pós-diplomação”, no qual são apresentadas informações sobre a situação dos profissionais formados em cursos de graduação em Biotecnologia. Os relatórios completos são divulgados a cada dois anos e podem ser consultados em nossa página (2017, 2019 e 2021).
No ano de 2021 apresentamos a 3ª edição desse projeto de forma atualizada e revisada, trazendo reflexões sociais e considerando o momento histórico da pandemia de COVID-19. A seguir você pode conferir as principais informações obtidas entre abril e maio de 2021 com o objetivo de entender os caminhos possíveis que estão sendo trilhados pelos profissionais da área.
Quais as características dos formados em Biotecnologia?
Entre abril e maio de 2021, 665 profissionais formados em 41 universidades nos cursos de Bacharelado, Engenharia ou Tecnólogo ligados a Biotecnologia e/ou Bioprocessos responderam ao questionário. Mais de 70% deles se formaram no curso de Bacharelado em Biotecnologia, o que corrobora a maior presença desta modalidade em todo o país. De forma geral, a maior parte dos cursos de graduação ligados à Biotecnologia se encontra nas regiões Sudeste e Sul do país, onde também há a maior concentração de empresas no setor da Biotecnologia.
Com relação à raça, podemos observar a predominância de formados que declararam ter a cor branca em relação aos negros e pardos, o que evidencia a desigualdade racial no meio científico brasileiro, na grande maioria dos cursos de graduação e no mercado de trabalho. Para os cursos ligados à Biotecnologia, podemos ver que mais de 65% dos formados são do gênero feminino. A presença marcante de mulheres não só na Biotecnologia mas em outros cursos é muito positiva, mas sabemos que, em muitas áreas, esse dado não reflete a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho e no reconhecimento científico.
Em relação à ocupação, 43% dos entrevistados estão atuando no mercado de trabalho, enquanto 38% estão matriculados em cursos de pós-graduação. Uma pequena porcentagem atua, ainda, no setor de empreendedorismo. Além disso, 44% dos entrevistados possuem pós-graduação concluída.
Mercado de trabalho
Uma das grandes dúvidas dos graduandos em cursos ligados à Biotecnologia é a faixa salarial do profissional inserido no mercado de trabalho. Nesse sentido, a maior parte dos 195 entrevistados que apresentaram informações detalhadas sobre suas atuações ganha em torno de R$2.100 a R$10.500 reais, e cerca de 82% trabalham em regime CLT, ou seja, com a carteira de trabalho assinada.
Na figura abaixo você pode também conferir o tempo em que os formados estão no emprego atual e observar que a maioria deles trabalha em empresas de Biotecnologia situadas nas regiões Sul e Sudeste. Isso está alinhado com o fato de quase 90% das empresas de Biotecnologia estarem localizadas nessas duas regiões, conforme dados levantados no Mapa Biotec.
Os principais setores de atuação dentro das empresas são os de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, Operações/Produção e no controle de qualidade. E mais de 40% dos entrevistados trabalham em empresas das áreas de saúde humana e bem-estar.
Em nosso questionário, consideramos também o momento atual, em que vivenciamos a pandemia da COVID-19, e podemos ver que 65% dos entrevistados que atuam no mercado de trabalho tiveram suas atividades suspensas por um período e retornaram posteriormente em regime de rodízio.
Pós-Graduação e futuro profissional
A pós-graduação é um dos caminhos a ser trilhados pelos profissionais de Biotecnologia, seja no intuito de se tornarem futuros professores e pesquisadores ou para atender requisitos solicitados por diversas empresas.
Em relação ao futuro profissional, metade dos formados pretende prestar concursos públicos para professor/pesquisador ou atuar no setor privado. Há também uma porcentagem considerável desses profissionais (42%) que pretende atuar na pesquisa ou no setor privado fora do país.
Sabemos que o momento atual de investimento em pesquisa e disponibilidade de concursos para professores/pesquisadores no Brasil não é dos melhores, e vale a reflexão das alternativas que estão sendo encontradas pelos pós-graduandos, uma vez que 46% destes se encontram parcialmente satisfeitos com esse caminho.
Com relação à pesquisa durante a pandemia, dos 256 entrevistados, 65% relataram a suspensão das atividades por período indeterminado, seguindo o retorno na forma de rodízios. Ainda, 30% dos entrevistados alteraram seus projetos, que foram redirecionados para as áreas relacionadas à pandemia ou para a realização da pesquisa de forma remota ou semipresencial.
Profissionais que estão empreendendo
O setor de empreendedorismo cresce a cada ano no país e muitos profissionais estão seguindo esse caminho e atuando em pequenas empresas de Biotecnologia, como é o caso das startups. Inclusive, a 100 Open Startups (plataforma de open innovation do Brasil) destacou, em 2021, as 10 startups mais atraentes para o mercado na categoria BioTech.
Dos 665 entrevistados, 21 são empreendedores, sendo tanto graduados como pós-graduados. A maior parte das empresas é recente, com até dois anos desde a fundação, e 36% destas recebem apoio financeiro de colaboradores externos que atuam com auxílios para a incubação e empreendedorismo de empresas (Ex: FAPESP no estado de São Paulo). As principais atividades realizadas pelas empresas de Biotecnologia dos entrevistados são consultoria, produção e venda de insumos ou produto final e prestação de serviços técnicos.
Profissionais que optaram por outros caminhos
A equipe do Profissão Biotec também se preocupou em ouvir os profissionais que optaram por seguir outros caminhos fora da Biotecnologia. Dentro dos 16% dos entrevistados que atuam fora da área, a maioria relata que mudou de área devido à ausência de oportunidades de vagas no setor privado e de concursos públicos, além da alta exigência nos requisitos curriculares. Desses, 45% desejam retornar para a área de Biotecnologia. Além disso, 2,7% dos recém-formados ainda não decidiu qual caminho trilhar e a área mais cogitada é no setor de saúde humana e bem-estar.
O momento histórico atual está exigindo que as empresas e universidades adotem novos métodos para lidar com o trabalho e seus funcionários. Sabemos, sem dúvidas, que surgirão novas dificuldades de inserção no mercado de trabalho, e não somente para os profissionais de Biotecnologia. Devemos estar atentos às mudanças, necessidades e requisitos do mercado. Por outro lado, sabemos que a importância da pesquisa científica está em evidência, e certamente há um grande otimismo para que novas possibilidades possam emergir.
A equipe do Profissão Biotec espera que as informações desta edição do projeto “Profissionais da Biotecnologia: cenário pós-diplomação” possam trazer esclarecimentos para todos os estudantes e graduados de cursos ligados à Biotecnologia, e até mesmo a outros profissionais que desejam atuar nessa área. Vale lembrar que todas as segunda-feiras nós disponibilizamos vagas na área de Biotecnologia em nossa página e também estamos desenvolvendo projetos que dão visibilidade aos empreendedores.
Acesse os resultados completos do estudo.
Cite este artigo:
ABREU, F. C. P. Onde trabalha e quanto ganha um profissional de Biotecnologia? Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/onde-trabalha-quanto-ganha-profissional-biotecnologia/> Acesso em: dd/mm/aaaa.