Na série Perfil de Pesquisadores Brasileiros, o Profissão Biotec entrevista renomados cientistas brasileiros. Neste post, conheça o Dr Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda: Liderando pesquisas sobre doenças infecciosas e parasitárias que afetam a população brasileira.

Os brasileiros, de um modo geral, confiam na ciência e nos cientistas, de acordo com  pesquisas de 2015 e de 2019 sobre percepção da sociedade em relação à ciência. Mas são poucos os brasileiros que sabem dizer o nome de um cientista brasileiro e de um instituto de pesquisa tupiniquim. Pensando em ajudar a mudar essa situação, o Profissão Biotec criou o projeto “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” para apresentar pesquisadores que fazem ciência de ponta (e em biotecnologia) em nosso país! 

Conheça no perfil de hoje o pesquisador Dr Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, médico e especialista em saúde pública do Instituto Leônidas & Maria Deane (FIOCRUZ- Amazonas). Ele lidera pesquisas sobre malária, arbovírus e doenças emergentes, e coordenou os primeiros estudos clínicos , no Brasil, sobre a segurança da cloroquina no tratamento de pacientes com COVID-19.

Dr Marcus Vinícius  Guimarães de Lacerda. Fonte: Lattes

Dr Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda: Liderando pesquisas sobre doenças infecciosas e parasitárias que afetam a população brasileira

O Dr. Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda atua com destaque, há mais de 20 anos, em pesquisas sobre doenças infecciosas e parasitárias que atingem os brasileiros, especialmente a população amazônica. Recentemente, seu grupo foi o primeiro no Brasil a investigar a segurança e eficácia da cloroquina em pacientes com COVID-19. Com mais de 270 publicações em revistas científicas e homenagens em reconhecimento à sua relevante contribuição no controle da malária no Amazonas, o Dr. Marcus Vinícius destaca-se como um dos mais importantes pesquisadores brasileiros.

A seguir, vamos conhecer um pouco mais da sua trajetória.

Profissão Biotec: Qual é a sua formação acadêmica e cargo atual? 

Marcus Vinícius  Guimarães de Lacerda: Graduação em Medicina pela Universidade de Brasília; Especialização em Infectologia pela Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado, Manaus, Amazonas; Doutorado em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília. 

Atualmente, o Dr Marcus  é professor do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas e professor adjunto da Kent State University (EUA).

PB: Em que profissional se inspirou para seguir essa carreira?

MVGL: Em Philip Marsden, professor de Medicina Tropical da Universidade de Brasília, inglês de nascimento.

PB: Qual é seu livro de cabeceira, série preferida e filme favorito?

MVGL: Livro: Sonhos Tropicais (Moacyr Scliar),Série: Billions (Netflix), Filme: Torre de Babel (Iñárritu).

PB: Quais eventos aconteceram na sua vida que te levaram onde está agora? 

MVGL: Um contato com padres missionários canadenses na Amazônia, em 1998, me trouxe até Manaus, onde me especializei em Medicina Tropical, e de onde nunca mais saí.

PB: Qual é a sua principal área de pesquisa ? 

MVGL: Meu principal foco são os estudos sobre como eliminar a malária. Adicionalmente estudos sobre melhores formas de tratamento e prevenção de HIV/Aids, tuberculose, além de estudos sobre a dinâmica de transmissão de arboviroses, ou seja, viroses transmitidas por mosquitos.

PB: Por que você escolheu esse tema de pesquisa?

MVGL: São os problemas que mais acometem a população da Amazônia. O pesquisador precisa trabalhar com aquilo que incomoda a população, e não com o que quer ou se sente à vontade.

PB: Onde você vê sua pesquisa nos próximos 5 anos? 

MVGL: Nos próximos cinco anos, pretendemos propor medidas concretas para que a malária desapareça do Brasil. Precisamos gastar nossos esforços em doenças novas e mais complexas. Para as doenças contra as quais existe tratamento eficaz, é hora de pensar alto e mirar sua eliminação. O Brasil precisa pensar alto e eliminar doenças velhas que ainda comprometem sua população mais vulnerável.

Atualmente, o Dr Marcus Vinícius coordena projetos de pesquisa sobre arboviroses (chikungunya, dengue, zika), malária, HIV, tuberculose, e mais recentemente, sobre o novo coronavírus (SARS-CoV-2).

PB: Como você se sente em relação à ciência brasileira?

MVGL: Acho que ela ficou desacreditada com a pandemia de COVID-19. [Devido] a  política e o desespero da população, [as pessoas] se esqueceram de tudo aquilo em que investiram nas últimas décadas. Vários de nós [cientistas] fomos expostos ao julgamento de pessoas que não compreendem o método da pesquisa.

PB: Quais dicas você daria a biotecnologistas ainda na graduação?

MVGL: Que se concentrem em resolver problemas reais, e que não tenham medo de mudar de opinião e de ideias.

PB: Quais as dificuldades de fazer pesquisa no Brasil?

MVGL: Todo o sistema precisa estar preparado para a pesquisa, desde a importação de produtos, a legislação. No Brasil cada peça do quebra-cabeça está ainda separada.

PB: Você realiza atividades de extensão ou divulgação científica? Quais?

MVGL: Escrevo uma coluna semanal em jornal de ampla circulação em Manaus, sobre ciência e doenças infecciosas.

PB: Recentemente, o senhor publicou estudos sobre a COVID-19 e sobre o uso da cloroquina em pacientes hospitalizados. Existem outros estudos em andamento? Quais são suas expectativas para os próximos estudos/resultados?

MVGL: Verificamos que a cloroquina não era capaz de eliminar o vírus SARS-CoV-2 da secreção respiratória de pacientes internados com COVID-19, além disso, mostramos que doses mais altas, que poderiam ter maior atividade, não são seguras. Há novos resultados com o uso de corticoides nessa doença, mostrando que o uso em pacientes com pouca inflamação pode ser maléfico, por isso o cuidado no uso indiscriminado de corticoides. [O artigo contendo esses resultados foi publicado na revista científica JAMA Network Open].

O grupo de pesquisa do Dr Marcus Vinícius, o primeiro a investigar o uso de cloroquina em pacientes com COVID-19 no Brasil, foi vítima de ataques no início da pandemia. A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e outras entidades científicas se manifestaram em defesa dos pesquisadores. Leia a nota na íntegra.

PB: Na sua opinião, além de pesquisas sobre vacinas e medicamentos, como a ciência pode contribuir em um momento de pandemia como esse? 

MVGL Com estudos sociais, demonstrando como podemos aperfeiçoar nossa crença nas instituições e como podemos fortalecê-las.

Para conhecer mais sobre a nossa ciência, continue acompanhando o quadro “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” do Profissão Biotec! Confira também os infográficos desse quadro e mande para seus amigos! Ah, acompanhe nossas redes sociais para não perder nenhuma entrevista! Facebook / LinkedIn / Instagram.

Entrevista realizada por: Bruna Lopes

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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