Em 8 de dezembro de 2021 a reportagem “As 5 Maiores Tendências da Biotecnologia em 2022” foi publicada na revista Forbes. Para o autor, Bernard Marr, os troféus da indústria biotecnológica serão distribuídos para: medicina personalizada, biotecnologia agrícola, tecnologias em pesquisa clínica, biotecnologia ambiental e carne artificial. E será que alguma pesquisa brasileira estaria nesse pódio?
Medicina Personalizada em uma População Heterogênea
“Tradicionalmente, as drogas e medicamentos foram criados em um “tamanho único”, e os testes são usados para estabelecer quais formulações são mais benéficas para o segmento mais amplo da sociedade. Hoje, com a genômica moderna, é possível adaptar a formulação de medicamentos para cada indivíduo, a partir da composição do DNA”, explica Bernard em seu texto.
Segundo o Profissão Biotec, “a medicina personalizada, de precisão ou genômica […] nada mais é do que um tratamento sob medida!”. E assim como o nosso amado PB, a produção brasileira nessa área está a todo vapor. O relatório elaborado pela Future Proofing Healthcare, apontou o Brasil como um dos destaques em medicina de precisão na América Latina. Os resultados mostram que nosso país ocupa o primeiro lugar em investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento, refletindo um alto nível de inovação.
Esse reflexo chegou a nível federal, quando o Governo lançou em 2020 o Programa Nacional de Genômica e Saúde de Precisão. Em um dos países mais miscigenados do mundo, dados sobre a genética da população são muito valiosos. Denominado de Genomas Brasil, e com investimento de R$ 600 milhões, a iniciativa nacional visa aperfeiçoar o entendimento das variações genéticas típicas da população brasileira, possibilitando, futuramente, o acesso a tratamentos personalizados no Sistema Único de Saúde (SUS).
Já no setor privado, o Brasil anda bem representado pelas startups! Com destaque para soluções de combate ao câncer, a Bioptamers é um dos exemplos de integração universidade-empreendedorismo bem sucedido. Startups com inovações para tratamentos no espectro do autismo, TISMOO, e dores crônicas, YouCare, também configuram no cenário brasileiro. Além disso, empresas consolidadas no mercado mundial também estão investindo nessa área aqui no Brasil, como é o caso da Roche, que visa liderar o setor no país.
Biotecnologia Agrícola no Celeiro do Mundo
“Na agricultura, a biotecnologia […] tem o potencial de ser extremamente valiosa em um mundo que enfrenta uma crise global de alimentos, onde milhões de pessoas correm o risco de morrer de fome. Sem dúvida, 2022 também verá mais debates em torno da ética biotecnológica, com a sociedade enfrentando questões em torno da importância de fornecer alimentos suficientes, mantendo os padrões de segurança alimentar […]”, prevê Marr.
O uso da biotecnologia verde de fato começou muito antes dos modernos transgênicos, com o melhoramento de plantas datando de 10 mil atrás. Mas falando de modernidade, também é fato que a famosa propaganda “o agro é POP” recebe críticas desde a sua primeira exibição. E já que estamos falando de fatos históricos, você sabia que a frase “Brasil, o celeiro do mundo” surgiu na Era Vargas? Para Getúlio ser um visionário, só faltou acrescentar “biotecnológico” após “celeiro”.
Mesmo com todo o estigma que organismos geneticamente modificados (OGMs) apresentam, a biotecnologia é sim uma grande aliada da agricultura! Até porque essa parceria vai muito além dos OGMs, principalmente em um país em que o agronegócio alcançou participação de 26,6% no PIB. E isso é exaltado em uma das organizações públicas de pesquisa mais fortes e atuantes do setor: a Embrapa, com inúmeras unidades atuantes nesse tema!
E quanto às empresas privadas, as startups de agronegócio possuem até nome próprio: agtechs! E não apenas de medicina de precisão vive a biotecnologia, a Solinftec e a Agrosmart são representantes da agricultura de precisão e potências a nível internacional. E quanto à produção de bioinsumos, a Solubio e a GlobalYeast são os destaques nacionais. Há ainda representantes emergentes muito promissores ao julgar as tendências do setor, como é o caso da da Yes We Grow, especializada em agricultura urbana.
Tecnologias em Pesquisa Clínica com Milhões de Voluntários
“Após o desenvolvimento emergencial e a aprovação das vacinas para Covid-19, enormes esforços foram feitos para acelerar o processo de teste e aprovação de novos medicamentos. […] Os dados da biotecnologia estão sendo usados para acelerar esse processo, permitindo simulações de interações entre medicamentos e o corpo humano, em vez de depender de testes em humanos caros e demorados”, ressalta o texto de Bernard.
Apesar do otimismo do autor, a substituição completa dos seres-humanos na etapa de pesquisa clínica ainda não é uma realidade. Sendo assim, um país populoso como o Brasil é muito atrativo para a realização desses testes clínicos. O fato de ter grande parte da população vivendo nos centros urbanos, cerca de 182 milhões de pessoas, facilita a locomoção dos pacientes aos centros de pesquisa, e, portanto, a condução dos testes.
Em comparação ao ano passado, em estudo conduzido pela Interfarma, nosso país subiu 5 posições no ranking de participação em pesquisa clínica. “O Brasil possui um conjunto de características que poderiam credenciá-lo como uma referência absoluta para a realização de estudos clínicos”, afirma o artigo. Visando incentivar esse título, o Ministério da Saúde lançou em 2020 o Plano de Ação de Pesquisa Clínica no Brasil, que traça diversas ações para aumentar a capacidade do país em desenvolver e atrair pesquisas clínicas.
As startups voltadas para esse setor ainda são escassas, o que favorece o enorme potencial para investimentos frente à falta de concorrentes. As principais soluções estão voltadas para a digitalização dos processos! A Polo Trial é um sistema de gerenciamento dos protocolos clínicos, e a solução da UnĪrE emprega um sistema informatizado de pré-triagem de voluntários. Muitos empreendimentos focam em celeridade nas etapas pré-clínicas por meio de soluções in silico, como é o caso da Aptah Biosciences e In Silico Solutions, que também atua no ramo da próxima tendência.
Biotecnologia Ambiental na Maior Biodiversidade do Planeta
“Já mencionamos como a biotecnologia na agricultura significa uma produção agrícola mais eficiente e, portanto, menos uso de energia e danos ecológicos causados por pesticidas. No entanto, há uma série de outras maneiras pelas quais a biotecnologia está sendo aproveitada para melhorar a sustentabilidade e reduzir o impacto ambiental.”, diz o autor.
Segundo dados do relatório publicado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços, os ecossistemas brasileiros são os mais biodiversos do mundo e oferecem o maior potencial em variedades para produção de alimentos, pesquisa medicinal, genômica e inovações tecnológicas. E além dos potenciais usos dessa biodiversidade, a biotecnologia também promove a preservação do meio ambiente, essencial para o combate ao avanço da destruição acumulada nos últimos anos.
E nesse cenário, a Embrapa marca presença de novo, dessa vez com a forte representação da Embrapa Meio Ambiente, entre outras unidades que realizam pesquisa e desenvolvimento relacionados ao tema. O Ministério do Meio Ambiente também está atento às oportunidades biotecnológicas atuais, lançando em 2020 o Programa Floresta+, com foco em criar, fomentar e consolidar o mercado de serviços ambientais.
Assim como as agtechs, as greentechs também marcam presença na economia nacional e internacional, com um relatório da Allied Market Research estimando um crescimento desse mercado para 74,64 bilhões de dólares em 2030. São inúmeras as startups brasileiras na área, provando que sustentabilidade é sim lucrativa! Entre alguns exemplos, é possível listar: Eco Panplas, 4 Hábitos Para Mudar o Mundo, Gaia GreenTech, PWTech e Trashin, que participaram da seletiva segmentada de ESG da Amcham Arena.
Carne Artificial para a Maior Boiada do Globo
“A carne cultivada em laboratório […] tem o potencial de reduzir enormemente a quantidade de energia, terra e água utilizada pela indústria pecuária – bem como as emissões de metano, que são reconhecidas como uma das principais causas das alterações climáticas! Os processos de biotecnologia para o cultivo de carne evoluíram a partir de técnicas originalmente projetadas para ajudar a reparar ferimentos, regenerando células danificadas em humanos ou animais”, explica Bernard Marr em seu último tópico.
Um estudo elaborado pela Embrapa aponta o Brasil como o país com o maior rebanho bovino do mundo e o maior exportador desta carne. A preocupação com investimentos em carnes produzidas em laboratório vai além do aumento do número de veganos e vegetarianos, mas pela ameaça latente da pecuária ao meio ambiente. Parece impossível que inovações encontrem uma brecha de atuação em um mercado tão tradicional e fechado, mas, talvez por isso, a biotecnologia seja tão necessária.
O otimismo parece desesperador frente às desregulamentações ambientais lideradas pelo Ministro do Meio Ambiente, mas outras iniciativas nacionais estão na linha de frente da remediação dos danos causados por esse setor. Mais uma vez, a Embrapa é protagonista do movimento, com foco em alimentação, genética, manejo e saúde animal, as soluções melhoraram a qualidade da carne bovina, e de seus impactos, nos últimos anos.
E está enganado quem pensou que a carne artificial nunca teria um selo BR. A foodtech Fazenda Futuro, criadora do Futuro Burger, colocou na mesa do brasileiro uma carne feita de plantas com a “mesma textura, suculência e gosto de carne”, conforme afirma seu marketing. Já a Ambi – Real Food, startup do Rio Grande do Sul, utiliza a tecnologia descrita por Marr para sua produção, “a partir de células bovinas isoladas […], temos um produto de carne sem a necessidade de abater animais”, explica o site da marca.
Com as apostas feitas, agora basta esperar para ver se 2022 concretizará essas predições. O Profissão Biotec fez, em 2021, um apanhado sobre as principais atividades biotecnológicas do país, facilitando muito a conferência dessas informações. E você, quais são suas previsões para as tendências da biotecnologia no Brasil? Só ficar ligado aqui no PB que logo logo teremos a resposta!
Cite este artigo:
CORTES, D. A. As 5 Maiores Tendências da Biotecnologia Brasileira em 2022. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/5-maiores-tendencias-biotecnologia-brasiliera-2022/>. Acesso em dd/mm/aaaa.
Referências
MARR, Bernard. The 5 Biggest Biotech Trends In 2022. Forbes, 2021. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/bernardmarr/2021/12/08/the-5-biggest-biotech-trends-in-2022/?sh=3c127770380f>. Acesso em: 21 de dez. de 2021.
FUTURE PROOFING HEALTHCARE. Brasil – Índice de saúde personalizada, 2021. Disponível em: <https://www.futureproofinghealthcare.com/pt-br/brazil-indice-de-saude-personalizada>. Acesso em: 21 de dez. de 2021.
HOSHINO, Raquel. As 5 principais startups do agronegócio brasileiro. Revista Oeste, 2021. Disponível em: <https://revistaoeste.com/agronegocio/as-5-principais-startups-do-agronegocio-brasileiro/>. Acesso em: 22 de dez. de 2021.
NAVES, Rubens. Por que não conseguimos aproveitar o valor econômico da biodiversidade? Le Monde Diplomatique Brasil, 1 de abr. de 2021. Ed. 165. Disponível em: <https://diplomatique.org.br/por-que-nao-conseguimos-aproveitar-o-valor-da-biodiversidade-ecossistemas/>. Acesso em: 22 de dez. de 2021.
MATSUURA, Sérgio. Conheça as ‘greentechs’, startups que fazem da solução de problemas ambientais um negócio. O Globo, 4 de abr. de 2021. Um só Planeta. <https://umsoplaneta.globo.com/financas/negocios/noticia/2021/04/04/conheca-as-greentechs-start-ups-que-fazem-da-solucao-de-problemas-ambientais-um-negocio.ghtml>. Acesso em: 22 de dez. de 2021.
RODRIGUES, Tayane. Carne artificial: como as ‘food techs’ estão acelerando a produção no mundo. Invest News, 25 de mar. de 2021. Disponível em: <https://investnews.com.br/negocios/carne-artificial-como-as-food-techs-estao-acelerando-a-producao-no-mundo/>. Acesso em: 22 de dez. de 2021.