A terceira dose da vacina contra a COVID-19 é necessária? Quem deve tomar? Para saber mais, acesse o texto e entenda melhor.

Nunca se debateu tanto acerca de vacinas como agora, com as vacinas produzidas contra a COVID-19. Essa exposição do passo a passo da produção e das discussões sobre vacinas e vacinação tem seus prós e contras. Um ponto positivo é que evidenciou a ciência, a pesquisa e a sua importância para a saúde. No entanto, as discussões sobre a produção de vacinas, que costumavam ocorrer só no âmbito acadêmico, podem gerar receio e desconfiança se apresentadas para a população sem os devidos cuidados.

Aqui no Brasil temos, atualmente, a aplicação de quatro vacinas: Pfizer, AstraZeneca, CoronaVac e Janssen. Por curiosidade, esses imunizantes ficaram conhecidos pelo nome das suas produtoras em vez de serem denominadas com base no nome original das vacinas. Entre as vacinas aplicadas no Brasil, todas  necessitam de 2 doses (com diferentes intervalos entre elas) para completar o esquema vacinal primário, mais a administração da dose de reforço.

Nos últimos meses, iniciou-se a aplicação da terceira dose ou da dose de reforço. Inicialmente, teve-se posicionamentos contra e a favor dessas aplicações. O posicionamento contrário não era desfavorável à aplicação da terceira dose, mas sim da dose de reforço e contra o momento em que se resolveu fazer isso. Isso porque ainda existem países com taxas baixíssimas de vacinação, e o estímulo da dose de reforço causaria ainda mais atraso vacinal nestes locais. Como as nações mais ricas teriam mais condições de comprar as vacinas, haveria o risco de manter a oferta em baixa para países mais pobres. O posicionamento favorável é porque se entende que algumas pessoas, com o sistema imunológico menos eficiente que a população geral, podem vir a necessitar de doses a mais para que desenvolvam resposta imune efetiva. E, com o surgimento da variante ômicron, passou-se a recomendar a aplicação pois com 3 doses a eficiência vacinal demonstrou-se maior.

Com toda a discussão sobre a pandemia e as vacinas, podemos perceber que essa questão não envolve apenas saúde pública, mas também política. Mas por que a terceira dose ou a dose de reforço são necessárias para determinados grupos?

O que ocorre no corpo após a vacinação?

Quando nos vacinamos, o antígeno presente na vacina é “identificado” pelo nosso corpo como  “algo estranho”. Sempre que há essa identificação, ocorre a indução da resposta imunológica para “combater” esse invasor. A resposta imune produzida contra os antígenos irá gerar memória imunológica, que poderá ser “acessada” de meses a anos depois da vacinação.

A memória imunológica geralmente é associada às imunoglobulinas, os anticorpos. Essas imunoglobulinas são altamente capazes de responder a diferentes antígenos. As duas principais na detecção para a presença de resposta ao vírus da COVID-19 são as imunoglobulinas M e G, IgM e IgG, respectivamente. A IgM é o principal marcador de início de infecção, encontrando-se em níveis altos nos primeiros dias e depois reduzindo. A IgG é o anticorpo a ser avaliado para saber se a pessoa ainda possui memória imunológica em relação a um determinado antígeno. Essa memória pode ser adquirida por meio da vacinação.

Representação gráfica das imunoglobulinas quando entram em contato com um antígeno
Representação gráfica das imunoglobulinas quando entram em contato com um antígeno. É possível observar que a imunoglobulina M (IgM) apresenta níveis mais altos no início do contato com o antígeno e, com o passar do tempo, o nível vai reduzindo. Isso ocorre porque a IgM é um marcador de infecção recente e a vacinação simula uma infecção. A imunoglobulina G (IgG) é característica da formação de memória imunológica, e, por isso, apresenta níveis mais altos com o passar do tempo, até que seu nível no organismo atinja a estabilidade. #ParaTodosVerem: gráfico representativo da produção de anticorpos ao longo das semanas pós vacinação. No eixo X, observam-se as semanas pós vacinação ( do 1 ao 16); No eixo Y, estão os níveis de anticorpo (do 2 ao 128). Fonte: Adaptado por Bruna Lopes de Imunologia Geral

O aumento nos níveis de IgG e a sua posterior estabilização fazem com que o indivíduo possua proteção contra doenças após ser vacinado. A vacina ajuda a ter uma resposta mais rápida e eficaz quando a pessoa entra em contato com o agente causador da doença, o patógeno. 

A frase “cada corpo é um corpo” também serve para explicar como cada pessoa irá responder à vacina. Algumas pessoas têm capacidade de responder de forma mais eficiente que outras. Sendo assim, alguns indivíduos irão desenvolver forte memória imunológica com apenas uma dose de vacina, enquanto outros só vão adquiri-la com a administração de um número maior de doses. Neste sentido, os testes clínicos servem para definir qual a quantidade de doses capaz de desenvolver uma boa resposta imune na maior parte dos indivíduos. 

Terceira dose X Dose reforço

Já se iniciou em alguns países, inclusive no Brasil, a aplicação da terceira dose e/ou da dose reforço. Apesar de estarem sendo divulgadas como se tivessem a mesma função, elas são diferentes. A terceira dose é caracterizada como uma dose do ciclo normal da vacinação, necessária para completar o ciclo vacinal feita com o mesmo imunizante. Indivíduos que recebem as três doses da mesma vacina tomam uma terceira dose.

A dose de reforço tem um objetivo diferente. Essa dose é aplicada em todos os indivíduos com a intenção de manter níveis adequados de anticorpos IgG, associados à memória imunológica, e proteger contra as novas variantes. De forma lúdica, pode-se comparar a resposta imune depois de um tempo a uma memória antiga da qual você já quase não se lembra. Então, chega alguém  e te faz recordar daquele ocorrido com detalhes extras, que, neste caso, seria a dose de reforço. Essa dose tem exatamente o objetivo de continuamente lembrar o sistema imune daquele antígeno e de suas alterações que ele deve combater, e é necessário tomá-la em períodos definidos. A dose de reforço é recomendada para maiores de 18 anos que já receberam a segunda dose há mais de 4 meses e é feita com imunizante diferente do administrado nas duas primeiras doses.

A vacina contra a COVID-19 não é a única que possui aplicação de terceira dose ou dose reforço. Quando se trata de vacinas que necessitam de aplicação de três doses, temos como exemplo a contra hepatite B e o tétano. Já as vacinas de tétano e difteria são exemplos quando se trata de dose reforço. 

Devo ou não tomar a terceira dose ou a dose de reforço?

Atualmente, recomenda-se que as pessoas saudáveis e maiores de 18 anos recebam a terceira dose, ou dose de reforço, 4 meses após a segunda dose. Para os adolescentes (12 a 17 anos) e adultos imunossuprimidos a recomendação é um pouco diferente, sendo indicada a administração de 3 doses em intervalo de 8 semanas e a quarta dose 4 meses após a terceira dose. É recomendável que você tome as doses da vacina assim que possível, pois a vacina vai auxiliar o seu sistema imunológico e isso diminui as chances de desenvolver casos graves e morte, assim como contribui para a diminuição da transmissão do coronavírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) teve um posicionamento contrário a já iniciar a aplicação da dose de reforço na população em geral, pois ainda há escassez de vacinas em vários países. Essa entidade preza pelo bem estar da população mundial e a indicação é que se complete o esquema vacinal “normal” assim que possível, antes de realizar a aplicação de doses de reforço. No entanto, a entidade é a favor da aplicação da terceira dose em idosos e imunossuprimidos.

A ciência já demonstrou, e é notável na atual situação, que a vacina é o meio mais eficaz para poder controlar a pandemia, reduzindo o número de mortos e infectados. Por isso, vacine-se e tome quantas doses surgirem para você! Mas atenção: não “fure a fila”. Assim, você protege não apenas a sua própria saúde, mas também a de todos à sua volta. E se mantenha informado, porque as informações são atualizadas constantemente e já está sendo analisada a aplicação da quarta dose para todo o público maior de 18 anos aqui no Brasil!

perfil Natalia Lopes
Texto revisado por Darling Lourenço e Elaine Latocheski

Cite este artigo:
LOPES, N. R. Terceira dose da vacina contra a COVID-19: o que você precisa saber. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/terceira-dose-da-vacina-covid-19-voce-precisa-saber/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

INSTITUTO BUTANTAN. Uma, duas ou três doses? Todo ano, a cada dez anos, uma vez na vida? Entenda por que cada vacina tem um esquema vacinal diferente. 2021. Disponível em: <https://butantan.gov.br/covid/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/uma-duas-ou-tres-doses-todo-ano-a-cada-dez-anos-uma-vez-na-vida-entenda-por-que-cada-vacina-tem-um-esquema-vacinal-diferente>. Acesso em: 30 out.  2021.
LOPES, B. P. Especial Vacinas – o que você precisa saber sobre como agem e como são produzidas. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/especial-vacinas-o-que-voce-precisa-saber-sobre-como-agem-produzidas/>. Acesso em: 30 out. 2021.
LOPES, B. P. Especial Vacinas – o que você precisa saber sobre seu surgimento e as reações populares. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/especial-vacina-surgimento-reacoes-populares/>. Acesso em: 30 out. 2021.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Interim statement on booster doses for COVID-19 vaccination. 2021. Disponível em: <https://www.who.int/news/item/04-10-2021-interim-statement-on-booster-doses-for-covid-19-vaccination>. Acesso em: 30 out. 2021.
Fonte da imagem destacada: Pixabay.

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