Dois dos objetivos da produção de alimentos são: satisfazer as necessidades fisiológicas e também os desejos do consumidor. A partir disso, um estudo publicado pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) traz como destaque para o setor alimentício a preferência do público por alimentos focados no bem-estar, praticidade, qualidade, sustentabilidade e ética. É nesse momento que você, biotecnologista ou cientista de alimentos, que está lendo este texto pode ligar um alerta para desenvolver projetos que atendam essas tendências do mercado.
O céu é o limite quando falamos sobre a aplicação da biotecnologia para a produção de alimentos!
É só dar uma volta rápida pelos corredores do supermercado que encontramos uma variedade de produtos, desde aqueles sem lactose ou glúten, ricos em proteínas, veganos, orgânicos, com baixa caloria, prontos para o consumo… todas essas opções estão relacionadas aos novos padrões de vida e podem ser produzidas a partir de aplicações biotecnológicas, como pães, derivados lácteos, bebidas alcoólicas e inúmeros ingredientes obtidos do metabolismo de microrganismos, como corantes, espessantes e vitaminas.
Inovação e o desenvolvimento de alimentos
Quando pensamos em inovação, logo vem a nossa mente ideias mirabolantes ou inéditas. Mas, na verdade, a definição de inovação vai muito além da invenção de algo nunca visto!
Inovação é um processo multidisciplinar que engloba setores como pesquisa e desenvolvimento (P&D), produção, vendas e marketing para a formulação e implementação de ideias. De forma simples, podemos encontrar no desenvolvimento de produtos a inovação incremental (melhorias/alterações em produtos já existentes) ou a inovação disruptiva (desenvolvimento de conhecimentos e produtos novos).
Logo, o setor de alimentos é altamente competitivo. São inúmeras empresas investindo todo ano em inovação para atrair cada vez mais o consumidor. Para você compreender a imensidão desse mercado, segundo a ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) em 2020 as indústrias de alimentos localizadas no Brasil totalizaram 10,6% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, número que explica o título do nosso país como segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo!
Mas como se destacar sabendo que em 2015 o Brasil apresentava mais de 34 mil indústrias formais de alimentos e bebidas? É preciso ter muita estratégia e pesquisa para ser assertivo nos lançamentos. A inovação pode representar sucesso para a empresa ou prejuízos, sendo o aceite do consumidor um dos fatores mais importantes para a obtenção de bons resultados.
Marketing no lançamento de novos produtos alimentícios
A fim atender as demandas citadas acima, indústrias de alimentos realizam as seguintes etapas para o desenvolvimento de produtos:
- Geração de ideias;
- Seleção de ideias;
- Análise de mercado;
- Protótipo do produto;
- Teste em planta piloto;
- Teste em planta industrial;
- Validação e teste de mercado.
Assim, as ferramentas de marketing são empregadas na geração de ideias, seleção de ideias, análise de mercado e teste de mercado. Para obter insights e traduzir dados sobre os consumidores e a concorrência, são utilizados: brainstorming; listagem de atributos; voz do cliente; análise PEST; análise SWOT; design thinking; benchmarking; grupo focal; análise conjunta, entre outros.
Além disso, um conceito essencial para compreender a relevância do marketing para o desenvolvimento de novos produtos ou melhoria de produtos já existentes é o Mix de Marketing, mais conhecido como os “quatro P’s do Marketing” (produto, preço, promoção e praça). Produto diz respeito a como o produto que será desenvolvido resolve um problema ou atende a uma necessidade de um conjunto de pessoas; o preço estuda por qual preço o produto será vendido, sendo extremamente importante, pois esse é um dos principais fatores de comparação usados pelos consumidores no momento da compra; a promoção define como será a divulgação sobre o produto; e a praça estabelece como e onde o produto será vendido.
Assim, conhecer os desejos do consumidor e acompanhar a concorrência são estratégias necessárias para que um produto obtenha êxito no mercado de alimentos. O investimento em pesquisas antes de um lançamento se faz muito necessário quando, por exemplo, tomamos conhecimento que nos Estados Unidos da América, em média, a cada 3 produtos lançados no mercado, 2 falham, mostrando que lançar um produto representa para a indústria um alto risco de perder tempo e dinheiro.
Outros textos do nosso blog já abordaram a importância do profissional de biotecnologia desenvolver habilidades além da bancada. Conhecimentos sobre marketing e mercado podem auxiliar desde o desenvolvimento de novas lacunas para pesquisas acadêmicas na área de alimentos, até o profissional que trabalha na indústria em pesquisa e desenvolvimento adquirir uma visão global de processos para unir biotecnologia e inovação a partir dos desejos do consumidor. Se você curtiu este conteúdo e gostaria de mais textos explorando esse assunto, deixe um comentário em nossa página do Instagram (@profissaobiotec).
Cite este artigo:
LACERDA, S. Como o marketing e a inovação impactam o sucesso de novos produtos alimentícios. Revista Blog do Profissão Biotec. V. 11, 2024. Disponível em: <>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
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