A biotecnologia pode ser utilizada para combater doenças que afetam a banana e gerar variedades geneticamente modificadas que podem combater a desnutrição.

A banana é uma das frutas mais consumidas no mundo, além de ser uma rica fonte alimentar. Ela pode ser consumida de diversas formas, agradando “gregos e troianos”, seja crua, frita, empanada, batida com leite, em bolos, biscoitos, e até mesmo em uma bela moqueca vegana! Seu conteúdo nutritivo é composto, principalmente, de vitaminas A, B e C, antioxidantes e açúcares naturais que fazem desta fruta uma ótima fonte de energia.

O cultivo da banana é realizado em 107 países do mundo, sendo que o Brasil é o quinto maior produtor dessa fruta. O que talvez você não saiba é que a bananeira não é uma árvore! Por não conter um tronco, ela é considerada a maior planta herbácea conhecida. Outra curiosidade: a reprodução da maioria das espécies de bananeiras (família Musaceae) cultivadas é assexuada e se dá pelo processo de partenogênese, ou seja, não há fecundação da oosfera (gameta feminino da planta) e nem a produção de sementes. Esse processo de reprodução cria um clone a partir da planta mãe.

Por ser uma fruta de grande importância econômica e nutritiva, técnicas de melhoramento genético clássico e Biotecnologia moderna já foram ou estão sendo aplicadas para solucionar problemas no cultivo das bananas ou produzir variedades transgênicas com maior potencial nutritivo.

Chips de banana.
Chips de banana. #ParaTodosVerem: a foto mostra um recipiente branco de porcelana sobre uma mesa de madeira, contendo chips de banana em seu interior. Fonte: Obsidian Soul

A banana nem sempre foi assim!

Mas e aqueles pontinhos pretos que vemos nas bananas que consumimos? Não são sementes??? A resposta é não! O que vemos são os óvulos não fecundados. No entanto, existem espécies de bananeiras selvagens na natureza que apresentam sementes e tem a reprodução sexuada.  Muitas são difíceis de se consumir e precisam ser cozidas. Foi a partir dessas bananas selvagens que o homem conseguiu produzir frutos sem sementes através de técnicas de melhoramento genético clássico, onde bananeiras de espécies diferentes eram cruzadas até culminar em um genótipo que conferiu a  característica estéril, presente nas espécies que consumimos.

Atualmente, a única banana com sementes consumida é da espécie  Musa balbisiana, na Indonésia. Opa! E já que falamos de “fruto”, outra curiosidade é que a banana não é considerada um fruto, e sim um pseudofruto. Atualmente temos mais de 1.000 espécies conhecidas de bananeira, e dentre as consumidas no Brasil, temos as popularmente conhecidas como nanica, prata, banana-ouro, banana-maçã e banana-da-terra.

 Estudos indicam que a banana é originária do continente asiático, seguido pelo continente africano. Nessas regiões, espécies selvagens teriam evoluído para espécies com características cromossômicas diplóides, triplóides e tetraplóides.

Espécie de banana, Musa balbisiana, consumida na Indonésia
Espécie de banana, Musa balbisiana, consumida na Indonésia. #ParaTodosVerem: a foto mostra uma banana sobre um gramado. Esta está cortada ao meio e é possível ver suas sementes na cor preta. Fonte: Forest and Kim Starr

Projetos de melhoramento genético da banana são realizados desde 1920 e visam principalmente obter cultivares que sejam resistentes a pragas e doenças. As espécies que consumimos apresentam baixa variabilidade genética devido à reprodução assexuada, assim possuem uma maior susceptibilidade de contraírem doenças fúngicas, bacterianas e virais. O grande problema do melhoramento genético nas espécies cultivadas hoje é que não é possível realizá-lo por cruzamentos, já que essas plantas não podem se reproduzir sexuadamente. Nesse caso, outras estratégias são utilizadas e se mostram muito dispendiosas. Para contornar esse problema, a biotecnologia vem trazendo alternativas para se obter bananas geneticamente modificadas que podem ter características interessantes.

A Biotecnologia das bananas

O sequenciamento do genoma da espécie de banana Musa acuminata, em 2012, foi essencial para que a Biotecnologia pudesse ser empregada ativamente pelos cientistas no intuito de desenvolver cultivares resistentes à pragas, doenças, mais nutritivos e com melhor qualidade. Até o momento, nenhuma banana geneticamente modificada foi aprovada para consumo, mas os resultados obtidos mostram que não é uma realidade que está longe.

Um exemplo que pode chegar à mesa de consumidores é a banana transgênica com elevado teor de betacaroteno, desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Queensland, Austrália. A banana do tipo Cavendish (ou banana d’água) recebeu genes de outra espécie nativa da Nova Guiné. Essa banana contém até 20 vezes mais betacaroteno, o qual é convertido em vitamina A e pode ser uma fonte nutritiva importante. Muitas crianças, especialmente na África, sofrem de problemas graves de saúde devido à deficiência desta vitamina. E como a banana é muito consumida por essas populações, a introdução da variedade transgênica poderia ser muito útil para combater a mortalidade e cegueira infantil.

Banana do tipo Cavendish ou banana d'água
Banana do tipo Cavendish ou banana d’água. #ParaTodosVerem: a foto mostra vários cachos de banana do tipo Cavendish, um dos mais consumidos mundialmente. Fonte: Schubert Ciencia

Outro exemplo que visa combater doenças é a banana transgênica resistente à bactéria Banana Xanthomonas Wilt (BXW), criada no Instituto Internacional de Agricultura Tropical da Uganda. Essa bactéria ocasiona uma doença que mata várias bananeiras e afeta a produção de bananas na África. Neste caso, genes encontrados em duas espécies de pimenta verde foram introduzidos na banana para garantir resistência à infecção

Existe, também, uma enorme preocupação em combater o fungo TR4 que afeta bananas, principalmente do tipo Cavendish, e ocasiona a doença do mal-do-panamá. A Biotecnologia está sendo usada de diversas formas na tentativa de obter bananas resistentes ao vírus. Uma das alternativas que vem sendo testada por uma startup  da Inglaterra (Tropic Biosciences) é o uso da técnica de interferência por RNA (RNAi) para tentar desativar genes importantes do fungo, quando este infecta a banana.

Já na Universidade Tecnológica de Queensland, cientistas tentam usar técnicas de transgenia para introduzir um gene de resistência ao fungo nas bananas, além de usar a tecnologia de CRISPR para editar um gene que poderia ser reativado e conferir esta resistência. 

O futuro das bananas

A banana é consumida mundialmente e é importante sabermos de sua história e características para podermos contornarmos os problemas que essa planta enfrenta, principalmente por ser muito sensível à doenças. Além disso, a Biotecnologia pode ser uma ferramenta aliada para que essa planta possa ser melhorada, possibilitando a sua utilização como um alimento diário no combate à desnutrição e outros problemas de saúde. Existem várias perspectivas futuras, como a obtenção de bananas geneticamente modificadas como veículos para a produção de antígenos de vacinas. Muitas pesquisas já estão em fase de testes em campo e a promessa é que nos próximos anos poderemos consumir bananas geneticamente modificadas com maior qualidade e nutrientes.

Perfil Fabiano
Texto revisado por Arthur Enrici e Ísis V. Biembengut

Cite este artigo:
ABREU, F. C. P. Bananas e Biotecnologia: curiosidades que você não sabia! Revista Blog do Profissão Biotec, v.10, 2023. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/bananas-biotecnologia-curiosidades-que-voce-nao-sabia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

Época Negócios Online. Cientistas correm contra o tempo para salvar bananas da extinção. Disponível em < https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2019/09/cientistas-correm-contra-o-tempo-para-salvar-bananas-da-extincao.html > Acesso em 5 de novembro de 2022.
GARATTONI, Bruno. Cientistas criam banana transgênica. Disponível em < https://super.abril.com.br/saude/cientistas-inventam-banana-transgenica/ > Acesso em 5 de novembro de 2022.
Redação Terra. Bananas geneticamente modificadas combatem bactérias na África. Disponível em < https://www.terra.com.br/byte/ciencia/pesquisa/bananas-geneticamente-modificadas-combatem-bacterias-na-africa,a718962f137ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html > Acesso em 5 de novembro de 2022.
SANTOS, Vanessa Sardinha. A banana tem sementes? Disponível em < https://mundoeducacao.uol.com.br/curiosidades/a-banana-tem-semente.htm > Acesso em 3 de novembro de 2022.
SILVA, Sebastião de Oliveira et al. Melhoramento genético da bananeira: estratégias e tecnologias disponíveis. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 35, p. 919-931, 2013.
Fonte da imagem destacada: Wikimedia.

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Fernanda
Fernanda
1 ano atrás

Que legal! Parabéns pela pesquisa!
Muito interessante!

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