A Biotecnologia se mostrou ainda mais importante no primeiro semestre de 2020, sendo uma peça chave no combate à pandemia de COVID-19. Confira aqui 5 de suas contribuições nessa luta.

No dia 30 de junho é comemorado o Dia do Profissional de Biotecnologia! Em sua homenagem o Profissão Biotec faz uma retrospectiva de como a Biotecnologia se mostrou ainda mais importante neste primeiro semestre de 2020. Assim, listamos 5 de suas diferentes atuações no combate à pandemia do novo coronavírus

1 – Conhecendo o vírus

As ferramentas de sequenciamento e análises por bioinformática permitiram que conhecêssemos rapidamente o genoma do vírus e pudéssemos entender sua provável evolução natural e sua rota de propagação pelo Brasil e pelo mundo. Além disso, o conhecimento do material genético do vírus e de suas estruturas proteicas permitiu que cientistas do Brasil e do mundo inteiro rapidamente direcionassem suas pesquisas para métodos de diagnóstico rápidos e precisos, e para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas contra a COVID-19.

2 – Métodos de diagnóstico

Na ausência de tratamentos eficazes e vacinas, o diagnóstico e o distanciamento social continuam sendo nossas melhores armas para conter o avanço da COVID-19. Técnicas utilizadas no dia a dia de laboratórios de biotecnologia foram rapidamente adaptadas para o diagnóstico da COVID-19.

 Destacam-se: 

Os dois últimos testes conseguem analisar amostras em larga escala e foram recentemente desenvolvidos no Brasil, respectivamente pelo Hospital Israelita Albert Einstein e pelo laboratório particular Mendelics em parceria com o Hospital Sírio Libanês. Os testes ainda estão em fase de validação e transferência de tecnologia para outros laboratórios poderem executar a técnica, mas já se mostraram mais rápidos, mais baratos e tão precisos quanto o teste molecular (padrão-ouro), com a grande vantagem de analisar milhares de amostras ao mesmo tempo.

3 – Produção de reagentes

O crescente número de testes de diagnóstico realizados para COVID-19 gerou uma grande demanda por reagentes de laboratório que eram até o momento largamente importados para o país. Em meio à pandemia, algumas startups brasileiras de biotecnologia surgiram e outras se fortaleceram como produtoras de enzimas e insumos para os testes de diagnóstico. Outras empresas estão focadas na produção de anticorpos para diagnóstico e para o promissor tratamento que utiliza essas moléculas. 

4 – Busca por novos medicamentos

Desde que o novo coronavírus se tornou manchete por desencadear um surto na China com grande potencial de se espalhar, cientistas do mundo todo iniciaram a busca por um medicamento ou tratamento que fosse seguro e eficaz contra a COVID-19. Segundo levantamento da revista Exame, no começo de maio eram 182 medicamentos em teste para o tratamento da doença. 

Como as pesquisas para o desenvolvimento de uma nova molécula para uso como  medicamento podem demorar de 10 a 15 anos, cientistas estão utilizando a estratégia de buscar um segundo uso para medicamentos já comercializados e utilizados na clínica (e, portanto, seguros dentro de suas aplicações). O famoso reposicionamento de fármacos. Dentre esses fármacos testados destacam-se alguns que se mostraram promissores em laboratório (nos chamados testes in vitro) contra o vírus SARS-CoV-2; agora é preciso mostrar sua eficácia e segurança nos testes clínicos em pacientes. Os mais conhecidos são: 

  • a hidroxicloroquina/cloroquina, que apesar de eficientes nos testes in vitro mostraram muitos efeitos adversos em pacientes; 
  • o Rendesivir, inicialmente desenvolvido para o tratamento do vírus Ebola; 
  • o tratamento conjunto de lopinavir e o Ritonavir, utilizado no tratamento do HIV; 
  • a descoberta brasileira Nitazoxanida, um vermífugo. 
  • A Dexametasona, um corticosteróide que em junho seus ensaios clínicos demonstraram reduzir a mortalidade entre os doentes muito graves. Os resultados ainda são preliminares, mas pesquisadores e sociedade aguardam ansiosamente por mais resultados com este tratamento. 

Além do uso de medicamentos, no Brasil e no mundo está sendo estudado e testado o uso de anticorpos de pacientes curados para o tratamento. Também está em estudo a produção em larga escala desses anticorpos por meio de técnicas de bioprocessos. Em junho foi anunciado uma pesquisa pioneira no Brasil para utilizar células-tronco no tratamento da COVID-19. Este trabalho está sendo feito por pesquisadores da PUCPR, da UFPR e do Instituto Carlos Chagas.

5 – Desenvolvimento de vacinas

Além da busca por um tratamento eficiente para a COVID-19, pesquisadores  estudam o desenvolvimento de uma vacina que evitará que novas pessoas sejam infectadas. Segundo nota da Revista Fapesp, no final de maio havia 125 vacinas contra a COVID-19 em desenvolvimento, sendo que 10 delas estavam na fase de testes clínicos.  O processo de desenvolvimento de uma vacina eficaz e segura também é demorado, mas para encurtá-lo os cientistas estão utilizando informações derivadas de pesquisas de outros vírus similares ao SARS-CoV-2. Existem 5 estratégias em teste para o desenvolvimento de uma vacina para COVID-19.

O Brasil não está de fora dessas pesquisas e duas estratégias têm sido estudadas por pesquisadores brasileiros, respectivamente, da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Butantan. Em junho foi veiculada a notícia de que uma vacina baseada em peptídeos virais desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz, por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), iniciou os ensaios pré-clínicos em animais.

No mesmo mês, foram anunciadas duas parcerias para realização no Brasil de testes clínicos de fase III (última fase de testes em humanos) para vacinas contra a COVID-19 e para subsequente produção da vacina no país caso os resultados dos testes forem positivos.  A Unifesp em São Paulo e o Instituto D’Or no Rio de Janeiro realizam os testes com 5000 voluntários para a vacina de vetor viral produzida pela Universidade de Oxford do Reino Unido em parceria com a farmacêutica AstraZeneca.  O Instituto Butantã realizará os ensaios clínicos em cerca de 9000 voluntários da vacina de vírus atenuada desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac Biotech.

Se você também acha que em 2020 a Biotecnologia vai consolidar seu espaço como ciência aplicada a resolução de problemas humanos, junte-se a nós do Profissão Biotec e nos siga em nossas redes sociais! Em que outras áreas a Biotecnologia pode se destacar em 2020? Deixe sua opinião nos comentários. 

Texto revisado por Priscila Esteves e Ísis Venturi

Todas as imagens deste texto foram extraídas do Pixabay.

Referências:
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