A biotecnologia oferece soluções mais rápidas aos processos biológicos industriais para alcançar a neutralidade em carbono.

A redução do carbono na atmosfera é um tema importante que vem sendo discutido entre governantes, cientistas e sociedade há muitos anos. Sabemos que a elevada produção e acúmulo atmosférico de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), têm contribuído para as mudanças climáticas radicais que estamos vivenciando. 

Encontros entre os principais líderes dos países como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP) são realizados anualmente em busca de soluções e compromissos dos governantes com as políticas ambientais. Nesse contexto, surgiu o termo carbono neutro, que é uma das principais metas globais em relação ao meio ambiente. A biotecnologia através do melhoramento genético de plantas, animais e microrganismos tem atuado no aumento de produtividade do setor agropecuário para contribuir com as metas mundiais. 

O que é o carbono neutro

Uma sociedade baseada em carbono neutro é aquela onde se tira máximo proveito de matérias-primas e recursos. Para alcançar esse patamar não é necessário que uma atividade deixe de emitir carbono, mas sim que busque maneiras de compensar o carbono emitido buscando a neutralidade. Dessa forma, evita-se o excesso de emissões de carbono e suas graves consequências para o ecossistema. 

O conceito de carbono neutro está inserido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU). O ODS 11, por exemplo, tem por objetivo tornar cidades e comunidades sustentáveis. Outro exemplo é o ODS 13, onde se planeja adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos.

Com base no perfil de consumo, podemos estimar nosso consumo de CO2 com calculadoras como da Carbonext e da SOS Mata Atlântica. Esses sites ainda dão dicas e oportunidades de contribuir na compra de mudas de árvores que serão plantadas para neutralizar a sua pegada de carbono. 

Simulação do consumo de CO2 para uma pessoa física.
Simulação do consumo de CO2 para uma pessoa física. Fonte: Informações adaptadas de Carbonext

Como reduzir a pegada de carbono

Em 2020, apenas 20% dos subsídios globais foram utilizados para a energia renovável, o que nos coloca ainda mais distantes de alcançar a meta de sociedade neutra em carbono. Porém, em diversos setores as mudanças através da biotecnologia têm buscado reduzir a produção de carbono, ou aproveitá-lo para outros processos. 

Etiquetas de Carbono Neutro
Etiquetas de Carbono Neutro. Fonte: Freepik.

Uma cervejaria australiana utiliza o CO2 liberado na produção (fermentação) da cerveja diretamente em um biorreator para cultivo de microalgas. Além da utilização do CO2 que seria liberado para a atmosfera, um cultivo microalgal de 400 L pode produzir tanto oxigênio quanto um hectare de floresta australiana. 

Já a Embrapa desenvolveu a marca Carne Carbono Neutro (CCN®) que atesta por meio de protocolos que a carne bovina é proveniente de um sistema onde as emissões de metano são compensadas pelo plantio de árvores e redução do desmatamento, além do bem-estar animal garantido. O metano possui potencial de aquecimento global 21 vezes maior que o CO2, e a produção do gás está principalmente associada à criação de gado.

Líder mundial em biotecnologia, a empresa Novozymes, em 2021, teve mais de 85% das suas vendas a partir de soluções que reduzem o uso de recursos fósseis, o que permitiu aos setores agrícolas e alimentícios maior produtividade com menos impacto. Alguns de  seus produtos como os inoculantes para soja, tradicionalmente compostos de rizóbios que auxiliam na fixação biológica de nitrogênio, têm adição de bactérias promotoras de crescimento que produzem fitormônios para a cultura. A fórmula utilizada pela empresa é mais concentrada para proporcionar máximo rendimento, tem maior estabilidade para se tornar mais sustentável e com menor pegada de carbono.   

A bioenergia, proveniente de fontes renováveis e com menor pegada de carbono que os combustíveis fósseis, é uma das alternativas que tem recebido maior atenção e investimentos. Nosso dia a dia é quase que totalmente baseado em energia elétrica e isso impacta diretamente na utilização dos recursos naturais. As políticas governamentais têm incentivado tanto o consumidor comum quanto as grandes empresas a utilizar biocombustíveis, energia eólica e energia solar para reduzir o uso de fontes não-renováveis. 

Potencial brasileiro e a biotecnologia

Desde 1981, quando instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), para preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, o Brasil tem sido exemplo de atenção ao meio ambiente. Desde a PNMA, diversas leis foram criadas no sentido de cuidar da biodiversidade invejável que temos no nosso país. No entanto, nos últimos anos alguns deslizes foram cometidos e o país bateu recorde de emissões de carbono e desmatamento ilegal, com grande redução do território indígena. Além do desmatamento, outros setores como agropecuária, processos industriais e uso de produtos e energia aumentaram a contribuição com emissões de CO2.

Na COP 26, que ocorreu em novembro de 2021, o Brasil, entre outras metas, assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 50% até 2030, atingir a neutralidade de carbono até 2050 e trabalhar pela redução nas emissões de gás metano. Nessa ocasião, o Brasil mostrou que o agronegócio é um aliado e planos como o RenovaBio e o Plano ABC têm mostrado bons resultados quanto à mitigação de gases de efeito estufa. As metas do Plano ABC, que esteve vigente entre 2010 e 2020, foram superadas. A redução das emissões de CO2 previstas de até 162 milhões de toneladas chegou a 170 milhões de toneladas. Por isso, o plano entrou em nova fase, com renovação de 10 anos, onde as novas metas buscam “a consolidação de uma agropecuária nacional alicerçada sobre sistemas sustentáveis, resilientes e produtivos”.

Um homem plantando
O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo, mostrando a força do agronegócio do país. Fonte: Freepik.

A substituição da matriz energética por fontes renováveis como a energia solar (terceira maior fonte de energia elétrica brasileira) e os biocombustíveis aliada à adoção da pecuária e agricultura de baixo carbono têm contribuído para a redução da pegada de carbono. Visto que a agricultura é uma das principais fontes de renda do Brasil e a agropecuária uma das atividades de maior emissão de gases de efeito estufa, o correto manejo desses setores é essencial. A agricultura de baixo carbono propõe um sistema lavoura-pecuária-floresta com rotatividade de culturas para evitar o empobrecimento de nutrientes do solo, pouco manejo da terra para redução da erosão e menor tempo entre colheita e semeadura para conservar a água do solo.  

A biotecnologia através do melhoramento genético de plantas, animais e microrganismos acelera o desenvolvimento de tecnologias, proporcionando soluções mais rápidas. Os microrganismos geneticamente modificados podem atuar nos processos biológicos industriais e reduzir a necessidade de matérias-primas fósseis. Assim, agricultores, pecuaristas e indústrias têm acesso a sementes, animais e microrganismos mais produtivos, com menor produção de carbono e que podem até mesmo capturar o carbono atmosférico.

Além disso, é necessário que governo e empresas, bem como a população em geral, mostrem interesse e incentivem essas tecnologias. Também é importante notar que é urgente a necessidade de repensar os hábitos. Sobretudo, países como o Brasil onde existe uma grande desigualdade social podem enfrentar dificuldades em níveis populacionais diante a falta de recursos para mudar as ações. 

Os impactos do crescimento populacional e das cidades e do avanço tecnológico podem ser sentidos por nós diariamente. Se as políticas ambientais e os acordos entre os países forem cumpridos, talvez possamos frear (já que reverter seria muito mais complicado) as mudanças climáticas. A biotecnologia tem diversas ferramentas disponíveis para contribuir nesse desafio global de reduzir as emissões de carbono e reconstruir nosso planeta.   

Perfil de Bruna Cardias
Texto revisado por Jennifer Medrades e Ísis V. Biembengut

Cite este artigo:
CARDIAS, B. B. Como a biotecnologia pode contribuir com a meta do carbono neutro. Revista Blog do Profissão Biotec. V. 10, 2023. Disponível em: <>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

Faculdade de Gestão e Inovação. O que é agricultura de baixo carbono? 2022. Disponível em: https://www.faculdadefgi.com.br/post/o-que-e-agricultura-de-baixo-carbono. Acesso em: 27 jan. 2023.
Site CropLife Brasil. A biotecnologia e o alcance das metas climáticas. 2022. Disponível em: https://croplifebrasil.org/noticias/a-biotecnologia-e-o-alcance-das-metas-climaticas/. Acesso em: 09 jan. 2023.
YASSUMOTO, William. As contribuições da biotecnologia para um mundo carbono neutro. 2022. Disponível em: https://www.progresso.com.br/tecnologia/as-contribuicoes-da-biotecnologia-para-um-mundo-carbono-neutro/396067/. Acesso em: 09 jan. 2023.
Fonte da imagem destacada: Freepik.

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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