Os genes são capazes de influenciar no funcionamento dos cosméticos no organismo, podendo contribuir com o uso personalizado desses.
DNA

Você já deve ter lido algo sobre a genética influenciando na resposta aos medicamentos, à dieta e ao exercício físico, mas sabia que as informações genéticas presentes no DNA (ácido desoxirribonucléico) podem contribuir com um tratamento estético personalizado? Pois é, técnicas de sequenciamento e a análise dos genes permitem conhecer melhor os aspectos da aparência do indivíduo, como por exemplo, a estrutura tecidual, a produção de melanina e o cabelo.

DNA
Dermocosméticos personalizados. #ParaTodosVerem: moléculas da dupla hélice de DNA e uma gotícula de óleo cosmético suspensa por um conta gotas. Fonte: https://www.istockphoto.com/

O uso dos cosméticos

Creme usado para hidratação da pele.
Creme usado para hidratação da pele.
#ParaTodosVerem: superfície bege-rosa com um pote contendo creme cosmético com uma espátula para remoção do pote e umas alças ao lado da imagem. Fonte: https://www.istockphoto.com/

Os cosméticos são usados há 30 mil anos para embelezar o corpo e diversos relatos históricos mostram a presença deles, tais como: a utilização de gordura animal e vegetal para proteger a pele das altas temperaturas e da baixa umidade pelos egípcios, a produção dos primeiros sabões com extratos vegetais pelos gregos e a utilização de maquiagem pelos atores do teatro romano.

Hoje em dia, seja por motivo pessoal, profissional ou costumes étnicos, a aparência física é um fator que pode determinar o comportamento e a escolha dos indivíduos, sendo geralmente associada a uma “boa conduta moral”. O fato é que os objetivos do embelezamento podem variar, e/ou até terem mudado, mas o papel central dos cosméticos ainda permanece: melhorar a aparência física.

É comum as pessoas recorrerem ao arsenal cosmético para adquirir um produto para hidratar a pele ou para retardar as rugas, por exemplo. Atualmente, pode-se lançar mão de procedimentos mais sofisticados como um tratamento estético personalizado, baseado nas informações genéticas do DNA.

O envelhecimento e a busca pela longevidade

O envelhecimento é um processo natural que ocorre à medida que a idade do indivíduo avança, sendo causado por fatores intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos são compostos por características genéticas, metabolismo celular e processos hormonais; e os extrínsecos são fatores ambientais como radiação, poluição, produtos químicos, toxinas, tabagismo e etilismo.

Estudos com gêmeos mostram que 60% dos fatores responsáveis pelo envelhecimento são genéticos. E com o avanço científico foi possível definir a associação de SNPs (Polimorfismos de Nucleotídeo Único) às características cutâneas.

Outra descoberta importante acerca do envelhecimento é sobre os telômeros, que são as extremidades dos cromossomos, as quais vão se encurtando a cada divisão celular. Isso ocorre pelo fato da telomerase, enzima responsável pela replicação dos telômeros, ter sua produção reduzida com o avançar do tempo, causando o encurtamento dessa região. Os telômeros são importantes para a estabilidade genômica e consequentemente, o seu encurtamento causa diversas alterações que levam ao envelhecimento celular.

É importante ressaltar que o cuidado com a pele pode prevenir, retardar/atenuar e até reverter sinais do envelhecimento da pele, como o aumento da elasticidade e suavidade, por meio do uso de produtos cosméticos que a cada dia estão sendo produzidos com mais tecnologia.

Segundo a ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) o Brasil é o quarto país que mais consome os produtos de HPPC (Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), representando 6% do mercado mundial. E um dos nichos que mais cresce nesse setor é o de formulações anti-idade/anti envelhecimento/anti-sinais/anti-rugas, com alto potencial para prevenir e retardar o envelhecimento cutâneo.

Entendendo a cosmetogenética

A cosmetogenética estuda a interação entre os genes e os cosméticos, buscando compreender como as variações presentes nos genes fazem o corpo responder aos cosméticos. Ela também pode mostrar, por exemplo, se um indivíduo é mais propenso ao envelhecimento da pele ou ao desenvolvimento da calvície.

A indústria cosmética está de olho nesse ramo, pois será possível produzir cosméticos personalizados e mais eficazes para públicos que possuem variações genéticas específicas. Com as informações genéticas em mãos, será possível, por exemplo, selecionar ativos que melhoram a aparência da pele ou do cabelo.

Os produtos elaborados nos setores de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) das indústrias cosméticas necessitam ter eficácia e segurança comprovadas em órgãos regulatórios, que no Brasil é a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para proporcionar saúde, bem-estar físico, social e emocional aos usuários.

Na cosmetogenética, os produtos podem nos fazer sentir especiais e únicos. Ela também pode ser usada para aumentar a segurança dos cosméticos, permitindo desenvolver cosméticos para pessoas que apresentam alergias ou outras sensibilidades específicas.

Dermocosméticos personalizados.
Dermocosméticos personalizados. #ParaTodosVerem: gotícula de emulsão com moléculas da dupla hélice de DNA dentro em um fundo azul claro. Fonte: https://www.istockphoto.com/

Os cosméticos e o DNA

Um marcador cosmetogenético estudado é o polimorfismo no gene ERC22 que confere maior susceptibilidade dos indivíduos à radiação solar, o que gera interesse para a produção de filtros solares mais eficazes. As variações no gene da pele clara e cabelos ruivos (MC1R) foram associadas com uma idade cerca de 2 anos maior que a real nos indivíduos de um estudo. O gene MC1R também está relacionado com a produção de melanina e com o reparo do DNA.

Outro gene conhecido é o MMP1, que produz a proteína MMP (Metaloproteinase de Matriz), que degrada os colágenos tipo I e III, cuja análise de seus SNPs pode direcionar o tratamento estético que permite modular a expressão gênica para interferir no fotoenvelhecimento da pele, principalmente na formação de rugas e das linhas de expressão.

As tecnologias para detectar os SNPs cosmetogenéticos, como os microarranjos, são ferramentas importantes para personalizar o tratamento estético dos indivíduos. Com as informações genéticas em mãos, é possível que os especialistas escolham tratamentos mais específicos para obter respostas otimizadas para o envelhecimento precoce, capacidade antioxidante, tratamento de calvície, etc.

Dermocosméticos personalizados.
Dermocosméticos personalizados. #ParaTodosVerem: um plano de fundo rosa com gotículas de emulsão e moléculas de DNA, uma gotícula maior centralizada com uma estrutura química em seu interior. Fonte: https://www.istockphoto.com/

Genocosméticos

O público que procura esse tipo de tratamento vem aumentando, o que movimenta a pesquisa e desenvolvimento de formulações inovadoras que viabilizem uma performance otimizada do uso dos cosméticos para nichos específicos. As indústrias cosméticas e farmácias de manipulação também estão atentas para atender a demanda dos chamados genocosméticos.

Os testes cosmetogenéticos permitem personalizar cosméticos de uso tópico ou oral. O público masculino com calvície pode se beneficiar desse teste para modular o uso da finasterida, um fármaco utilizado para promover o crescimento capilar e prevenir a queda dos fios. 

No Brasil, já são desenvolvidos dermocosméticos, cuja produção une o trabalho de clínicas de estética e laboratórios de genética. No caso do gene MMP1, o teste cosmetogenético é realizado com amostras da saliva e os dermocosméticos são usados para modular a expressão gênica.

Existem também protetores solares com a enzima fotoliase lipossomada na formulação, para reparar o DNA dos danos causados pela radiação ultravioleta. Já o sérum antiaging, fabricado por diferentes empresas da área, contém Undaria pinnatifida capaz de ativar “genes desligados” para reestruturar a matriz extracelular, atenuar as linhas de expressão e suavizar as rugas.

Outra tecnologia que explora a estratégia genética para escolher os ativos dos cosméticos é o uso de extrato da planta Scutellaria baicalensis Georgi. para induzir a expressão do gene da telomerase, no intuito de promover a divisão celular e retardar o envelhecimento cutâneo.

Uma classe de ativos epigenéticos muito explorada pela indústria cosmética são os fatores de crescimento, que podem reparar o tecido e reduzir os sinais de envelhecimento, conforme informa a tabela abaixo.

Fatores de CrescimentoFunção
Fator de Crescimento Transformador – TGFPromove a formação da matriz extracelular, síntese de colágeno e elastina, proliferação e diferenciação celular.
Fator de Crescimento fibroblástico – FGFPromove a proliferação de fibroblastos, células endoteliais e estimula a angiogênese. Importante nas lesões musculares e tendinosas.
Fator de Crescimento Semelhante à Insulina – IGFProliferação e diferenciação celular. Importante na formação óssea.
Fator de Crescimento Epidermal – EGFMitógeno, promove a reepitelização e síntese de colágeno. Importante no tratamento de feridas, tratamento de pele e lesão na córnea.
Fonte: Silva, Abreu e Rodrigues, 2022.

Pesquisas e desafios

As pesquisas de cosmetogenética ocorrem principalmente nos setores da indústria cosmética e prometem revolucionar a produção dos produtos cosméticos. Entretanto, é uma área da ciência que ainda está em desenvolvimento. É importante ressaltar que o estilo de vida e a exposição ambiental também contribuem com a aparência física, devendo-se manter o cuidado com a saúde estética.

Espera-se que no futuro próximo, mais informações genéticas estejam disponíveis  para realizar mais tratamentos estéticos personalizados e que parcerias de iniciativas públicas e privadas contribuam com o desenvolvimento de formulações personalizadas, eficazes e seguras para atender a necessidade de cada indivíduo.

Perfil de Karwhory
Texto revisado por Arthur Enrici e Fabiano Abreu

Cite este artigo:
SILVA, K. W. L. Cosmetogenética: a genética da sua beleza! Revista Blog do Profissão Biotec, v. 11, 2024. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/cosmetogenetica-genetica-sua-beleza/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências:

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AVEIRO, J. V. G. et al. Análise de setor e destino das exportações de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. In: Encontro de Gestão e Tecnologia, 2º, São Paulo, 2019. Anais… São Paulo: Faculdade de Tecnologia Zona Leste, 2019.
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Exames genéticos: descubra o remédio perfeito para você. [online]. 2020. Disponível em: <https://farmaciaproderma.com.br/blog/exames-geneticos-descubra-o-remedio-perfeito-para-voce/>. Acesso em: 12 maio 2023.
FRANQUILINO, E. Cosmetogenética. Cosmetics & Toiletries. v. 29, p. 13-15, 2017.
GOMES, A. G. Cosmetogenética: tratamento cosmético personalizado. 2016. 21 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Biomedicina Estética) – Faculdade de Tecnologia em Saúde, Ribeirão Preto, 2016.
LI, H. B.; JIANG, Y.; CHEN, F. Separation methods used for Scutellaria baicalensis active components. Journal of Chromatography B, v. 812, n. 1-2, p. 277-290, 2004.
LUCA, C. et al. A atuação da cosmetologia genética sobre os tratamentos antienvelhecimento. InterfacEHS – Revista de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade, v. 8, n. 2, p. 63-91, 2013. Disponível em: <https://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2013/09/88_artigo_InterfacEHS.pdf>. Acesso em: 18 maio 2023.
RSTOM, S. A. et al. Avaliação da ação de creme contendo fotolíase em lipossomas e filtro solar FPS 100 na queratose actínica da face: estudo clínico dermatoscópico e por microscopia confocal. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 6, n. 3, p. 226-231, 2014. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/2655/265532575002.pdf>. Acesso em: 18 maio 2023.
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SILVA, E. D.; ABREU, G. S.; RODRIGUES, M. J. S. Uso da epigenética e fatores de crescimento em cosméticos para tratamento do envelhecimento cutâneo. Revista Leia Cambury, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2022. Disponível em: <https://www.revistaleiacambury.com.br/index.php/repositorio/article/view/35/35>. Acesso em: 24 maio 2023.
Fonte da imagem destacada: https://www.istockphoto.com/.

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