7 bilhões de pessoas e apenas 1 planeta – a conta não fecha. Até 2050 é estimado que a população global chegará a 9,6 bilhões. Para manter o estilo de vida que levamos atualmente, seriam necessários cerca de 3 planetas para disponibilizar todos os recursos!
Apesar das viagens espaciais terem se tornado mais acessíveis para não-astronautas (milionários já podem pagar), ainda não temos 3 planetas propícios para a vida humana. O planeta Terra continua sendo nosso lar, e precisamos cuidar bem dele.
Para isso, até 2030 deseja-se alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais, reduzindo o desperdício de alimentos e a geração de resíduos através da prevenção, redução, reciclagem e reuso. Já ouviu aquela frase: Menos é mais? Assim, essa meta foi incluída na Agenda 2030 da ONU, como um dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), sendo o número 12 (Plataforma Agenda 2030, 2021).
O que é o ODS 12?
O objetivo de desenvolvimento sustentável número 12 propõe a diminuição do impacto causado pelas atividades humanas, a partir do crescimento econômico inclusivo com redução da pegada ecológica (WWF, 2021).
O que é consumo responsável? E produção responsável?
Consumo responsável é o ato de consumir produtos e/ou serviços que:
- Utilizam menos recursos naturais em sua produção, ou o utilizam de forma sustentável;
- Garantam emprego decente aos trabalhadores envolvidos em sua produção;
- Podem ser facilmente reciclados ou reaproveitados.
Assim, é uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária para garantir a sustentabilidade da vida no planeta.
A produção responsável é o processo produtivo que menos agride o meio ambiente, ou que neutraliza os impactos derivados da atividade na mesma proporção em que são causados. Se refere à escolha de materiais, métodos de extração física, química ou biológica que visam a redução de danos ambientais e apresentam maior valor social.
Quais as metas do ODS 12?
O ODS 12 tem um total de 8 metas principais que norteiam as ações para alcançar esse objetivo. Dentre essas metas, as que têm mais relação com a biotecnologia são:
- Até 2030, alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais (…);
- Até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial (…) e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento;
- Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente saudável dos produtos químicos e todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes (…) e reduzir significativamente a liberação destes para o ar, água e solo (…);
- Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso.
Qual a importância do ODS 12?
O ODS 12 representa uma direção para governantes, empresas, cientistas e tomadores de decisão. O esforço necessário para mudar práticas de consumo e produção é enorme, pois envolve diversos setores de um país, além de fatores culturais e sociais. Por exemplo, você que está lendo esse texto: estaria disposto(a) a pagar mais por um produto ou processo só porque ele é sustentável?
A resposta provavelmente é não, principalmente nos países em desenvolvimento ou que apresentam vulnerabilidades econômicas. E por isso é necessário um objetivo global, como este, para unir diferentes setores da sociedade. Assim, é possível criar, implementar e baratear soluções sustentáveis, até que elas se tornem competitivas no mercado e acessíveis à população.
Felizmente, a biotecnologia é uma das áreas do conhecimento que pode contribuir com esse objetivo – principalmente ampliando as alternativas de produção e consumo.
5 Contribuições da biotecnologia para o ODS 12
Vamos conhecer algumas das aplicações biotecnológicas para o ODS 12?
- Biomateriais
Biomateriais são materiais de origem total ou parcialmente biológica. São muitos tipos, e podem ter propriedades diversas, desde candidatos para a substituição de embalagens plásticas, como o bagaço da cana-de-açúcar e o bambu ou bioplásticos de origem microbiana, até tijolos com base em micélios de fungos.
Esses materiais representam uma alternativa às opções convencionais. Essa diversidade de produtos é importante para que os preços abaixem e estes materiais se tornem tão ou mais competitivos do que os chamados materiais tradicionais.
- Biocombustíveis
A bioenergia pode ser aproveitada para produzir calor, combustíveis e gerar eletricidade, inclusive a partir de resíduos. Dentre os biocombustíveis, o bioetanol e biodiesel são combustíveis alternativos já presentes em nosso cotidiano! O etanol de segunda geração é produzido a partir de resíduos do processamento da cana-de-açúcar e outros materiais vegetais; já o biodiesel é obtido por meio da transformação de óleos renováveis.
A geração de fontes de energia alternativas contribui para que haja a paridade de rede (em inglês: grid parity), o momento no qual o custo de energias alternativas se torna igual ou menor do que o custo de formas convencionais de energia, como combustíveis fósseis. Esse é o caminho mais economicamente viável para a substituição de combustíveis fósseis pois obedece o efeito substituição da lei de oferta e demanda.
- Substituição de ingredientes fósseis por enzimas
A Novozymes, uma multinacional em biotecnologia de origem dinamarquesa, domina o mercado mundial de enzimas, e as utiliza em uma variedade de produtos – lavagem de jeans, amaciamento de couro, polidor têxtil e até aumento da produção de sucos – para aumentar a eficiência dos processos, consumindo menos água e reduzindo desperdícios.
Para se ter uma ideia, a lavagem do jeans costuma ser realizada para desgastá-lo, lavando-o com muita água e causando atrito. A utilização de enzimas celulases nesse processo diminui os enxágues excessivos, e não enfraquece o tecido.
- Biorremediação nos processos de produção
A geração de resíduos sólidos é uma realidade e a tendência é que aumente à medida que a população cresce. Várias alternativas surgem para o tratamento desses resíduos, e a biorremediação é uma delas.
A biorremediação consiste na utilização de organismos vivos para a transformação de contaminantes em substâncias de baixa ou nenhuma toxicidade. Pode ser realizado no local contaminado (in situ) ou fora da região de contaminação (ex situ).
É uma alternativa que pode ser adaptada para diversos contaminantes, a depender da capacidade de degradação de cada organismo. Alguns exemplos são a degradação de bioplásticos e a despoluição de esgotos. Assim, os processos que liberam contaminantes no meio ambiente podem utilizar da biorremediação para mitigar o impacto ambiental da produção e até recuperar e reciclar compostos.
- Retardo do apodrecimento de vegetais para redução de desperdícios
Fazer a colheita com todo carinho e perder uma parte significativa na hora do transporte. Essa é a realidade de muitos agricultores e fornecedores que trabalham diariamente com alimentos perecíveis.
Uma das soluções biotecnológicas que veio para somar é a película de revestimento da startup americana Apeel Science. A película, sem gosto, sem cheiro e quase invisível, é criada a partir de ácidos graxos vegetais e retarda a evaporação e oxidação dos alimentos, aumentando sua durabilidade e reduzindo o desperdício nas etapas de transporte.
- Alternativas à testes animais
Desde o final da década de 50, existe o “Princípio dos 3Rs” – reduzir, refinar e reutilizar (substituir) – para o uso de animais na ciência. Caso tenha curiosidade sobre o tema, você pode conferir mais aqui! A biotecnologia é uma grande aliada, especialmente no último R, que fala sobre a necessidade da utilização de métodos alternativos sempre que estiverem disponíveis. A substituição de animais por métodos alternativos pode reduzir custos para criação e testes em animais, bem como melhorar a qualidade de vida dos nossos companheiros de planeta.
A biotecnologia como aliada do ODS 12
Após conhecer mais sobre o objetivo de desenvolvimento sustentável 12 da ONU, fica evidente que a biotecnologia tem um papel muito importante para o alcance das metas dos ODS. Garantir padrões de consumo e produção responsáveis com menor impacto ambiental e social é uma problemática complexa e multidisciplinar, na qual os biotecnologistas têm muito a acrescentar.
Cite este artigo:
GONÇALVES, L. P. ODS 12: Consumo e produção responsáveis com a ajuda da biotecnologia. Revista Blog do Profissão Biotec, v.8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/ods-12-consumo-e-producao-responsaveis-com-ajuda-da-biotecnologia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
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Fonte da imagem destacada: Imagem produzida pela autora.