No fim do mês comemoramos o Dia do Biotecnologista, e será que a biotecnologia poderá nos ajudar a viver mais e melhor? Confira no texto algumas ferramentas biotecnológicas que podem contribuir para nossa longevidade.

A cada dia a expectativa de vida da população mundial aumenta. Países como Japão, Coréia do Sul, Espanha e França  já apresentam expectativas médias de vida de mais de 80 anos. No fim do século passado essa expectativa era de aproximadamente 70 anos. No Brasil, o IBGE estima que teremos mais de 19 milhões de pessoas com mais de 80 anos até 2060. Mas como será que a ciência tem contribuído para esses números? A biotecnologia poderá nos ajudar a viver mais e melhor? Confira abaixo algumas ferramentas biotecnológicas que podem contribuir para o aumento de nossa longevidade e da qualidade de nossa velhice.

Análise genética

Já imaginou ter todo o seu genoma sequenciado e descobrir as chances de desenvolver algumas doenças no futuro? E que tal começar o tratamento antes mesmo que os sintomas se manifestem?

Organização do DNA na célula: de cromossomos a bases nitrogenadas. Será que poderemos utilizar as informações do nosso genoma para uma vida mais longa e saudável? Fonte: OpenClipart-Vectors/pixabay

Com as técnicas de sequenciamento cada vez mais baratas, em breve sequenciar seu genoma não passará de mais um exame comum a que toda pessoa tem acesso. Muito mais que a técnica de sequenciamento em si, ainda temos um longo caminho pela frente na análise dessas informações. Hoje, famílias com histórico de câncer, por exemplo, já se beneficiam da análise genética para tomar a decisão de retirar órgãos preventivamente. Um caso que ficou muito famoso foi a retirada das mamas e dos ovários pela atriz Angelina Jolie. A atriz, que já havia perdido várias pessoas na família por causa do câncer, descobriu uma mutação no gene BRCA1. A mutação representa um risco de 87% de desenvolver câncer de mama e 50% de sofrer câncer de ovário.

Mas será que poderemos ir além? Poderíamos associar variações de genes com a eficiência de certos medicamentos, doenças futuras, dietas recomendadas e atividades físicas mais efetivas? A companhia deCODE (comprada pela Amgen em 2012) tem tentado responder essas questões. Nos últimos 20 anos, a companhia sequenciou mais de 10 mil genomas humanos e tem tentado associar variações genéticas com doenças como Alzheimer e esquizofrenia. Começar o tratamento preventivo para essas e outras doenças da velhice poderia beneficiar muitas pessoas.

Dieta e Microbiota

Enquanto nossa análise genética pode fazer muitas previsões sobre nossa saúde no futuro, a análise de nossa microbiota pode nos ajudar em tratamentos mais rápidos.

Que tal ter um suplemento personalizado com base nos seus microrganismos? Fonte: OpenClipart-Vectors/pixabay

A combinação da análise genética e da microbiota poderia ser utilizada para criar dietas personalizadas e prevenir doenças. Hoje, sabe-se que a nossa microbiota é alterada de acordo com a idade, com o uso de medicamentos e com a dieta. Além disso, está diretamente relacionada com o bom funcionamento de nosso sistema imune, a prevenção de doenças e a obesidade. A reposição de certos microrganismos pode ser utilizada para ajudar no controle de colesterol, diabetes, obesidade e outras doenças que são agravantes durante a velhice. Por exemplo, existem evidências de que algumas linhagens dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium seriam capazes de assimilar o colesterol no intestino.

Companhias como Microbiotica,  Enterobiotix e MaaT Pharma têm desenvolvido tratamentos para doenças intestinais utilizando microrganismos.

Engenharia de tecidos

A engenharia de tecidos é a área que busca manipular células, tecidos e órgãos em laboratório na tentativa de substituir um órgão ou tecido lesionado no corpo. A ideia aqui seria retirar células da própria pessoa, manipulá-las em laboratório e devolvê-las de forma a restaurar tecidos, órgãos ou até substituí-los. É como se criássemos um estoque de peças de reposição para o nosso próprio corpo. Imagine como isso poderia estender e melhorar a qualidade de vida em pessoas idosas?

No futuro, a combinação de engenharia de tecidos utilizando células tronco e impressão 3D poderão possibilitar esse cenário. Enquanto a construção de órgãos mais complexos parece distante, algumas empresas já tentam aprovação para soluções para pele e tecidos adiposos.

A empresa Cytori Therapeutics já está em fase estudos clínicos para técnicas de reconstrução de mama, por exemplo. No procedimento chamado de RESTORE-2, a gordura é retirada de várias áreas do corpo do paciente. As células do tecido são processadas e combinadas com a matriz celular para depois serem injetadas no local da mama retirada. O objetivo final é formar uma nova mama sem risco de rejeição.

Outro produto promissor é o da empresa RenovaCare, o Skin Gun. Trata-se de uma espécie de pistola de células-tronco para regeneração da pele após queimaduras graves. O objetivo é utilizar as células de pele do próprio paciente para que a ferida seja curada mais rápido. A cicatrização de feridas em pacientes idosos, normalmente muito lenta, poderia tornar-se mais eficiente com o auxílio desse produto, evitando, assim, complicações e infecções.

Claro que muitas dessas estratégias estão na fase de pesquisa e ainda vão passar por um longo caminho até serem aplicadas no nosso dia a dia. Mas será que com todas essas inovações a nossa expectativa média de vida chegará aos 100 anos em breve? Você conhece outras ferramentas desenvolvidas para o cuidado e bem-estar de nossos idosos?  Conta pra gente.

Texto revisado por Giovanna de Sá e Thaís Semprebom
REFERÊNCIAS:

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